Isolamento social aumenta o risco de dependência digital: saiba como se livrar

Psicanalista alerta para que uso ostensivo das mídias não se torne uma doença e se associe a outros distúrbios psíquicos nocivos

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Por Andréa Ladislau*

Os últimos tempos apontam novos modelos e novas formas de utilização da tecnologia e das redes virtuais. A internet teve seus acessos intensificados e mostra-se cada vez mais indispensável na vida das pessoas. Atualizando notícias, apresentando atividades de entretenimento, aproximando pessoas e ampliando o afeto virtual, onde o físico precisou ser reinventado. É a tecnologia dominando o cotidiano e trazendo impactos positivos e negativos para os seus usuários.
A mudança no perfil de consumo está diretamente associada ao fato de que, por conta do isolamento, os hábitos foram totalmente transformados. A modalidade home office está sendo amplamente utilizada por diversas empresas e demonstra que veio para ficar. A utilização de aplicativos de abastecimento por delivery também cresceu assustadoramente.
A aula online hoje já é uma realidade para muitas crianças, jovens e adultos. Além de vídeo chamadas, lives e inúmeras plataformas que já existiam, mas que adquiriram um status de ferramentas habituais e corriqueiras, fazendo parte do dia a dia de um número muito maior de pessoas.
Do ponto de vista psicológico, destaco a precaução com essa dependência tecnológica como sendo um fator de alerta para que a utilização das mídias não se torne uma doença e se associe a outros distúrbios psíquicos nocivos ao ser humano. Quando o consumo de tecnologia atende às necessidades profissionais ou do entretenimento e lazer – sem substituir prazeres simples como a interação familiar, sem descuidar do trabalho ou dos estudos, sem conflito com os relacionamentos pessoais -, não há o risco de uma dependência cibernética.
No entanto, devemos ficar atentos a tudo que foge do controle.  Se o pouco tempo em que não se está conectado vem a sensação de vazio, dor, sofrimento e angústia, devemos acionar o botão vermelho, pois algo pode estar errado. Sofrer pela abstinência e demonstrar desconforto diante da impossibilidade de uso das redes, pode ser um sinal de que o indivíduo está criando amarrações mentais e psicológicas em relação ao consumo desta tecnologia.
O consumidor tecnológico compulsivo acha sem graça a vida sem a internet. Se irrita quando o acesso é restrito. Perde horas de sono conectado e até deixa de se alimentar ou se alimenta mal – com o rosto colado às telas e teclando -, o que impossibilita uma mastigação correta e pausada, sem apreciar o sabor dos alimentos, uma vez que a atenção não está voltada para a refeição. E só de imaginar que pode estar perdendo as atualizações das redes, já demonstra mal-estar ao sentir-se excluído.
Que fique claro que o mundo tecnológico também nos apresentou muitas vantagens: aproxima as pessoas em qualquer lugar do mundo; fornece a informação atualizada sobre o que está acontecendo em todos os continentes; permite a realização de trabalhos em casa, perto da família, no conforto do lar, com segurança e proteção, sem enfrentar horas de trânsito; traz comodidade e nos transporta a um mundo de infinitas possibilidades.
No entanto, temos a inversão destes valores quando o excesso é implantado, tornando urgente a adaptação do uso dessas ferramentas. Essa relação deve ser repensada, pois substituir o afeto de quem está próximo, deixar de fazer atividades diárias (algumas necessárias até para a higiene), deixar de alimentar o corpo e a alma com atitudes benéficas, dormir apenas duas ou três horas por noite (ou até menos), com certeza não são hábitos saudáveis – e o seu organismo vai reagir a isso de uma forma nada agradável, trazendo sérios riscos para sua saúde.

Problemas físicos e mentais causados pela dependência digital

A dependência tecnológica pode estar de mãos dadas com sintomas de ansiedade, baixa autoestima, depressão, fobias sociais, solidão e pânico. Além da taquicardia, dos tremores e da xerostomia (famosa boca seca), sintomas físicos desenvolvidos por usuários compulsivos das redes. E em uma escala associativa, destaco também os problemas posturais, visuais, as lesões repetitivas, insônia, obesidade e as dores musculares.
  • Portanto, a utilização da tecnologia com responsabilidade é imprescindível para evitar o rótulo do uso compulsório.
  • Controle seus horários e perceba se está sendo afetado pela perda de interesse por interações sociais.
  • Busque fazer um “detox digital”, ficando horas e até dias sem utilizar celulares, tabletes, computadores ou qualquer tipo de aparelho que possibilite a conexão.
  • Contribua para a manutenção da sua saúde mental e do corpo. Encontre seu equilíbrio em atividades simples como a leitura de um livro, ouvindo uma música, colocando no papel suas emoções e promovendo seu autoconhecimento.
  • Cuide de você e tire o dia para relaxar, sem o auxílio da internet. Sim, isso é possível.
  • Alimente o simples e resgate o que há de melhor em si mesmo, promovendo sua capacidade de interagir, sonhar e realizar.
  • Sem a intoxicação digital que nos expõe a potencialização de sentimentos e ações nada saudáveis.
  • Enfim, se todo excesso esconde uma falta, faça uma reflexão e descubra se o seu excesso tecnológico camufla a fuga de uma realidade e a busca de opções externas desnecessárias para alimentar um vazio interior.
  • Utilize a internet a seu favor, usando somente o necessário, e não se torne um zumbi cibernético acometido por diversos transtornos físicos e psíquicos.
Andréa Ladislau é psicanalista, doutora em Psicanálise
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