Por que os cabelos caem durante o tratamento do câncer de mama?

Especialistas explicam como ocorre a queda de cabelos entre pacientes submetidas à quimioterapia. Recuperação dos fios pode levar até 6 meses

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O câncer de mama tem taxa de cura que supera 90% quando descoberto no início. Com resultados animadores, o tratamento causa alguns efeitos colaterais que exigem que a autoestima e a autoconfiança das mulheres sejam trabalhadas – sendo considerada como parte do tratamento para o bem-estar da paciente. Dentre os efeitos mais conhecidos estão a queda de cabelo e a retirada da mama (mastectomia).

No caso da mastectomia, a cirurgia plástica reconstrói a mama e é uma etapa fundamental para melhorar a autoestima da paciente em tratamento oncológico. A cirurgiã explica a mama representa para a mulher um grande símbolo psíquico e físico de feminilidade e força, características tão importantes de serem preservadas num processo de tratamento e pós-tratamento do câncer.

Assim como a mama, o cabelo faz parte da identidade da paciente. Para a maioria das mulheres a perda dos cabelos traz importante impacto negativo na qualidade de vida, indo além da estética e também interferindo na autoimagem, sexualidade e vida cotidiana. Por isso, o uso de perucas pode ser positivo para ajudar a saúde mental das mulheres.

“Muitos estudos apontam para o poder que uma mente sã exerce no processo de cura, muito provavelmente através do aumento da imunidade. Assim, a recuperação dos elementos como a mama e o cabelo, através da reconstrução de mama e o uso de perucas e lenços ocupa papel importante”, aponta a cirurgiã plástica Débora Nassif Pitol, especialista em Reconstrução de Mama pelo Hospital Pérola Byngton.

A queda de cabelos é um dos conhecidos efeitos da quimioterapia. Mas por que isso acontece? Ouvimos dois especialistas a respeito do o tema. Segundo eles, alguns tipos de tratamento geram efeito mais acentuado sobre os cabelos, provocando a sua queda. Na grande maioria dos casos, entretanto, essa queda é temporária e reversível.

Os medicamentos quimioterápicos possuem como alvo as células com rápida proliferação. Atuam tanto em células neoplásicas quanto em células normais, como as da matriz dos cabelos na fase anágena (fase de crescimento). Em torno de 80 a 90% dos folículos do couro cabeludo estão nessa fase em determinado momento,  por isso há uma queda maciça de fios na alopecia induzida por quimioterapia”, explica a dermatologista Flávia Basilio, de Curitiba (PR), especializada no assunto.

Segundo ela, por toxicidade direta, alguns quimioterápicos levam à rápida morte celular na matriz do cabelo e na papila dérmica. “A interrupção abrupta da proliferação celular leva ao enfraquecimento da haste do cabelo, com quebra dentro do canal capilar e queda do fio. Esse é o mecanismo mais comum de queda de cabelo após quimioterapia“, ressalta.

Queda pode variar de acordo com o tipo de quimioterápico

O dermatologista Rodrigo Pirmez, coordenador do Departamento de Cabelos da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Rio de Janeiro e um dos fundadores e atual vice-presidente da International Trichoscopy Society, afirma que existem  diversas classes de quimioterápicos e algumas estão mais associadas com queda de cabelo do que outras.

A intensidade da queda também pode variar. A queda dos cabelos ocorre porque muitos do quimioterápicos atuam no ciclo celular. Eles combatem as células malignas inibindo a proliferação dessas. No entanto, essas medicações acabam atuando em outros tecidos que também tem rápida proliferação celular, como é o caso dos folículos capilares, que produzem os fios de cabelo. Com isso, a produção dos fios fica comprometida e eles ficam mais finos, frágeis e quebram”, explica.

Na grande maioria dos casos, esse tipo de alopecia é temporária e reversível segundo a médica. “A queda começa em uma a três semanas após o início da quimioterapia e leva a uma perda total de cabelos em um a dois meses.  A recuperação ocorre em três a seis meses após o agente desencadeante ser suspenso.  Alopecia permanente após quimioterapia é considerada evento raro, mas pode ocorrer em alguns casos. Ainda não se sabe exatamente qual a sua incidência. É definida como ausência de crescimento ou crescimento parcial do cabelo após período maior que seis meses do término da quimioterapia“, explica Flávia Basilio.

Recuperação dos fios dura de 3 a 6 meses


Em geral, os cabelos voltam a crescer normalmente depois do fim do tratamento. “Na maioria dos casos, a recuperação ocorre em três a seis meses após o agente desencadeante ser suspenso.  O novo crescimento capilar pode mostrar mudanças temporárias de coloração até que as células que produzem a pigmentação (melanócitos)  comecem a funcionar novamente, e o crescimento do cabelo pode ser mais curvo do que o anterior (ficam mais ondulados em alguns casos).  Além da alteração da cor dos cabelos e mudança na estrutura, raramente pode haver alopecia permanente”, reforça a dermatologista.

Segundo Dr. Rodrigo Pirmez, a mudança da textura e da cor dos fios pode ocorrer após a quimioterapia e é resultado da própria medicação sobre o folículo. “Após a exposição às medicações a atividade do folículo está alterada e ele pode passar a produzir um fio diferente do original. No entanto, com o tempo, a tendência é que o cabelo volte às suas características pré-tratamento”, detalha o médico.

Uso da touca gelada pode ajudar

No caso da perda de cabelos, existem diversas medidas para minimizar este efeito colateral, como o uso da touca gelada. Uma dúvida dos pacientes é se ela é eficaz e ajuda a diminuir a queda causada pela quimioterapia.

Para prevenção, o resfriamento do couro cabeludo é a forma mais estudada, e única forma considerada eficaz atualmente. A hipotermia diminui o metabolismo celular e reduz a perfusão, e consequentemente, diminui a concentração de quimioterápico que chega ao couro cabeludo. A redução da temperatura (hipotermia) do couro cabeludo  com o uso da touca durante a administração de quimioterapia apresenta resposta em 50-80% pacientes”, explica Dra. Flávia Basilio.

“Sempre que possível, e disponível, pode-se tentar usar a touca gelada, que previne, em parte, a perda dos cabelos. Para tratamentos mais intensivos, este método não é tão eficaz. Neste momento o uso de perucas é uma alternativa que pode resgatar a autoestima e tornar o tratamento menos penoso”, comenta o oncologista no Hospital Alemão Oswaldo Cruz e Centro Paulista de Oncologia, Felipe Ades.

Perucas podem custar até R$ 6,5 mil

De diversos tons e comprimentos, as perucas para pessoas em tratamento oncológico necessitam ainda de mais alguns cuidados na confecção. Há 20 anos no mercado, a Crown Wigs se especializou no atendimento às mulheres que estão passando por este momento. No ateliê da empresa em São Paulo, cada cliente tem horário marcado e individualizado para escolher o modelo que mais se adequa ao cabelo natural – uma vez que muitas pacientes preferem passar por esse momento sozinhas ou acompanhadas apenas pela família.

Confeccionadas com cabelo natural, cada modelo custa entre R$ 3,5 mil a R$ 6,5 mil e, além de não precisar de cola ou adesivos para fixação e respeitar o couro cabeludo que fica mais sensível nesse período, podem ser cortados, tingidos, passar por processo de mechas, permanente ou outros procedimentos para deixar a aparência próxima ao original.

De acordo com a empresa, a maioria das mulheres busca uma peruca que seja o mais próximo possível do visual anterior ao tratamento. Para isso, Rafaela Leite, consultora de imagem da Crown Wigs, recomenda que a paciente busque a atendimento assim que a equipe médica inicie o tratamento.

É importante para que possamos ter o próprio cabelo da cliente como referência de modelo para peruca, dessa forma ela poderá se adaptar ao uso da peruca mesmo tendo ainda os seus próprios fios, até por uma questão psicológica é mais fácil aceitar a perda dos cabelos depois de ter a segurança que já tem à sua disposição uma peruca muito parecida com o seu cabelo atual”, ensina.

Com Assessorias

 

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