Sem lockdown, Brasil pode entrar em colapso, alerta neurocientista

Miguel Nicolelis aponta risco de um caos no sistema de saúde em vários estados com agravamento da pandemia e questiona valor da vida no país

Miguel Nicolelis, neurocientista (Reprodução de internet)
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Os dados catastróficos das últimas semanas e a data emblemática de um ano da Covid-19 no Brasil acenderam o alerta máximo. Os números e dados foram comentados por diversas fontes qualificadas ao longo desta sexta-feira (26).

O médico e neurocientista Miguel Nicolelis disse ver uma grande chance de “colapso nacional” e defende a necessidade de um lockdown nacional, “imediato”, de 21 dias, em meio ao agravamento da pandemia do novo coronavírus. “A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia”, disse ele, em entrevista ao jornal O Globo.

Questionado sobre como o país chegou a situação em que o colapso do sistema de saúde é registrado em vários estados, Nicolelis lembrou que, diferentemente da primeira onda, quando cada estado registrou problemas num determinado período, “surgiram efeitos sincronizadores”, citando as festas de fim de ano, as eleições e o Carnaval.

Agora, tudo está explodindo ao mesmo tempo. Isso significa que não não tem medicação, não tem como intubar, não vai dar para transferir de uma cidade para outra, não vai ter como transferir para lugar nenhum. A consequência do colapso de saúde é o colapso funerário. Cientistas não olham só o presente, mas olham o futuro, enquanto o político está pensando no hoje, em como resistir à pressão do setor X para não fechar, a despeito das mortes”, argumenta.

Classificando de “danosa” o que chamou de “ausência de comando do governo federal”, o cientista disse ver como grande a chance de um colapso nacional. “Não é que todo canto vá colapsar, mas boa parte das capitais pode colapsar ao mesmo tempo, nunca estivemos perto disso. Se eliminar o genocídio indígena e a escravidão, é a maior tragédia do Brasil. A ausência de comando do governo federal é danosa”, disse.

Para Nicolelis, vivemos uma guerra. “Em outros países essa é a mensagem que foi dada, veja a China. É curioso ver que no mundo ocidental exista dificuldade de transmitir essa mensagem da gravidade. Em Israel, metade da população foi vacinada no meio de um lockdown, e Israel é um país que entende o que é uma guerra. Adotaram discurso de salvação nacional, a mobilização foi total”, diz.

Qual é o valor da vida no Brasil?

A pergunta é feita pelo próprio neurocientista ao avaliar: Que valor os políticos dão para a vida do cidadão se não fecham as atividades num lugar com 100% de ocupação dos leitos? Ter que preservar a economia é não só uma falsidade econômica como demonstra completa falta de empatia com a vida das pessoas. O que mais me assusta é o pouco valor à vida”.

Ele aponta suas críticas não somente para os políticos, mas para a população. “Os políticos são o primeiro componente, mas a sociedade também. Porque, quando alguém vai a uma festa clandestina de fim de ano, de carnaval, se aglomera numa balada ou à beira do campo de futebol, não compromete só sua saúde, mas a vida dos seus familiares, seus vizinhos e das pessoas que nem conhece. Nossa sociedade em algum momento perdeu a conexão com o quão irreparável é a vida”, diz ele.

Com vacinação a passos lentos, só resta o lockdown

Já a respeito da vacinação, o médico disse que ninguém esperava que o Brasil fosse ter um desempenho tão baixo. A campanha de imunização começou em meados de janeiro, mas segue em passos tímidos. “Poderíamos estar vacinando 10 milhões, mais do que qualquer país. É como uma tragédia grega, mas é brasileira, que alguém vai contar um dia. Porque ela é épica, como a derrota dos troianos.”.

Na avaliação dele, o país precisariam de um lockdown nacional, com o apoio de uma campanha de comunicação para ter colaboração da população porque, nessa altura, medidas de restrição de horário não têm efeito. “A consequência da perda de meio milhão de pessoas não dá nem para imaginar. Sem gente não tem economia, ninguém produz, ninguém consome. É inconcebível”, critica.

Ele disse que ainda há tempo de reverter o quadro, “mas tem que mudar tudo”, afirmando que está propondo a criação de uma comissão de salvação nacional, sem participação do Ministério da Saúde, organizado por governadores, para resolver a questão logística.

Laboratório a céu aberto no Brasil

É uma guerra, quando vamos bater de frente com o inimigo de verdade? O Brasil é o maior laboratório a céu aberto para ver o que acontece com o vírus correndo solto. Em segundo lugar, um lockdown imediato, nacional, de 21 dias, com barreiras sanitárias nas estradas, aeroportos fechados. E depois ampliar a cobertura, usando múltiplas vacinas”, recomendou Nicolelis.

Ele defende a imediata assinatura de contratos para compra de novas vacinas. “Não dá para ficar discutindo, assina o contrato e vai em frente, deixa para depois. “Estamos falando da vida de 1.500 pessoas por dia, são 5 boeings caindo. Vacinação, vacinação, vacinação, testagem e isolamento social. Não tem jeitinho numa guerra. Estamos diante de um prejuízo épico, incalculável, bíblico”, destacou.

Com Jornal O Globo e Uol (atualizado às 19h)

 

 

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