‘Quando tenho comida, eu tenho só arroz e feijão no máximo’

Mãe de duas crianças, Gláucia, de 26 anos, é exemplo de brasileira que vive em insegurança alimentar. Conheça campanha do Banco de Alimentos

Gláucia Beatriz é uma das pessoas ajudadas pela ONG (foto: Divulgação)
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Quando tenho comida, eu tenho só arroz e feijão no máximo. Já tem meses que eu não compro carne. Nem ovo eu tenho condição de comprar. Sabe o que é chorar para o gás não acabar? Eu rezo todos os dias para o gás não acabar. Se acabar, como vou fazer para comprar um gás que custa mais de 100 reais se eu não tenho dinheiro nem para comida?.” 

Gláucia Beatriz é mãe de duas meninas e sobrevive das doações (Foto: Divulgação)

O depoimento é de Gláucia Beatriz, de 26 anos, mãe de duas meninas de 7 e 4 anos, que mora em Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo. Ela é uma dentre 116 milhões de brasileiros que sofrem de insegurança alimentar; uma pessoa entre os 19 milhões de brasileiros que passam fome.

Gláucia sobrevive graças a doações como as feitas pela Associação de Mães e Amigos de Crianças e Adolescentes em Risco (Amar). A instituição é atendida pela ONG Banco de Alimentos, que integra uma rede colaborativa de mais de 300 entidades sociais parceiras beneficiadas pela doação de alimentos da organização.

Há 23 anos a ONG Banco de Alimentos trabalha para fazer com que a história de pessoas como Gláucia seja diferente – uma batalha diária e constante, contra a fome e o desperdício de alimentos no Brasil. Em 2020, entregou alimentos a 1,5 milhão de pessoas em situação de vulnerabilidade; e entre abril de 2020 e março de 2021, em ação de ajuda humanitária durante a pandemia, distribuiu o total de 5.261.652 de quilos de alimentos, via Colheita Urbana, cestas básicas e cartões/cestas digitais.

Com o país cada vez mais dividido entre os que comem e os que sentem fome, a ONG Banco de Alimentos, ao completar 23 anos, está lançando a campanha “O Brasil que come alimenta o que tem fome”. A iniciativa quer arrecadar R$ 1 milhão e reforçar a entrega de cestas de alimentos e cartões alimentação aos mais atingidos pela crise da pandemia.

O novo vídeo institucional, com imagens históricas e atuais, destaca que o Brasil joga fora hoje 27 milhões de toneladas de comida por ano. São portanto dois países: um Brasil onde a fome é um problema de sobrevivência e outro onde a fome é uma questão de consciência. A ONG Banco de Alimentos surgiu para diminuir a distância entre estes dois países, entre o que sobra e o que falta, alimentando, educando e transformando a vida de muita gente. Para assistir ao vídeo, acesse aqui.

No vídeo da campanha, divulgado nas redes sociais (clique aqui), a ONG destaca: “As ruas precisam ficar vazias. As geladeiras não. Ajude a alimentar pessoas sem renda. Faça sua doação para o Banco de Alimentos Associação Civil. Há 23 anos atuamos contra a fome e o desperdício de alimentos. Vamos juntos entregar cestas básicas a quem precisa”.

Mobilização em prol da ajuda humanitária durante a Covid-19

Desde o início de suas atividades, a ONG Banco de Alimentos realiza o trabalho que denomina de Colheita Urbana – busca alimentos onde sobra e leva onde falta, para reduzir o desperdício na indústria e no comércio e distribuir o excedente para instituições sociais, minimizando os efeitos da fome e possibilitando a complementação alimentar de qualidade para mais de 20 mil pessoas, todos os dias, em 43 instituições assistidas.

A partir de março de 2020, a organização ampliou a sua atuação em razão da Covid-19. Na certeza de que alimento é vida e a fome não pode esperar, a ONG Banco de Alimentos decidiu agir rapidamente para levar alimentos aos mais atingidos pela crise. Além do trabalho de Colheita Urbana, passou a entregar cestas básicas e cartões de alimentação, criando uma logística capaz de atender a mais de 200 comunidades carentes na cidade de São Paulo e região metropolitana.

Trezentas entidades sociais, coletivos e agrupamentos foram cadastrados, em um intenso trabalho de mobilização, para que fosse possível fazer a distribuição de cestas básicas e cartões vale-alimentação às comunidades mais atingidas. Para que essa ponte fosse eficaz, toda a logística foi reforçada: um galpão foi alugado para o armazenamento dos alimentos e foi preciso trazer mais gente e mais veículos de transporte.

Mesmo em meio às dificuldades impostas pela pandemia – a ONG Banco de Alimentos mantém a sua atuação em outras frentes consideradas essenciais. Uma delas é a Educação Nutricional, que ensina a manipulação e o preparo adequado dos alimentos, sempre visando a sua utilização integral, a redução do desperdício e o aumento do valor nutricional das refeições, contribuindo concretamente para a melhoria da saúde das pessoas atendidas. Oficinas culinárias são desenvolvidas para colaboradores das instituições sociais para a disseminação de receitas com aproveitamento integral dos alimentos.

Outra frente está na conscientização, com ações como a realização de palestras e workshops com temas relacionados à alimentação saudável, nutrição, aproveitamento integral dos alimentos e indicadores sociais e de desperdício. As ações desenvolvidas na frente Conscientização buscam alcançar a sustentabilidade por meio de mudanças socioculturais, bem como realizar a ponte entre os dois Brasis: o Brasil que passa fome e o Brasil que desperdiça alimentos todos os dias.

Economista carioca criou ONG para ajudar comunidade da Rocinha

Luciana Chinaglia Quintão criou a ONG Banco de Alimentos há 23 anos (Imagem: Divulgação)

A ONG Banco de Alimentos chega aos 23 anos em meio à nova onda da pandemia, momento em que o quadro da fome se agrava ainda mais. Por esta razão, a meta é continuar com a missão abraçada ao longo de todos estes anos, ampliar a atuação e reforçar as articulações e a formação de redes para fazer com que o alimento possa chegar mais rápido à mesa daqueles que mais precisam.

Para Luciana Chinaglia Quintão, fundadora e presidente da ONG Banco de Alimentos, a fome sempre foi um problema grave no Brasil mas agora a situação piorou muito. “O problema da fome nunca foi tão grande como hoje. Por isso, é preciso mais. Mais trabalho, mais comida. Estima-se que apenas na cidade de São Paulo seriam necessários 100 bancos de alimentos para combater a insegurança alimentar. Imagine no Brasil inteiro?”, afirma.

Economista, ela nasceu no Rio de Janeiro, na Gávea, região vizinha à favela da Rocinha. Inconformada com os contrastes e com as desigualdades que desde cedo via à sua volta, decidiu se dedicar a um novo projeto de vida e criou a ONG em 1998. Para Luciana, “são as escolhas individuais que vão se tornar nossas escolhas coletivas, que constroem a realidade à nossa volta”.

Modelos de desenvolvimento que beneficiam apenas uns, em detrimento de outros, não se sustentam mais. É preciso acabar com o descalabro da gestão pública, exigir a melhor gestão dos recursos econômicos e mobilizar a inteligência social das pessoas para que possamos, juntos, construir um futuro melhor para todos, que atenda às várias fomes do país, não só de alimentos mas de saúde, educação e justiça social”, diz Luciana


Conheça outras ações da ONG Banco de Alimentos

Hoje, com 23 anos de atividades, a ONG avança ainda mais na batalha contra a fome e o desperdício de alimentos, em várias frentes. Além da ampla campanha de arrecadação de R$ 1 milhão para reforçar as doações necessárias à compra e distribuição de alimentos para as pessoas mais vulneráveis, há outras ações:

• reforço à a comunicação com a criação de um selo e de um filme institucional;
• lançamento de um novo site com o objetivo de ampliar a sua visibilidade e conquistar ainda mais parceiros comprometidos em doar;
• lançamento de um novo filme institucional;
• ampliação da atuação para abrir novas frentes capazes de conscientizar cada vez mais a sociedade em geral, com o objetivo de aprofundar o debate e a reflexão sobre as várias “fomes” e sobre a importância da ação coletiva para mudar a realidade.

Experiência e prática como fonte de inspiração

Como instituição de referência no combate à fome, a ONG Banco de Alimentos acredita que a experiência e a prática da organização podem trazer conscientização e inspiração para a ação de outras instituições, mostrando a força que a sociedade civil tem para contribuir para a justiça social e apontar caminhos a serem seguidos.

Pensando no alcance da formação de redes pela sociedade civil, a ONG está sempre pronta a passar a sua tecnologia para outros protagonistas que queiram abrir bancos de alimentos em seus municípios. Essa tecnologia conquistada ao longo dos anos envolve também o combate ao desperdício de alimentos.

A fome dói, exclui, mata e constitui-se em um abuso social. Sempre entendi a fome como metáfora para todo tipo de carência. Temos fome de comida, de justiça, de amor, de transporte, de moradia e de educação. Tem fome, portanto, quem é privado de algo, inclusive de seus direitos sociais. Acredito que o caminho para mudar esta realidade é possível quando a inteligência coletiva está presente e atuante, como destaco no livro Inteligência Social – a perspectiva de um mundo sem fome(s)“, afirma Luciana.

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