Covid-19: remédio contestado pela OMS é liberado pela Anvisa

Médicos avaliam benefícios e eficácia do Remdesivir no tratamento da Covid-19. Aprovado pela FDA, remédio foi utilizado por Donald Trump

Foto: Reprodução Agência Brasil
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Contrária a um posicionamento anterior da Organização Mundial de Saúde (OMS), que não reconheceu a eficácia do medicamento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do Remdesivir contra a Covid-19 no Brasil para pacientes hospitalizados, mas não intubados.

Este é o primeiro medicamento antiviral a ter recomendação em bula para pacientes com o novo coronavírus e foi usado pelo ex-presidente americano Donald Trump quando foi infectado em setembro de 2020. Segundo a agência, o medicamento pode prevenir uma progressão da infecção causada pela Covid-19. Os estudos demonstraram menor tempo de recuperação no grupo que recebeu a medicação.

Os  dados avaliados pela  Anvisa indicaram que o tempo médio de internação de pacientes com suporte de oxigênio – mas não com ventilação invasiva – tratados com Remdesivir diminuiu de 15 para 10 dias em comparação com os que não receberam o antiviral. “Redução no tempo de hospitalização é um parâmetro válido, principalmente no contexto brasileiro com falta de leitos”,  afirmou Gustavo Mendes, gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa à CNN.

De acordo com ele, o estudo da OMS junto a pacientes com Covid-19 avaliou mais o perfil de mortalidade, diferindo do perfil analisado pela agência. “A OMS focou na prevenção de mortes. Os estudos que consideramos válido é se houve uma redução no tempo de hospitalização dos pacientes. Então a gente considerou que é mais uma terapia pro combate da Covid-19”, completou Mendes.

Também nesta sexta, a Anvisa concedeu o registro definitivo para a vacina da Universidade de Oxford/AstraZeneca. Dessa forma, a vacina está liberada para ser utilizada na população em geral. A Anvisa esclareceu que, no momento, não existem outros pedidos de registro de medicamentos que possam ser usados em pacientes com Covid-19 –  só pedido de estudos.

OMS não vê vantagens na medicação

Em novembro, de 2020, ao atualizar suas orientações contínuas sobre os medicamentos contra Covid-19, a OMS divulgou um parecer baseado nos dados preliminares do estudo Solidarity, que põe em dúvida os efeitos benéficos do remdesivir para o tratamento do coronavírus. E  desaconselhou o uso do medicamento para tratar pacientes hospitalizados, independentemente da gravidade da doença.

De acordo com a atualização, publicada na revista médica BMJ, as evidências não sugeriam que o Remdesivir afetava o risco de morte por Covid-19 ou necessidade de ventilação mecânica, entre outros resultados importantes.

Além disso, em entrevista à CNN a vice-diretora geral da OMS, Mariângela Simão, explicou que a orientação era baseada em diversos estudos que, no total, somaram mais de 7 mil pacientes avaliados que usaram o remédio contra o novo coronavírus.

Esses estudos mostraram que o Remdesivir não adiciona nada em termos de mortalidade ou progressão da doença para pacientes leves e, além de tudo, ele é injetável e bastante caro. A OMS recomenda mais estudos e pesquisas sobre o Remdesivir. Com o conhecimento atual, ele não altera a progressão da doença e não evita mortes”, disse ela na época

A cadeia de suprimento aprovada para o Brasil envolve seis unidades de fabricação do Remdesivir, cinco nos Estados Unidos e uma na Irlanda.

Indicações de uso do medicamento

Renata Lima Soares, gerente de Avaliação de Segurança e Eficácia da Anvisa, explica que a indicação terapêutica aprovada em bula não se restringe à forma leve, moderada ou grave da doença. Ela está ligada à apresentação da pneumonia com necessidade de suplemento de oxigênio, desde que o paciente não esteja em ventilação mecânica ou extracorporea.

Chegou-se à conclusão que o Remdesivir exibia uma potente atividade in vitro e in vivo contra o SARS-Cov-2. O rim foi identificado como único órgão alvo de toxicidade, mas nenhuma preocupação maior foi identificada”, disse à CNN. “Em termos de cenário regulatório internacional, o medicamento foi aprovado em diversas agências, incluindo a europeia EMA, a americana FDA, a canadense, e diversos outros países”, completou.

O medicamento será vendido em forma de “pó para solução injetável” que deve ser reconstituído no momento da aplicação, terá prazo de validade de 36 meses, e será vendido com o nome comercial de Veklury.

A aplicação inicial recomendada do medicamento é em dose única, de 200mg, administrada por infusão intravenosa. A partir do segundo dia, a dosagem é reduzida por 100mg.

O Remdesivir deve ser usado por, no mínimo, cinco dias e, no máximo, dez dias.

A medicação poderá ser utilizada no Brasil em pessoas com idade superior a 12 anos, com pelo menos 40 kg, que estejam com pneumonia e precisem de suplementação de oxigênio.

Remdesivir: resultados até em pacientes graves

Ao avaliar a toxicologia das principais drogas usadas hoje no tratamento da Covid-19, Alvaro Pulchinelli, diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina Laboratorial, confirmou a eficácia do medicamento Remdesivir. Segundo ele, este é um antiviral de largo espectro, inicialmente usado no tratamento do vírus ebola e que pode ser usado para a Covid-19, por terem semelhanças entre si.

Segundo ele, como foram observados bons resultados, protocolos começaram a surgir e as conclusões parciais são muito promissoras, o que estimulou ainda amais a pesquisa com foco nessa droga.

O Remdesivir é uma pró-droga, não é reativa, ela só será ativada através da metabolização no organismo. A ação do medicamento bloqueia a replicação do vírus mesmo em baixas concentrações”, explicou o dr. Alvaro, em palestra realizada em outubro de 2020.

De acordo com o médico, é preciso lembrar que alguns pacientes têm o trato digestório acometido pela Covid-19, então essa sintomatologia é um fator que impede a administração do medicamente por via oral e a opção é que seja de maneira intravenosa ou subcutânea, uma vez ao dia.

Os protocolos atuais sugerem a dosagem de 200mg, com manutenção de 100mg, e o tratamento pode durar entre 7 e 14 dias (período em análise). O Remdesivir deve estar associado a outros antibióticos, normalmente é prescrito com a Azitromicina. “Ao contrário de outras drogas, o Remdesivir, mesmo com a doença em curso, mostra resultados positivos, mesmo nos pacientes em estado grave”, ressalta.

Falando sobre os aspectos toxicológicos, na fase I, 5% dos sujeitos de pesquisa tiveram reações adversas, como flebite, constipação, cefaleia, equimoses, náuseas, dores nas extremidades, aumento transitório das enzimas hepáticas, tempo de protrombina e hiperglicemia. Os pacientes portadores da doença apresentaram erupção, diarreia, hipotensão, disfunção hepática anormal e insuficiência renal.

A função hepática se mostrou alterada por um aumento de cinco vezes das enzimas hepáticas. A função renal pode cair até 50% da taxa de filtração glomerular, ou seja, esse medicamento só pode ser administrado em ambiente hospitalar, sempre com o acompanhamento clínico laboratorial muito restrito.

As pulações especiais não foram avaliadas, portanto, não há uma segurança na prescrição do medicamento para idosos, gestantes e crianças. Quanto às interações medicamentosas, elas são possíveis. Sobre os marcadores toxicológicos habituais, a dose letal 50 (DL50) e conduta na superdosagem não estão estabelecidos ainda. “Não há relatos de super-dosagem, visto que não é vendido no comércio”, conclui.

Uso combinado com remédio para artrite reumatoide

Outro estudo divulgado em setembro de 2020 pela Eli Lilly and Company com mais de 1.000 pacientes avaliou a eficácia e segurança de uma dose de 4 mg de baricitinibe – um medicamento usado para adultos com artrite reumatoide ativa moderada a grave – em combinação com remdesivir em pacientes hospitalizados com Covid-19.

De acordo com a empresa, a combinação dos tratamentos alcançou o objetivo primário do estudo de reduzir em aproximadamente um dia o tempo de recuperação dos pacientes em comparação com o uso de apenas remdesivir. Os dados iniciais do estudo ACTT-2 (Adaptive COVID-19 Treatment Trial),  iniciado em maio de 2020, contou com patrocínio do Instituto Nacional de Alergia e Doenças infecciosas (NIAID), parte do Instituto Nacional de Saúde (NIH), dos Estados Unidos.

A recuperação foi definida como o participante estando bem o suficiente para alta hospitalar, o que significa que o participante não precisava mais de oxigênio suplementar ou de cuidados médicos contínuos no hospital, ou não estava mais hospitalizado no dia 29 de tratamento. O estudo também alcançou um desfecho secundário chave comparando os resultados do paciente no dia 15, usando uma escala ordinal de 8 pontos variando de totalmente recuperado até a morte.

O estudo foi acompanhado durante todo seu curso por um conselho independente com o objetivo de revisar os dados de segurança. As análises adicionais seguem em andamento para compreender outros resultados clínicos, incluindo informações sobre mortalidade e segurança. A expectativa é de que o NIAID publique todos os detalhes do estudo em um jornal revisado por especialistas.

“Essas descobertas do ACTT-2 são outra etapa à medida que melhoramos o cuidado desses pacientes”, explica Andre Kalil, M.D., professor do Centro Médico da Universidade de Nebraska (EUA) e principal investigador dos estudos ACTT. “Esses dados podem nos ajudar a entender melhor o papel potencial do baricitinibe no tratamento de Covid-19.”

Com base nos dados do ACTT-2, a Lilly planeja discutir o potencial para uma autorização de uso emergencial com o Food and Drug Administration (FDA), e de maneira semelhante com outras agências regulatórias, para baricitinibe como tratamento para pacientes hospitalizados com Covid-19.
Caso receba o aval, a Lilly irá propor que o medicamento esteja disponível por meio de canais comerciais e trabalhará com hospitais e governos para garantir o acesso por parte dos pacientes. A Lilly segue com seus estoques abastecidos para atender os pacientes com artrite reumatoide (AR), garantindo que o baricitinibe continue disponível nos países onde a terapia é aprovada e comercializada”, informou a empresa.
A Lilly revisará os dados do ACTT-2 com o NIAID e avaliará qualquer impacto no COV-BARRIER, o estudo de Fase 3 randomizado, duplo cego e controlado por placebo, iniciado em junho de 2020 para avaliar a eficácia e segurança do baricitinibe versus terapia de base em adultos hospitalizados com Covid-19 nos EUA, na Europa, Ásia e América Latina.

Baricitinibe é um inibidor JAK1/JAK2 licenciado para a Lilly pela Incyte e comercializado como OLUMIANT®, aprovado em mais de 70 países como um tratamento para adultos com artrite reumatoide ativa moderada a grave. O estudo do baricitinibe em ensaios controlados é importante para melhor caracterizar seus benefícios potenciais e compreender a segurança de seu uso como tratamento para COVID-19.

NOTA DE ESCLARECIMENTO DA GILEAD SCIENCES

A Gilead Sciences, farmacêutica responsável pelo medicamento, refutou veemente o posicionamento da OMS, alegando que os dados utilizados não foram revisados por pares ou abertos à comunidade científica (veja posicionamento abaixo).

 Declaração da Gilead Sciences sobre as Diretrizes de Tratamento Covid-19 atualizadas da Organização Mundial da Saúde para Veklury® (Remdesivir

Veklury é reconhecido como padrão de tratamento para pacientes hospitalizados com COVID-19 nas diretrizes de várias organizações nacionais confiáveis, incluindo os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e a Sociedade de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, Japão, Reino Unido e Alemanha.

Essas recomendações se baseiam nas evidências robustas de múltiplos estudos randomizados e controlados publicadas em periódicos revisados por pares que demonstram os benefícios clínicos de Veklury, como uma recuperação significativamente mais rápida, que pode liberar recursos hospitalares limitados.

Estamos desapontados que as diretrizes da OMS pareçam ignorar essas evidências em um momento no qual os casos estão aumentando dramaticamente em todo o mundo e os médicos estão confiando em Veklury como o primeiro e único tratamento antiviral aprovado para pacientes com COVID-19 com aprovações ou autorizações em aproximadamente 50 países. 

Fatos Principais 

Os benefícios de Veklury foram demonstrados em três estudos clínicos randomizados e controlados, incluindo um estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo (ACTT-1) – o padrão-ouro para avaliar a eficácia e a segurança de medicamentos experimentais.

O estudo ACTT-1 do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) mostrou que Veklury leva a uma recuperação cinco dias mais rápida em pacientes hospitalizados em geral, e a uma recuperação sete dias mais rápida em pessoas com necessidade de suporte com oxigênio no período basal, em comparação com placebo.

Os dados do ACTT-1 foram revisados por pares e publicados no New England Journal of Medicine e corroboraram a inclusão de Veklury em múltiplas diretrizes de tratamento. Os dados também corroboraram aprovações regulatórias ou autorizações temporárias para tratar Covid-19 em aproximadamente 50 países em todo o mundo.
As diretrizes da OMS apoiam-se em dados do estudo Solidarity conduzido pela OMS. Os dados principais do estudo Solidarity que permitiriam que médicos, reguladores e a Gilead avaliassem a qualidade e a confiabilidade dos resultados interinos do estudo não foram disponibilizados e não foram revisados por pares.

Os resultados liberados até o momento são inconsistentes com as evidências mais robustas do estudo do NIAID e dos estudos abertos da Gilead, cujos resultados validaram o benefício clínico de Veklury.

Tratar uma doença crítica com agentes que combatem o agente causador é a pedra angular do cuidado médico. Como um antiviral, Veklury inibe o SARS CoV-2, o vírus que causa a Covid-19, reduzindo a capacidade do vírus de se replicar no corpo. As combinações de Veklury com agentes anti-inflamatórios estão sendo estudadas para potencialmente aprimorar os resultados para pacientes com Covid-19.

Com Assessorias

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