Rio investiga casos suspeitos de febre maculosa

IOC/Fiocruz esclarece casos suspeitos de febre maculosa no Rio. Doença causada por carrapato pode ser confundida com dengue

Febre maculosa é causada por carrapato e pode ser confundida com dengue (Reprodução de internet)
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O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) informou nesta quinta-feira (4/11) que está atuando junto às Secretarias Municipal e Estadual de Saúde do Rio de Janeiro para esclarecer casos suspeitos de infecção por febre maculosa. O Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses confirmou por diagnóstico laboratorial um caso de infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii em um paciente que foi a óbito no dia 23 de outubro.

febre maculosa é uma condição que, no Brasil, também é chamada de febre do carrapato, já que sua transmissão se dá por meio da picada de um desses insetos. Trata-se de uma doença infecciosa, febril aguda e que pode variar desde as formas clínicas leves e atípicas. Com quadro clínico marcado por febre alta, dores de cabeça, náuseas e vômitos, o diagnóstico correto depende do conhecimento dos profissionais de saúde sobre este agravo, que compartilha os mesmos sintomas com diversas doenças.

No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, nas últimas décadas, praticamente todos os casos de óbito por febre maculosa tiveram o diagnóstico inicial de dengue. Procuradas, as secretarias municipal e estadual de Saúde não se manifestaram. A Fiocruz também não informou quantos casos estão sob investigação, nem os locais onde foram detectadas as suspeitas.

Mortes de policiais militares no Rio

Sargento da PM Carlos Eduardo da Silva morreu de febre maculosa (Reprodução de internet)

Dois policiais militares do Rio de Janeiro morreram com suspeita de febre maculosa após participarem de um curso de operações de polícia de choque, no qual eram instrutores, mas até o momento, somente um dos casos foi confirmado pela Fiocruz.

É o do sargento Carlos Eduardo da Silva no dia 21 foi confirmada pela Fiocruz. Ele estava internado no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e teve suas amostras coletadas para análise laboratorial. Já a causa da morte do cabo Mario César Coutinho do Amaral, ocorrida no dia 24, segue em investigação.

Silva tinha 21 anos de corporação, dos quais 15 no Batalhão de Choque, e foi atendido na unidade de pronto atendimento (UPA) de Teresópolis no dia 19, sendo transferido para o Hospital da Fiocruz. Amaral integrava o BpChoque há nove anos, quatro deles como instrutor. A Polícia Militar não informou o local onde o curso ocorria, mas o treinamento era na mata e foi suspenso temporariamente.

Segundo o secretário estadual de Saúde, Alexandre Chieppe, os locais de ocorrência de febre maculosa no estado são as regiões Noroeste e Serrana. “A região de que fomos notificados, ainda de forma preliminar, não é área endêmica para febre maculosa, e o processo de investigação está em curso. Todas as pessoas que participaram do curso estão sendo monitoradas, para que, caso apareça algum sinal ou sintoma, possam ser imediatamente tratadas para impedir que evolua para casos mais graves”, informou, na ocasião da confirmação da primeira morte.

Em 19 anos, doença matou 680 pessoas

O primeiro caso de febre maculosa no em território nacional ocorreu em 1929. Passados mais de 90 anos, a falta de informação continua sendo um dos maiores desafios no enfrentamento da doença.

Neste vídeo, Elba Lemos, chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), esclarece dúvidas e alerta para a prevenção da doença que, entre 2000 e 2019, já provocou mais de 2.100 infecções, com mais 680 óbitos.

A maior concentração de casos é nas regiões Sudeste e Sul. Em 2021, até o mês de setembro, o país registrou 69 casos e 19 mortes, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

O Laboratório da Fiocruz atua como Serviço de Referência junto ao Ministério da Saúde (MS) para Rickettsioses. O processamento é realizado por meio de análise molecular a partir da Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR), que permite detectar a presença do material genético da bactéria.

Saiba como se proteger

Entenda a febre maculosa

A febre maculosa é causada por uma bactéria transmitida por um carrapato específico, chamado de carrapato-estrela, comum em capivaras e cavalos. Entre os sintomas da doença, estão febre alta repentina, dor de cabeça e no corpo, mal-estar generalizado, náuseas e manchas vermelhas pelo corpo, principalmente nas mãos e nos pés. O diagnóstico é feito com exame laboratorial de sangue ou amostra de lesões de pele.

Confira mais detalhes sobre a doença no site do IOC/Fiocruz.

O que é a febre maculosa?
A febre maculosa é uma doença infecciosa febril aguda, que pode causar desde formas assintomáticas até casos mais graves, com alta possibilidade de óbito. No Brasil, os casos graves estão associados à infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida principalmente pelo carrapato da espécie Amblyomma sculptum, popularmente conhecido como carrapato-estrela. No entanto, existem no mundo mais de 20 espécies de rickettsias que podem causar febre maculosa.

Por que a doença recebe esse nome?
Por dois motivos: o primeiro, por causar um quadro de febre no paciente, e em segundo, por poder provocar o aparecimento de manchas avermelhadas na pele, conhecidas como máculas.

Quais são os sintomas?
O quadro clínico é marcado por início brusco, com febre alta e dores de cabeça, podendo haver dores musculares intensas e prostração. Na evolução da doença, podem ocorrer hemorragias, náuseas e vômitos. As manifestações clínicas surgem após um período de incubação que leva em média 7 dias, podendo variar de 2 a 15 dias. O surgimento de lesões na pele, no 3º ao 5º dia de doença, aumenta o grau de suspeição, muito embora existam casos nos quais este sinal pode não ser detectado – no caso de pacientes idosos, submetidos a tratamento específico precocemente, ou mesmo em pacientes negros, pela dificuldade de se observar as manchas negras, por exemplo.

Como ocorre a transmissão?
A doença é transmitida ao homem basicamente pelo carrapato infectado, não havendo risco de transmissão pessoa a pessoa. Para que a infecção ocorra, o carrapato precisa ficar aderido à pele. Se houver lesões na pele, o contágio pode ocorrer no momento do esmagamento do inseto. Uma vez infectados, os carrapatos permanecem assim durante toda a vida.

Há tratamento para a doença?
Por ser causado por uma bactéria, o tratamento tem como base o uso de antimicrobiano específico e de baixo custo, ministrado por via oral quando o paciente tem condições de ingerir a medicação. No entanto, em pacientes graves, com edema (inchaço) e vômitos, por exemplo, o antibiótico deve ser ministrado por via endovenosa, além do tratamento de suporte, dependendo da gravidade do caso. Como a bactéria pode destruir a parede do vaso sanguíneo, o tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível. A partir do 7º dia de doença, a lesão torna-se, geralmente, irreversível e o óbito, inevitável.

Embora exista vacina para a febre maculosa, a sua utilização não é indicada considerando a sua proteção parcial e a falta de indicação de vacinação para o controle de uma doença que responde muito bem ao tratamento antimicrobiano.

O grau de letalidade é alto?
Sim. Apesar de ser considerada uma doença de baixa frequência, a taxa de mortalidade é elevada devido à agressividade da Rickettsia rickettsii para o organismo humano, falta de diagnóstico adequado e de tratamento precoce. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, nas últimas décadas praticamente todos os casos de óbito por febre maculosa tiveram o diagnóstico inicial de dengue. Diante de um caso suspeito, deve-se coletar o sangue para a análise laboratorial e iniciar o tratamento imediatamente, mesmo sem a confirmação laboratorial.

Quais as formas de prevenção da doença?
A melhor forma de se prevenir é evitando áreas infestadas por carrapato, principalmente durante o período de maio a outubro. Vale mencionar a importância de animais como o cachorro, o cavalo e a capivara no ciclo de transmissão da doença, que, além de fonte de alimentação para os carrapatos, podem auxiliar no deslocamento de vetores infectados e estão próximos ao homem. Por isso, é preciso ficar atento à presença do vetor nos animais e no ambiente.

É essencial que toda a população e os profissionais de saúde tenham conhecimento sobre os riscos do contato com carrapa­tos, direta ou indiretamente, pois esses artrópodes são o segundo maior transmissor de doença para o homem, depois dos mosquitos vetores. Ao ser observado algum carrapato aderido à pele, é importante removê-lo com cuidado e rapidez.

Outro ponto importante: o controle de carrapatos em animais, assim como o uso de carrapaticidas devem ser realizados somente sob orientação de médicos veterinários, profissionais de saúde pública, agricul­tura e meio ambiente, considerando a concentra­ção do produto, o melhor período do ano para o seu uso, e acima de tudo, os efeitos prejudiciais e a presença de resistência.

Assim como ocorre com outras doenças, também é possível que haja surtos de febre maculosa?
Diferentemente da dengue, da malária e da leishmaniose, por exemplo, na maioria das vezes a febre maculosa apresenta-se como casos isolados ou como pequenos surtos, geralmente entre membros de uma mesma família ou grupos de indivíduos com atividades em comum. Surtos com dezenas ou centenas de casos não ocorrem na febre maculosa e, assim, outras doenças precisam ser consideradas.

Como é realizado o diagnóstico?
O diagnóstico da febre maculosa é geralmente realizado a partir do teste sorológico, mais espe­cificamente pela reação de imunofluorescência indireta. O diagnóstico sorológico permite identificar a presença de anticorpos anti-Rickettsia no sangue do paciente. É importante destacar que durante a doença, principalmente até o 10º dia, o indivíduo pode não ter anticorpos para a febre maculosa e que o resultado da análise de sangue coletado no início da doença pode ser negativo. Assim, a coleta de uma segunda amostra de sangue passa ser necessária. O Ministério da Saúde recomenda que isso aconteça do 14º  ao 21º dia após a primeira coleta de sangue.

Outro teste disponível para o diagnóstico, porém menos utilizado, é a análise molecular a partir da Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR) que permite detectar a presença do material genético da bactéria. Recomendado especialmente em casos graves e óbitos, este teste deve ser realizado na fase inicial da doença, quando anticorpos anti-Rickettsias ainda não são detectados. Existem outras técnicas diagnosticas como a histopatologia asso­ciada à imunohistoquímica e isola­mento, mas raramente são realizadas.

Qual o papel do Laboratório enquanto serviço de referência para o Ministério da Saúde?
Além de colaborar com a vigilância da febre maculosa no território nacional, a presença do Serviço de Referência para Rickettsioses no Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC possibilita a integração das atividades voltadas para o desenvolvimento tecnológico de técnicas de diagnóstico, pesquisa e ensino, com o objetivo de contribuir para a promoção da saúde da população brasileira por meio da vigilância epidemiológica desta zoonose e da geração e difusão de conhecimentos na área.

Fonte: Agência Fiocruz de Notícias, com Agência Brasil

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