Jornalista, cantor lírico, ator, cadeirante e… paralisado cerebral

Cassiano, o Cacá, tem 29 anos e agora protagoniza musical que trata de temas como preconceito (Foto: Fabrício Mota)
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Cassiano, o Cacá, tem 29 anos e agora protagoniza musical que trata de temas como preconceito (Foto: Fabrício Mota)
Cassiano, o Cacá, tem 29 anos e agora protagoniza musical que trata de temas como preconceito (Foto: Fabrício Mota)

O vídeo de um menino de apenas seis anos com paralisia cerebral, entrando na igreja com apoio de um andador, como pajem de um casamento, emocionou muitas pessoas nas redes sociais no último fim de semana. Ele é paciente da noiva, a fisioterapeuta Eduarda Borghezan, de Santa Catarina. Foi ela quem o ajudou a andar.

No Rio de Janeiro, outro paralisado cerebral vem atraindo as atenções e emocionando as pessoas com sua história de vida. O jornalista Cassiano Fernandez, o Cacá, de 29 anos, é estudante de canto lírico e dá palestras em eventos sobre pedagogia inclusiva. E agora também brilha nos palcos do teatro como protagonista da peça ‘Paradinha Cerebral’, ao lado de Mirna Rubim, sua professora de canto lírico.

Em cartaz desde 20 de junho no Teatro 2 do Fashion Mall, o espetáculo aborda a rotina de jovem com paralisia cerebral, com objetivo de quebrar preconceitos e transformar esta condição em um mero detalhe. Durante a apresentação, os atores falam de maneira aberta e descontraída sobre temas como preconceito, trabalho, sexo, inclusão e relacionamento entre as pessoas.

Na peça, Cacá vive ele mesmo, como convidado para uma entrevista ao programa Show da Madá. A  apresentadora Maria Madalena (interpretada pela cantora lírica e preparadora vocal Mirna Rubim), tem que encarar seu sonho frustrado de ser cantora e Cacá lhe dará lições ácidas e divertidas. O encontro com o convidado sem neuroses e com humor peculiar é regado com muita música, rivalidade e recalque.

A peça faz parte do Circuito Cultural Cidade Olímpica, e a temporada, patrocinada pela Secretaria Municipal de Cultura, acontece às quartas e quintas-feiras, às 21h30, até o dia 29 de setembro. O espetáculo terá acessibilidade para pessoas com deficiência visual e auditiva (audiodescrição e interpretação em Libras) nos dias 25 de agosto e 15 de setembro.

De acordo com a Associação Brasileira de Paralisia Cerebral (ABPC), o termo, na verdade, engloba manifestações clínicas muito variadas, que têm em comum a dificuldade motora em consequência a uma lesão cerebral.  As manifestações clínicas da PC são muito variáveis de criança para criança, pois dependem da gravidade e extensão da lesão e da área neurológica comprometida.

Além do distúrbio motor, outros sintomas neurológicos podem ou não estar presentes, entre eles: crises convulsivas, dificuldades visuais, dificuldades de fala, problemas para alimentação e função respiratória, deficiências auditiva e mental, entre outros.

Mas a paralisia cerebral nunca imobilizou o jovem Cacá, que leva uma vida bastante produtiva. Apaixonado por ópera, ele idealizou e administra a página Código da Ópera, no Facebook. Também foi editor da coluna sobre ópera do informativo quinzenal do Instituto Brasileiro de Defesa da Pessoa com Deficiência.

Menino que tem paralisia cerebral emocionou a todos ao entrar em igreja como pajem da noiva, sua fisioterapeuta (Foto: Divulgação)
Menino que tem paralisia cerebral emocionou a todos ao entrar em igreja como pajem da noiva, sua fisioterapeuta (Foto: Divulgação)

Confira o relato de Cassiano Fernandez ao Blog Vida & Ação:

“Desde criança sempre fui um fã de telenovelas. Tenho predileção pelos vilões que sempre eram dramáticos, irônicos, engraçados, cruéis e sobretudo elegantes. Gostava dos textos que eram escritos para eles. Admirava os personagens e os atores que os interpretava. Sempre grandes atores e nunca iniciantes.

Devido a minha imensa capacidade de decorar, decorava os textos e interpretava a minha maneira. Quase junto com esse gosto pelas telenovelas veio o gosto pela ópera e o interesse pelo canto lírico. Comecei a ter contato com a ópera aos 5 anos e com o passar da idade aprofundei meus conhecimentos e comecei a estudar. Sempre me consideraram uma pessoa muito comunicativa e por isso nunca me furtei de subir ao palco e cantar.

Foi então que pela primeira vez me vi diante de um convite para novamente subir ao palco, dessa vez não só para cantar mas para interpretar um protagonista de uma peça de teatro. Ao mesmo tempo eu estava abrindo um precedente. Me tornava ator da noite para o dia e subia ao palco para me auto interpretar.

Acredito que nenhum ator antes de mim tenha passado por essa experiência tão impar. Acredito ferozmente que um projeto como este estar na cena cultural carioca pode significar uma abertura da sociedade para a realidade daqueles que possuem algum tipo de deficiência.

Acredito que a principal razão pela qual eu tenha sido convidado para esse trabalho se deva ao fato de eu ser completamente em paz com a minha condição e tratá-la de maneira completamente inusitada, às vezes fazendo troça dela.

Me sinto imensamente orgulhoso por ser pioneiro num projeto como esse, tão inovador. Espero que isso dê força para que outras pessoas corram atrás de seu sonho e conquistem seu espaço.”

Cassiano Fernandez é jornalista, cantor lírico, cadeirante e paralisado cerebral.

 

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