Pacientes de tuberculose correm mais risco com coronavírus

Especialista alerta que pessoas com a doença podem estar mais suscetíveis a adquirir a Covid-19 em sua forma mais grave, levando a óbito

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Tosse persistente por mais de três semanas, febre baixa e vespertina, cansaço excessivo e prostração são alguns dos principais sintomas da tuberculose, que afeta principalmente os pulmões, mas também pode acometer demais órgãos. A doença infectocontagiosa está entre as 10 principais causas de morte no mundo: são 10 milhões de casos por ano e mais de 1 milhão de óbitos. No Brasil, em 2019, foram registrados 73.864 mil casos novos, segundo dados do Boletim Epidemiológico de Tuberculose 2020 Epidemiológico de Tuberculose 2020, divulgado nesta terça-feira (24), Dia Mundial de Combate à Tuberculose.

Um dos problemas de saúde pública em todo o mundo, a tuberculose ainda é uma das principais causas de morte em pessoas vivendo com HIV. Em tempos de coronavírus, uma preocupação é com os pacientes de tuberculose. Apesar da ausência de dados de análises clínicas que garantam que o paciente portador de tuberculose pulmonar tenha um risco maior caso contraia o novo coronavírus, Rafael Malta, infectologista na Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, alerta:

Ao pensar no Covid-19, é natural imaginar o presente, observando justamente os principais grupos de risco com chance de, além de apresentarem a doença de forma grave, que ela consiga evoluir para o óbito. Os pacientes com tuberculose pulmonar se tornam uma preocupação por diversos motivos que precisam de atenção. Se extrapolarmos para estes pacientes os conhecimentos que já temos a respeito da doença, entendemos sim, que estes pacientes estão em risco, diante do grau de comprometimento pulmonar causado pela tuberculose no momento do diagnóstico”, afirma.

Seguindo este raciocínio, e em posse de dados que atestem a situação dos pacientes com tuberculose no Brasil, eles em grande parte estão inseridos em um contexto de vulnerabilidade social, bem como portadores de outras comorbidades, como, por exemplo, o HIV. “Podemos entender que, diante da acentuada disseminação do coronavírus, é possível que muitos dos pacientes não diagnosticados permaneçam sem o devido diagnóstico e terapêutica adequada, aumentado as chances de contaminação dos seus familiares e pessoas com quem possui convívio social, além de possível óbito causado pela doença”, ressalta.

De acordo com o especialista, os que já possuem diagnóstico de tuberculose, diante da fragilidade social e medidas adotadas para controle do Covid-19, podem perder o seguimento adequado e, por questões diversas, descontinuar o tratamento medicamentoso, contribuindo para recrudescência da fase transmissível da tuberculose. Há ainda, o grupo que não possui diagnóstico, mas mantem atividades sociais, sejam laborais ou recreativas, aumentado a chance de contrair o coronavírus e então evoluir de forma grave pelo comprometimento pulmonar causado pela tuberculose – ainda não elucidada.

Diante deste fato, é de suma importância o fortalecimento dos serviços de referência de seguimento e tratamento de tuberculose, assim como das UBSs (Unidades Básicas de Saúde), para que um planejamento que não desintegre o fluxo seja estabelecido, e desta forma, não permita que o passado, ao se encontrar com o presente, colapse o futuro”, ressalta o infectologista.

Um em cada 10 doentes abandona o tratamento

A nova pesquisa do Ministério da Saúde aponta queda no número de casos novos da doença em 2019 na comparação com 2018, quando foram registrados 75.717 novos casos de tuberculose. Apesar disso, nos últimos cinco anos, o número de casos da doença no país aumentou 6%, passando de 69.802, em 2015, para 73.864, em 2019. Atualmente, o país ocupa o 20º lugar em relação à taxa de incidência da doença mundialmente. No ano passado, foram registrados 1.271 casos da doença entre crianças na faixa etária até 10 anos.

Apesar de ter cura, o abandono do tratamento é o principal motivo para a tuberculose ainda continuar fazendo vítimas fatais. Apesar da redução de 8% no número de óbitos na última década (4.881 óbitos em 2008), em 2018, 4.490 pessoas morreram no país. O tratamento oferecido no Sistema Único de Saúde (SUS) dura, em média, seis meses. Apesar da melhora dos sintomas já nas primeiras semanas após início, a cura só é garantida ao final da terapia.

No Brasil, de cada 10 pessoas que iniciam o tratamento, pelo menos uma abandona o uso dos medicamentos. O esquema básico consiste na administração de medicamentos em doses combinadas fixas, ou seja, 4 em 1 (rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol) durante dois meses, seguida de 2 medicamentos em 1 (rifampicina e isoniazida) durante quatro meses.

Com números tão expressivos, o Dia Mundial do Combate à Tuberculose, comemorado em 24 de março, foi escolhido para a conscientização da população sobre a enfermidade, que, no século passado, era discriminada e levava os infectados à reclusão da sociedade. Apesar de a doença possuir tratamento e cura, sua taxa de incidência permanece alta entre populações de baixa renda.

Para reforçar a importância de continuar o tratamento até o fim, o Ministério da Saúde inicia uma ação na Internet e outdoor social direcionada a pessoas com tuberculose. Isso porque a interrupção do tratamento antes da conclusão pode levar o paciente à resistência aos antibióticos ou mesmo a complicações que podem resultar em morte. Além disso, pode aumentar o risco de transmissão da doença para outras pessoas, por meio do espirro, tosse ou fala.

“A tuberculose, como toda doença infecciosa de longa duração, também pode alterar a imunidade da pessoa e, por isso, torná-la mais suscetível ao desenvolvimento de outras doenças, inclusive ao coronavírus. Por isso, é preciso redobrar os cuidados, evitar sair de casa, sempre higienizar bem as mãos, não tocar no rosto, nariz e boca e fazer o máximo possível para não estar em ambientes com aglomeração”, destaca Denise Arakaki,  coordenadora-geral de Vigilância das Doenças de Transmissão Respiratória de Condições Crônicas do Ministério da Saúde.

A orientação do MS é que as unidades de saúde continuem assistindo as pessoas com tuberculose, mas que desenvolvam estratégias para evitar que esses pacientes se exponham desnecessariamente, principalmente em ambientes com concentração de pessoas ou locais com circulação comprovada do coronavírus.

Nós estamos alertando os serviços de saúde para que mantenham todo o cuidado necessário com os pacientes em tratamento de tuberculose usando chamadas por telefone, vídeo, mantendo diálogo permanente e acompanhamento o tratamento e evolução do quadro clínico dos pacientes. Vamos estar juntos, ainda que distantes fisicamente, mas sempre presentes”, reforçou Arakaki.

Moradores de rua têm 56 vezes mais chances de ter tuberculose

tuberculose é uma doença milenar, com identificação do seu causador, a bactéria Mycobacterium tuberculosis, em ossos humanos do período Neolítico, mas, que ainda hoje, e principalmente no Brasil, continua presente e ativa. De acordo com Rafael Malta, por ser uma doença negligenciada, devido sua evolução lenta e comportamento progressivo, em muitas ocasiões, possui o diagnóstico tardio, sem perspectivas terapêuticas positivas nesta fase”, explica o especialista.

De acordo com a médica pneumologista Marice Ashidani, do Seconci-SP (Serviço Social da Construção Civil), a condição socioeconômica é um fator importante para a ocorrência da doença. Pessoas com pouco acesso ao sistema de saúde e em situação de vulnerabilidade e baixa imunidade estão mais suscetíveis.

Moradores de rua apresentam 56 vezes mais chances de desenvolver a doença, na frente dos portadores de HIV e da população carcerária (28 vezes). Pacientes diabéticos e alcoólatras também estão no grupo de risco”, completa.

A transmissão da tuberculose é feita de pessoa para pessoa pelo ar por meio do bacilo de Koch que pode estar presente na tosse e no espirro, em ambientes fechados por algumas horas.

É preciso desmistificar que a tuberculose se propaga por beijo, compartilhamento de copos, talheres ou por relação sexual”, reforça a médica.

A pneumologista alerta também que nem todas as pessoas que entraram em contato com o bacilo irão adoecer. “Na maior parte das vezes, o próprio organismo resiste. Cerca de apenas 10% dos infectados com sistema imunológico normal desenvolverão a doença”.

Como o bacilo tem desenvolvimento lento, em alguns casos, mesmo que o corpo apresente resistência no momento da transmissão, a bactéria instala-se e o adoecimento pode começar a dar indícios anos mais tarde. Por isso, com o diagnóstico precoce, por meio de exame de escarro e raio X de tórax, a probabilidade de transmissão diminui, uma vez que após 15 dias se submetendo aos medicamentos, o agente transmissor tende a ser cada vez menos contagioso. Independentemente da melhora dos sintomas nesse período, o tratamento deve prosseguir até completar seis meses.

Além da vacina BCG, que pode ser aplicada no primeiro mês de vida, a prevenção se dá também pelo controle dos comunicantes, aqueles que convivem regularmente com o infectado. Já o tratamento consiste em um coquetel de medicamentos, oferecido de graça pela rede pública de saúde, que pode causar efeitos colaterais como enjoos, vômitos, indisposição, mal-estar, urina de coloração avermelhada e alteração da cor das fezes.

BRASIL É LÍDER NA ESTRATÉGIA DE LUTA GLOBAL

Em 2019, o Brasil passou a liderar a estratégia de luta global contra a tuberculose. No ano passado, o país avançou no tratamento de crianças com a doença, tornando-o mais simples e, portanto, mais aceitável. O SUS passou a ofertar os fármacos de cada fase, em comprimidos em doses únicas combinadas e solúveis em água.

Antes, para menores de 10 anos, era preciso usar a combinação de três medicamentos (rifampicina 75 mg + isoniazida 50 mg + pirazinamida 150 mg) na fase intensiva da doença e dois na fase de manutenção (rifampicina 75 mg + isoniazida 50 mg). Em ambos os estágios, a criança precisava tomar medicamentos simultaneamente, ou seja, de uma só vez.

Com a iniciativa, o Brasil se alinhou à recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidades para a Infância (UNICEF), que defendem que os medicamentos em dose fixa combinada são uma oportunidade para simplificar e melhorar o tratamento de tuberculose nas crianças, além de possibilitar a melhora da adesão e da completude do tratamento.

INCENTIVO PARA PESQUISAS

Em 2019, o Brasil esteve na presidência pro tempore dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) – grupo de países formado por economias emergentes. E, assim, também presidiu a Rede de Pesquisa em Tuberculose, criada em 2017, no âmbito do BRICS, ocasião em que buscou fortalecer a atuação dos pesquisadores e dos países para o avanço e desenvolvimento de iniciativas inovadoras em tuberculose. Os BRICS concentram cerca de 50% dos casos novos da doença e 40% dos óbitos por tuberculose no mundo e, por isso, o empenho do bloco é fundamental para eliminação da doença como problema de saúde pública.

Assim, o Ministério da Saúde lançou edital para financiar pesquisas no valor de R$ 16 milhões relacionadas à tuberculose no âmbito dos BRICS. A ideia é fomentar novas intervenções, esquemas terapêuticos e medicamentos, além de novos métodos de diagnóstico e acesso ao tratamento da doença. Os resultados da iniciativa brasileira podem contribuir para intervenções nos sistemas de saúde dos BRICS. O Ministério da Saúde também financia pesquisa para vacina de tuberculose, fruto de uma parceria entre a Secretaria de Vigilância em Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, assumiu por três anos a presidência do Conselho da  Stop TB Partnership, que busca eliminar a tuberculose no mundo, conta com cerca de 1.700 representantes em mais de 100 países, incluindo governos, organizações internacionais, agências de pesquisa e financiamento, além de fundações e ONGs.

Para saber mais sobre tuberculose, clique aqui

Com Assessorias

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