Hepatites virais: apenas 5% dos pacientes sabem que são portadores

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hepatite

A escritora mineira Janette Alvim Soares descobriu-se vivendo com HIV em 1996, quando também soube que estava coinfectada com a hepatite C. Em setembro de 2016, submeteu-se ao tratamento disponível no SUS e, já em maio de 2017, recebeu o resultado com a sua cura da hepatite C. “Faço uma apelo aos portadores de Hepatite C que procurem o tratamento. Conviver com esta doença é difícil, mas tratar é muito fácil. Basta procurar atendimento do SUS”, aconselhou.

Janette faz parte de uma estatística alarmante, que acende o sinal vermelho na saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS),estima que mais de 400 milhões de pessoas no mundo estão infectadas pelos vírus da hepatite e apenas 5% delas sabem que são portadoras. Por aqui, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) estima que haja dois milhões de pessoas portadoras da enfermidade.

Existem seis tipos de hepatites: A, B, C, D, E e G. Cada uma delas é provocada por um tipo de vírus e possui formas diferentes de prevenção e tratamento. Os primeiros quatro tipos são os mais comuns, mas as hepatites B e C são consideradas as mais prevalentes e perigosas. Em 2016, o Brasil registrou 42.830 casos de hepatites virais. As mais prevalentes e m e fonte de preocupação para os órgãos responsáveis devido ao seu poder de cronificação e consequente evolução para cirrose e tumor no fígado, e a hepatite A, que vem apresentando aumento significativo de casos, desde o início de 2017, inclusive com modo de transmissão sexual.

Julho foi adotado pelo Ministério da Saúde o mês de luta e prevenção das hepatites virais.  A cor amarela foi escolhida pois é o tom em que geralmente os olhos dos infectados ficam quando a doença se manifesta, no fígado. A campanha reforça  que, em caso positivo para a hepatite C, deve-se iniciar o tratamento, conforme os danos causados no fígado. “O objetivo dessa campanha é ampliar o número de testagens e pacientes diagnosticados. Assim, conseguiremos tratar ainda mais pessoas e eliminar a sombra da hepatite do Brasil”, reforçou a diretora do Departamento de IST, HIV/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken.

Hepatite C: governo quer zerar fila por tratamento

Todas as pessoas diagnosticadas com hepatite C, em grau avançado de comprometimento do fígado (F3 e F4), receberão o chamado “tratamento inovador” até o final do ano, zerando a fila dessa população que era contemplada pelo protocolo atual. Os medicamentos sofosbuvir, daclatasvir ou simeprevir, que apresentam cura de cerca de 90%, estarão disponíveis nas unidades básicas de saúde, conforme solicitado pelos estados.

Além disso, a partir de agora, outros públicos passam a ser tratados com esse esquema de medicamentos. Todos os 135 mil diagnosticados com hepatite C, independente do grau de comprometimento do fígado, serão atendidos. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (27/7) pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, na véspera do Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais (28 de julho).

O Ministério da Saúde, ainda, anunciou a incorporação de mais medicamentos, a combinação 3D (Ombitasvir, Paritaprevir, Ritonavir e Dasabuvir). As novas inclusões oferecem maiores possibilidades para o tratamento. Esses fármacos também possibilitam a cura superior a 90%.

Medicamento só com ação comprovada

Nos últimos dois anos, foram disponibilizados pelo SUS 57 mil tratamentos para hepatite C. Em um ano, foram entregues 42.366 tratamentos para a doença. O Ministério da Saúde também incorporou novas tecnologias. A combinação Ombitasvir, Paritaprevir, Ritonavir, Dasabuvir (3D), é mais uma opção terapêutica para pacientes com hepatite C. O tratamento deverá ser ofertado aos pacientes até o final deste ano.

A ampliação da oferta de tratamento para todos será possível devido à mudança na modalidade de compra do Ministério da Saúde. A pasta condicionará o pagamento à indústria farmacêutica do tratamento à comprovação da cura do paciente. O novo modelo tem como referência experiências de compras adotadas, por exemplo, na Austrália e em Portugal. A negociação é que, como aconteceu em outros países, o valor por tratamento caia de U$ 6,9 mil para U$ 3 mil, possibilitando a inclusão de até três vezes mais pessoas do que as atendidas atualmente no SUS.

O objetivo do Ministério é que todos os diagnosticados com hepatite C sejam tratados, independente do dano no fígado. O atendimento será feito conforme a gravidade da doença. O comprometimento do fígado varia de F0 a F4. A fila dos casos diagnosticados F3 e F4 acabará neste semestre. Até o primeiro semestre de 2018, os diagnosticados com F2 serão plenamente atendidos. Os demais serão contemplados integralmente no período de dois anos.

O sucesso do protagonismo do Brasil no enfrentamento às hepatites trouxe ao país um dos mais importantes eventos internacionais na área, a Cúpula Mundial de Hepatites, que vai acontecer em São Paulo, de 1º a 3 de novembro.

Testes gratuitos na Baixada

A partir das 9h desta sexta-feira, 28/7, Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais, serão oferecidos cerca de 400 testes, nos consultórios montados em dois caminhões de testagem rápida para detecção de Hepatites B e na Praça do Estudante, em Nilópolis, na Baixada Fluminense. A ação da Secretaria de Estado de Saúde encerra a semana de conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce e tratamento das doenças, realizada pelo Comitê Estadual de Hepatites Virais.

O exame é rápido e feito em uma pequena amostra de sangue da ponta do dedo. A pessoa não precisa fazer nenhum tipo de preparação prévia – como jejum, por exemplo – e nos casos em que o teste rápido apontar a presença do vírus, a pessoa será encaminhada para uma unidade de saúde onde serão feitos os testes confirmatórios e acompanhamento até a indicação do tratamento. Toda a medicação é disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde e garante uma alta taxa de cura, acima de 90% nos casos de hepatite C.

A ação ocorre em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, Fórum Social Brasileiro de Enfrentamento de Doenças Infecciosas e Negligenciadas e do Movimento de Reintegração de Pessoas atingidas pela Hanseníase (Morhan). Nos últimos dias, a testagem rápida esteve nos municípios de São Gonçalo e São João de Meriti. A estrutura da testagem rápida retornará a São Gonçalo nos dias 01 e 02 de agosto, na Praça de Alcântara, a partir das 9h.

Para o secretário de Estado de Saúde, Luiz Antonio Teixeira Jr, é essencial que a população compreenda a importância da prevenção da transmissão destas doenças e a necessidade de diagnóstico precoce. “Por serem doenças silenciosas, os sintomas só aparecem quando já existe o comprometimento hepático, como a cirrose hepática ou o câncer de fígado. É importante ressaltar que o diagnóstico precoce permite o tratamento e a cura, mas a melhor forma de combater as hepatites virais é a prevenção”, explica.

Nesta quinta-feira, dia 26 de julho, das 15h às 18h, a Associação Brasileira dos Portadores de Hepatite  promove, em parceria com a Concessionária Novo Rio,e apoio do Rotary, uma campanha contra a Hepatite C junto aos usuários e turistas que estiverem na Rodoviária Novo Rio. O objetivo é alertar a população sobre a doença. Haverá um mutirão de testes, no setor de embarque superior, para identificar possíveis portadores da infecção viral do tipo C que possam ser encaminhados para tratamento. Os testes serão gratuitos e feitos por enfermeiros voluntários em adultos maiores de 40 anos. Após os resultados dos exames, que saem imediatamente, em caso de a pessoa ser portadora da doença, haverá um encaminhamento para tratamento especializado.

Mais números

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que as hepatites virais causaram 1,4 milhões de mortes em 2015, no mundo. A maioria delas está ligada à doença hepática crônica (720 mil mortes por cirrose) e câncer de fígado primário (470 mil) mortes devido à carcinoma hepatocelular). Cerca de 561.000 casos de hepatites virais foram confirmados de 1999 a 2016, incluindo as cinco variações da doença, sendo que, de 2000 a 2015, quase 50 mil óbitos foram registrados no Brasil. No ano passado, foram registrados no Brasil 2.541 óbitos provocados por hepatites virais, sendo que 79,8% (2.028) mortes relacionadas à hepatite C.

Foram notificados no ano passado 27.358 casos de hepatite C, o que representa 13,3 casos por 100 mil habitantes. O mesmo patamar de 2015, quando foram notificados 27.441 casos (13,4 casos por 100 mil habitantes). Foram 14.199 casos de hepatite B, o que equivale a uma taxa de detecção de 6,9 casos por 100 mil habitantes.

Entenda a doença

“Hepatite é uma inflamação do fígado, que pode ser causada por vírus ou bactéria, ou uso excessivo de medicamentos, álcool e outras drogas, além de doenças autoimunes, metabólicas e genéticas”, explica o gastroenterologista do Seconci-SP, Moacir Augusto Dias. O vírus é eliminado nas fezes de pessoas infectadas e é transmitido através da via fecal-oral, principalmente através de água contaminada. As hepatites virais são doenças silenciosas e muitas vezes só são diagnosticadas quando o quadro do paciente já está muito avançado, com grave comprometimento do fígado – como na cirrose hepática e no câncer de fígado – podendo levar o paciente à morte.

A Hepatite C é uma doença viral que leva à inflamação do fígado, sendo considerada a pior entre os três níveis da doença. É causada pelo vírus C, com transmissão ocorrendo por meio do contato com sangue contaminado, seja por transfusão, acidentes com material contaminado, no caso de trabalhadores na área da saúde, ou por meio de drogas injetáveis. Ariane Melaré Ramos dos Santos, infectologista do Hospital Sepaco, faz um alerta à população sobre a importância do diagnóstico precoce, para tratamento rápido e para evitar as complicações da cronificação da doença.

Enquanto nos casos da A e E a transmissão se dá por meio fecal-oral – principalmente em locais onde a higiene básica é precária e pode acontecer a ingestão de água ou alimentos contaminados –, nos grupos de B, C e D o contágio acontece através de relação sexual desprotegida ou pelo compartilhamento de objetos de uso pessoal contaminados, como lâminas de barbear, equipamentos de manicure, agulhas, seringas, equipamentos de tatuagem e piercing, além de agulhas de acupuntura.

“Após a contaminação, o vírus passa por quatro estágios dentro do corpo humano: ‘incubação’, ‘prodrômico’, ‘de estado’ e ‘crônico’. Os sinais mais severos, como a urina cor de Coca-Cola, por exemplo, só aparecem na terceira fase. Por isso, é muito comum que sejam confundidos, nos dois estágios iniciais, com sinais de virose, razão pela qual é importante que o paciente evite a automedicação e procure o médico para que seja efetuado o correto diagnóstico”, ressalta o médico.

Evolução silenciosa

O especialista explica ainda que no caso da hepatite C, muitas vezes, o diagnóstico é um achado laboratorial, pois a doença pode evoluir silenciosamente e ser descoberta num exame de rotina. “Quando o trabalhador procura o Seconci-SP com sintomas da doença, além da avaliação clínica, ele também é encaminhado para a realização da Sorologia, que permite identificar a presença dos demais tipos de hepatite viral. Em caso de resultado positivo para qualquer um deles, são iniciados os procedimentos para o tratamento. Isso faz todo a diferença porque pode evitar que o paciente desenvolva uma cirrose hepática e até mesmo um câncer no fígado”, comenta o gastroenterologista.

O tratamento das hepatites virais, quando descobertas no início, é realizado por meio de repouso absoluto, boa alimentação e hidratação. Quando a doença está em um estágio mais avançado, dependendo da hepatite, é necessário o uso de medicamento. Contudo, isso é avaliado caso a caso pelo médico.

Sintomas

Os sintomas são semelhantes em todos eles e compreendem mal-estar, dor abdominal (principalmente no lado direito do abdômen), febre, dor de cabeça, cansaço, vômitos, pele e olhos amarelados (icterícia), coceira pelo corpo, urina escura e fezes claras.O surgimento de sintomas em pessoas com hepatite C aguda é muito raro. Apesar de assintomática, em alguns casos agudos, as hepatites B e C podem causar cansaço, tontura, enjoo e/ou vômito, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. Nestes casos o paciente deve procurar uma unidade de saúde e se submeter a exame de sangue, para confirmar a hepatite.

“Os sintomas mais frequentes são os das hepatites agudas, que podem ser: cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. “No entanto, por ser uma doença silenciosa quando crônica é importante consultar um médico regularmente e fazer o teste”, alerta Ariane.

  • Discreta febre

  • Náuseas

  • Icterícia

  • Perda de apetite

  • Vômito

  • Erupção cutânea

  • Possíveis dores abdominais e nas articulações

  • Urina escura

  • Leve aumento do fígado

Formas de transmissão

Ariane explica que as vias de transmissão das hepatites B e C são por sangue (compartilhamento ou acidentes com seringas, materiais de manicure compartilhados e não esterilizados, escovas de dente compartilhadas, materiais cirúrgicos não esterilizados, materiais para tatuagem não esterilizados, lâminas de barbear, durante a gravidez, parto e amamentação e por relação sexual desprotegida). Nos casos de hepatite A, a transmissão acontece por via fecal-oral e sexual (oral-anal).

A coordenadora estadual de Hepatites Virais da SES, Clarice Gdalevici, a Hepatite B pode ser transmitida pela via sexual e também por contato com sangue contaminado ou na gravidez/parto, nos casos de transmissão de mãe para fiho.  A vacina disponível no SUS teve sua cobertura ampliada no ano passado, é a melhor estratégia de prevenção contra a doença.

Já a Hepatite C é transmitida principalmente por meio do sangue contaminado, em transfusão de sangue e hemoderivados; sexo desprotegido e compartilhamento e compartilhamento de seringas ou objetos de uso pessoal em procedimentos que possam cortar ou perfurar a pele, tais como a colocação de piercings, tatuagens, na manicure, com alicates e tesouras. Não existe vacina contra a hepatite C, mas o tratamento é eficaz e disponível no SUS.

Diagnóstico

Para saber exatamente se possui o vírus, o indivíduo precisa procurar um médico e solicitar exames para um diagnóstico preciso. O diagnóstico inicial é feito por meio de exame de sangue para identificar anticorpos contra esses vírus. “Importante lembrar que as hepatites A e B são evitáveis por vacina e que todo profissional da saúde deve ser vacinado para hepatite B e confirmada a produção de anticorpos. A hepatite C não apresenta vacina até o momento, mas o tratamento precoce evita complicações e tem uma chance de cura aproximada de mais de 90%”, conclui Ariane.

Segundo Gustavo Janaudis, CEO da filial brasileira da Euroimmun, o teste para descobrir a existência do vírus é rápido e seguro, realizado através de uma simples amostra de sangue. Uma das frentes para o combate às hepatites é a oferta de testes rápidos no SUS. Em 2016, foram distribuídos 8,6 milhões de testes de hepatite B e C. Para 2017, a expectativa é que sejam encaminhados aos estados 12 milhões de testes.

Vacinação

A melhor forma de prevenção contra a hepatite B é a vacina, que já faz parte do calendário oficial para as crianças desde o nascimento e está disponível  nos postos de vacinação para todas as faixas etárias. São três doses (a segunda 30 dias depois da 1ª dose e a terceira 180 dias após a primeira dose). Vale ressaltar que apenas o esquema vacinal completo é eficaz para proteger a pessoa contra a hepatite B e que não existe vacina contra a hepatite C.

Prevenção

O gastroenterologista do Seconci-SP explica que formas simples de prevenir a doença são nunca compartilhar materiais como alicates de unhas e seringas; higienizar bem as mãos e lavar as frutas e legumes antes de consumir; ter uma rede de esgoto adequada aos padrões de higiene e não manter contato com águas de enchentes.

Hepatite E

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), há cerca de 20 milhões de casos de infecção pelo vírus do tipo E, produzindo 3,3 milhões de casos sintomáticos da doença e 56 mil mortes por ano. A hepatite E pode ser responsável pela hepatite crônica em pacientes imunocomprometidos e pode rapidamente evoluir para fibrose e\ou cirrose hepática. Alguns tipos não apresentam sintomas, mas existem alguns pontos que podem ser observados.

Como se proteger das hepatites virais

  1. Coloque em prática o sexo seguro: use camisinha. O caminho mais seguro de prevenir a transmissão sexual de uma doença é usar preservativo.
  2. Nunca compartilhe objetos que podem conter sangue, inclusive lâminas de barbear, alicates de unha ou escovas de dente, pois são objetos de uso exclusivamente pessoal.
  3. Ao fazer tatuagem ou piercing, exija material esterilizado corretamente.
  4. Em caso de transfusão de sangue, assegure-se quanto à origem do produto hemoterápico e se foram realizados todos os testes sorológicos exigidos.
  5. Faça o teste de hepatite durante o pré-natal. O diagnóstico precoce possibilita prevenção e o tratamento do bebê, no caso da hepatite B, logo após o parto.

Os dados fazem parte do novo Boletim Epidemiológico de Hepatites, que pode ser acessado no site indicadoreshepatites.aids.gov.br. Na plataforma, é possível, pela primeira vez, acompanhar dados das hepatites de cada município de Brasil, com recortes de raça, cor, sexo, idade.

Fonte: Ministério da Saúde, SMS-RJ.Seconci-SP, EuroImmun e Novo Rio

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