Fila por transplante de córnea no RJ tem 2.800 pessoas

Para reduzir tempo de espera, estado treina profissionais de enfermagem. No Pará, hospital iniciará captação de córneas em janeiro de 2022

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Dados da Central Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro mostram que mais de 2.800 pessoas aguardam pela cirurgia de transplante de córnea para recuperar a visão. Para ajudar a reduzir a fila de espera por uma córnea no estado, o órgão fez uma parceria entre o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) e o Instituto de Treinamento em Cadáveres Frescos (ITC Rio) para ampliar o número de profissionais de enfermagem habilitados para realizar o procedimento.

A iniciativa, que acontece nesta quinta-feira (16). “Esse curso é um importante passo para ampliar e aprimorar a captação de córnea no Estado do Rio de Janeiro. A redução da fila de espera por uma córnea no estado é urgente e uma política primordial da Secretaria de Estado de Saúde”, diz o coordenador do Programa Estadual de Transplantes do estado, Alexandre Cauduro.

“Foi neste cenário que surgiu a necessidade de formar mais profissionais para atuarem na captação de córneas. Ampliar o número de equipes para realizarem este processo é fundamental para conseguirmos atender a demanda de todo o estado”, explica o chefe do Banco de Tecidos do INTO, Rafael Prinz.

Ao todo, oito enfermeiros vinculados à Central irão participar do curso de enucleação do globo ocular, que já teve duas etapas realizadas: a parte teórica e a parte de habilidades práticas, que consistiu no treinamento e avaliação da paramentação, escovação, montagem da mesa cirúrgica e manipulação de instrumentação específica.

Para completar a formação será realizada a prática in loco, ou seja, um treinamento realístico feito em parceria com o ITC Rio, que está disponibilizando gratuitamente o espaço e as peças a serem utilizadas nas atividades. A utilização de cadáver fresco – que não foi submetido a nenhuma substância química para sua preservação – garante a integridade dos tecidos e sua qualidade, o que o torna semelhante ao corpo de uma pessoa viva.

Segundo Prinz, essa aproximação com a realidade amplia a formação do profissional para além da técnica, do ritual cirúrgico em si. “É um processo que também pode ser realizado em animais, geralmente em cabeças de porcos. Mas existe um ganho maior quando a técnica é realizada da maneira mais realística possível: visualizar o rosto de um ser humano enquanto realiza o procedimento faz com que o profissional em treinamento seja psicológica e emocionalmente capacitado para lidar futuramente com a enucleação de um doador real.

Passo a passo da captação

Os profissionais serão capacitados desde a retirada total do globo ocular até a fase final do transporte. Os oftalmologistas e responsáveis técnicos pelo banco de córnea do Into, Victor Roisman e Gustavo Bonfadini, estão entre os profissionais que irão ministrar o curso.

Roisman explica que a captação é uma cirurgia como qualquer outra e exige atenção à conservação do globo e à técnica em si. “O cuidado com a assepsia, a limpeza, a paramentação e a preservação do tecido também são essenciais”, destaca o oftalmologista.

Depois da enucleação, as equipes serão treinadas para a reconstrução do corpo. Para Rafael Prinz, essa etapa também é fundamental pois o mito de que a doação pode desfigurar a aparência do doador ainda é predominante e, por isso, é importante que os profissionais envolvidos na captação realizem a reconstrução da maneira mais anatômica possível.

O acondicionamento do tecido ocular em temperatura adequada e o transporte do material coletado estão entre as etapas finais do processo.

Hospital do Pará iniciará captação de córneas 

Serviço começa em janeiro de 2022; atualmente mais de 1,1 mil pessoas aguardam por uma córnea no Pará

O Hospital Regional do Sudeste do Pará – Dr. Geraldo Veloso (HRSP) em Marabá, realizará, a partir de janeiro de 2022, a captação de córneas para transplantes. Segundo a Central Estadual de Transplantes da Secretaria Estadual de Saúde do Pará (Sespa), mais de 1,1 mil pessoas aguardam por uma córnea no estado. O órgão aponta a falta de informação como uma das principais barreiras para a doação dos tecidos oculares.

No Regional, a iniciativa é coordenada pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), que possui uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros e outros profissionais da assistência, que atuarão na identificação de potenciais doadores e na efetivação das doações.

De acordo com Delyo dos Santos, enfermeiro enucleador (profissional especializado para captação do globo ocular) e membro da CIHDOTT, a unidade está preparada com toda estrutura necessária para realizar a captura das córneas com êxito.

“É uma grande conquista e avanço para o HRSP que, por meio da captação das córneas, irá oportunizar uma melhor qualidade de vida às pessoas que sofrem com problemas de visão e possuem indicação médica para o transplante”, ressalta o enfermeiro, que foi capacitado e cadastrado pela Central Estadual de Transplante do Pará.

Quem pode doar a córnea

O profissional ainda destaca que qualquer pessoa na faixa etária entre 2 e 70 anos, que vier a óbito na unidade e não tiver nenhuma restrição clínica, poderá ser doadora de tecido ocular, após consentimento da família.  A assistente social Valdejane Barros observa que a unidade possui uma equipe psicossocial, que irá prestar todo apoio e acompanhamento psicológico às famílias que autorizarem a doação de córneas.

“Doar é um ato de generosidade e de amor ao próximo. Em meio a perda de um ente querido, surge também a solidariedade e a esperança, que por meio da doação leva dignidade e futuro para muitas pessoas”, ressalta Valdejane. A especialista lembra ainda que aqueles que possuem o desejo de ser doador devem manifestar sua vontade ainda em vida aos seus familiares.

Os órgãos doados na unidade serão enviados por transporte aéreo para o Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém, sede do Banco de Olhos Estadual. O órgão é responsável pela preservação e avaliação dos tecidos oculares.

O transplante de córnea é o procedimento cirúrgico que permite a substituição total ou parcial da parede anterior do olho, diante de doenças que atingem o tecido ocular e levam à cegueira. O transplante é indicado para corrigir doenças que afetam a estrutura da córnea como o ceratocone, principal indicação de transplante na população jovem paraense.

Já na população idosa, geralmente ocorre em razão da alteração ocasionada por uma complicação de cirurgia de catarata (ceratopatia bolhosa), ou por doença ocular que pode levar à perda parcial da visão (distrofia de Fuchs).

O Hospital Regional do Sudeste do Pará é referência para mais de um milhão de pessoas de 22 municípios da região. A unidade, que pertence ao Governo do Pará, sendo gerenciada pela entidade filantrópica Pró-Saúde, presta atendimento 100% gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Com Assessorias

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