Durante a última década, estudos apontaram que os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) – ou simplesmente cigarros eletrônicos – podem ser mais perigosos que os tradicionais. Afinal, fumar um cigarro eletrônico equivale a tragar 20 cigarros tradicionais. Além disso, os DEFs, não biodegradáveis, são potencialmente uma ameaça ambiental mais séria do que as pontas de cigarro, por conterem baterias, substâncias químicas, embalagens metálicas e outras, e requererem um descarte especial.
Com o tema “Tabaco: uma ameaça ao meio ambiente”, a campanha pelo Dia Mundial sem Tabaco (31 de maio) deste ano tem o objetivo de alertar e informar a população sobre os danos causados ao meio ambiente em razão do cultivo, da produção, da divulgação, do estímulo ao consumo, do uso e do descarte inadequado de resíduos gerados pelos produtos à base de tabaco.
Estima-se que 1,5 bilhão de hectares de florestas (principalmente tropicais) foram perdidas em todo o mundo desde a década de 1970 devido ao tabaco, contribuindo para até 20% do aumento anual dos gases de efeito estufa. Aproximadamente 200 mil hectares de terra, ou um terço de toda a Floresta Amazônica, são desmatados anualmente para o cultivo do tabaco, e a madeira é queimada para a cura das folhas após a colheita:
Atualmente, há um fator relevante e ainda pouco estudado referente ao impacto gerado, tanto na saúde da população quanto no meio ambiente, pelos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs).
“Os DEFs, semelhantes a um pen drive, têm uma concentração muito maior de nicotina do que os cigarros convencionais. A quantidade de nicotina desses dispositivos provoca menor irritação ao inalar o vapor e isso faz com que a pessoa use aquilo várias vezes por dia, causando dependência muito maior”, explica Ricardo Meirelles, pneumologista do Instituto Estadual de Doenças do Tórax Ary Parreiras (Ietap) e presidente em exercício da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira (AMB).
O especialista alerta que o hábito de fumar é fator de risco para o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, além de estar relacionado a outras doenças. “O tabagismo é um fator importante de risco para doenças respiratórias e cardiovasculares, para o desenvolvimento de tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras doenças”.
“Além de matar mais de 8 milhões de pessoas todos os anos, os produtos relacionados ao fumo destroem o meio ambiente e a saúde humana. A responsabilidade dessa indústria vai muito além do consumo dos produtos. Gera doenças, morte e danos ao meio ambiente, ao solo, às florestas e mares”, afirma Samir Feruti Sleiman, responsável pela Equipe Técnica de Controle de Tabagismo da Divisão de Doenças e Agravos Não Transmissíveis da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.
AMB e 45 entidades médicas divulgaram posicionamento
Mesmo proibidos desde 2009, os cigarros eletrônicos estão à venda no comércio e a AMB estima que 650 mil pessoas fumem com dispositivos eletrônicos, a maioria jovens. O problema dos DEFs não está somente na nicotina e nas outras substâncias tóxicas do fumo, alertam os especialistas.
A bateria e a resistência do cigarro eletrônico usadas para formar o vapor também podem soltar metais que acabam inalados pelo fumante, aumentando o risco de câncer. Além disso, pesquisas internacionais apontam que o descarte dos dispositivos eletrônicos promove poluição terrestre, costeira e aquática.
“Além da febre do consumo, os cigarros eletrônicos têm resíduos, quando descartados, que são dificilmente biodegradados, mesmo sob condições severas, e contêm substâncias perigosas, como chumbo e mercúrio. Baterias de íons de lítio em dispositivos eletrônicos para fumar explodem e causam incêndios”, acrescenta Samir.
Segundo estudos recentes, em 2018, os americanos geraram 2,7 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos, incluindo resíduos de cigarros eletrônicos, que acabaram em aterros sanitários ou incineradores, sendo essa eliminação um problema crescente.
Cartuchos de cigarro eletrônico — como cápsulas de nicotina e/ou essências — em sua maioria são produtos de uso único que contêm resíduos plásticos, eletrônicos e químicos. Muitos deles se tornarão resíduos, produzindo lixo. Os resíduos de cigarros e cigarros eletrônicos podem poluir o solo, as praias e os cursos de água, sendo prejudiciais inclusive à vida selvagem.
“Cuidar do meio ambiente é cuidar da saúde. E a proteção ao meio ambiente é mais um motivo para parar de fumar. Ao não fumar, estamos cuidando da nossa saúde e da saúde do planeta”, reforça Samir.