Síndrome do olho vermelho aumenta 20% no verão

Conjuntivite tóxica e outros problemas mais graves podem afetar a visão. Só um em cada 10 brasileiros mantém os olhos protegidos da radiação solar

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O verão é uma das épocas mais esperadas pelos brasileiros, mas também uma das mais perigosas para nossa saúde, já que a exposição solar excessiva pode provocar queimaduras de pele, por isso, todo cuidado é pouco. Milhares de brasileiros invadem as praias nas férias para comemorar a virada de ano, mas muitos descuidam da visão nos banhos de sol.

O olho é o órgão que mais sofre no verão por conta das mudanças de hábitos, oscilações do tempo e maior proliferação de bactérias no ar.  Por isso, o “tempo pode fechar” e o passeio ficar literalmente embaçado. Levantamento feito pelo oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, a partir de prontuários do hospital mostram que a síndrome do olho vermelho aumenta 20% durante a estação.

Olhos vermelhos, lacrimejamento, coceira, sensação de corpo estranho, queimação, fotofobia e visão borrada são os sintomas. O especialista afirma que podem sinalizar conjuntivite, alergia, olho seco ou ceratite. “Cada uma dessas alterações tem tratamento específico, mas nos meses mais quentes do ano 4 em cada 10 pacientes já chegam aos consultórios usando colírio por conta própria e por isso colocam a visão em risco”, alerta.

Para se ter ideia, o estudo com 620 pessoas mostra que menos da metade tem hábito de proteger os olhos do sol. Pior,  quanto mais jovens, menos se protegem. Para ele, se for contabilizado o uso de óculos solares com filtro vencido por já estar em uso há mais de dois anos, ou que não filtram a radiação ultravioleta porque foram comprados no mercado paralelo sem nenhuma garantia, só um em cada 10 brasileiros mantém os olhos protegidos da radiação solar.

“Lentes escuras sem filtro ou vencidas são piores do que a falta de óculos”, afirma. Isso porque, explica, no escuro nossa pupila dilata e uma quantidade maior de radiação ultravioleta penetra nos olhos, aumentando  o risco  de degeneração dos tecidos oculares.

Conjuntivite tóxica, o perigo nas piscinas

A água do mar e das piscinas são os maiores vilões entre crianças porque elas costumam abrir os olhos debaixo d’água. “No mar este hábito facilita a contaminação por micro-organismos”, afirma. Isso porque, o sal aumenta a perda da lágrima que protege a superfície do olho e fica suspensa na superfície pela córnea, membrana bem fininha de 5 milésimos de milímetros.

Já nas piscinas, ressalta,  não é só o cloro que deixa os olhos vermelhos. Até as mais bem tratadas contêm bactérias que causam conjuntivite porque geralmente estão cheias de urina, muco de nariz, suor, maquiagem e protetor solar.

O oftalmologista afirma que o excesso de filtro solar ao redor dos olhos somado ao suor facilita a penetração nos olhos de crianças e adultos. Resultado: o verão também aumenta os casos de conjuntivite tóxica, uma reação alérgica pelo contato da mucosa ocular com as substâncias do protetor.

Chapéu e óculos escuros podem prevenir conjuntivite

Óculos escuros, viseiras ou chapéus tornam-se muito presentes em épocas de férias, como no início do ano, mas a utilidade deles vai muito além do estilo. Quem quer prevenir doenças oculares deve levar tais itens na mala, sem pensar duas vezes, já que são essenciais para evitar o contato direto com o Sol e o ressecamento dos olhos.

O uso de óculos escuros de qualidade, certificado por profissionais, aliado ao chapéu, ajuda — e muito -, a proteger a visão de vários problemas, como a conjuntivite, que ocorre quando há uma inflamação da conjuntiva, membrana que recobre o olho.

A mais comum delas, a infecciosa, pode ser bacteriana ou viral, e é altamente contagiosa. Existem vários tipos da doença, como a conjuntivite alérgica, fúngica e a tóxica, porém as virais são as mais comuns. No verão a incidência dessa doença chega a 80%, por isso é importante prevenir”, explica o oftalmologista do Hospital CEMA, Omar Assae.

Além do uso do chapéu e dos óculos escuros, é importante adotar medidas de higiene, que podem fazer toda a diferença e deixar a conjuntivite bem longe. “Evite coçar os olhos, principalmente se as mãos estiverem sujas e se estiver em ambientes aglomerados. Só esse cuidado já previne boa parte dos casos”, detalha o médico. Já no caso do cloro das piscinas e do sal do mar, embora não causem doenças diretamente, podem provocar alergias ou irritações.

Por fim, nada de tratamentos caseiros para tratar a vermelhidão ocular, coceira ou outros sintomas correlatos. Sentiu que algo não vai bem nos olhos, procure um oftalmologista, pois medidas caseiras podem agravar ainda mais o quadro. Além de conjuntivite, outras enfermidades que podem aparecer no verão são as ceratites, alergias, catarata precoce, tumores, pterígio, entre outras.

Tratamentos

Queiroz Neto afirma que a secreção varia conforme o tipo de conjuntivite.  “Na bacteriana é purulenta e ao primeiro sinal devem ser aplicadas compressas mornas mais colírio antibiótico, orienta. “Na viral a secreção é viscosa e deve ser tratada com compressas frias associadas a colírio antiinflamatório não hormonal nos casos mais leves ou corticóide nos mais severos”, pontua.

Já na conjuntivite tóxica ou alérgica, o oftalmologista afirma que a secreção é aquosa e as compressas frias aliviam o desconforto. Os casos de irritação ocular leve podem ser tratados com colírio adstringente e os mais severos com colírio antialérgico ou corticoide, conforme a avaliação do oftalmologista.

O especialista ressalta que só é exigida receita médica na compra de colírio antibiótico, mas adverte que a interrupção abrupta do uso de corticóide pode causar efeito rebote, ou seja, agravar a inflamação. Já a aplicação prolongada pode induzir à catarata e ao glaucoma. “O uso indiscriminado de colírio adstringente predispõe ao olho vermelho crônico”, adverte.

Falta de proteção causa doenças graves

Queiroz Neto afirma que o sol tem efeito cumulativo nos olhos. Por isso,  as doenças só aparecem com o tempo. As principais decorrentes da falta de proteção solar são: fotoceratite, câncer nas pálpebras, pterígio, catarata e degeneração macular.

Fotoceratite – De todas elas,  a única que surge depois de algumas horas no sol, ressalta,  é a fotoceratite. Os sintomas são vermelhidão e sensação de areia nos olhos. Geralmente desaparece espontaneamente quando a pessoa permanece distante do sol, mas provoca a perda de células e pode causar cicatrizes na córnea que comprometem a visão se a falta de proteção for mantida.

Câncer nas pálpebras – O especialista destaca que as pálpebras são a região do corpo mais atingida pelo câncer de pele. Isso porque, nesta região a pele é mais fina e delicada. Ele explica que os óculos com filtro solar funcionam como barreira física. Quando associados aos cremes com fator de proteção UVA e UVB diminuem bastante o risco da degeneração da pele. Mas os cremes devem ser aplicados sem contato com as mucosas oculares, adverte. Isso porque, uma pequena quantidade dentro do olho provoca conjuntivite tóxica que não é contagiosa, tem secreção aquosa, mas pode causar dor intensa.

Pterígio – Queiroz Neto afirma que muitas pessoas confundem catarata com pterígio. O segundo é, uma membrana que cresce sobre a conjuntiva por um mecanismo de defesa. Esta membrana só precisa ser operada quando atrapalha a visão. “Caso contrário pode ser eliminada pelo uso de pomadas”, salienta.

Catarata – Maior causa de cegueira tratável no mundo, a catarata torna opaco nosso cristalino, lente do olho que focaliza as imagens na retina.  O oftalmologista ressalta que normalmente a doença aparece em pessoas com mais de 60 anos, mas a radiação solar aumenta em 60% a chance de ter a doença e antecipa sua formação da mesma forma que facilita o aparecimento de rugas na pele.

O primeiro sinal da catarata é a troca frequente dos óculos, perda da visão de contraste e ofuscamento no trânsito. O único tratamento é a cirurgia que substitui o cristalino opaco por uma lente transparente. Em 2020 deve chegar ao Brasil uma lente de cristal líquido com foco automático para todas as distâncias, igual ao nosso cristalino natural até a idade de 40 anos.

Degeneração macular – Maior causa de cegueira definitiva, a degeneração macular atinge a mácula, porção central da retina responsável pela visão de detalhes. Queiroz Neto afirma que o tratamento para evitar a perda da visão é feito com aplicações de laser e de injeções dentro do olho, mas a periodicidade das consultas médicas deve ser rigorosamente mantida. O primeiro sinal da doença é enxergar linhas tortuosas. Indica necessidade imediata de consultar um oftalmologista, pontua.

Olho seco e ceratite

O oftalmologista afirma que no verão os maiores vilões entre adultos são: dormir com lente de contato, abusar do ar condicionado e viagens aéreas longas. Isso porque, estas três variáveis ressecam a lágrima e podem tornar a oxigenação da córnea insuficiente.

A córnea, explica,  é uma espécie de lente natural fixa na frente do olho que foca a luz e protege o olho, absorvendo o oxigênio diretamente do ar, não da corrente sanguínea como as demais estruturas do nosso corpo. A má oxigenação predispõe à inflamação ou ceratite,  contaminação por bactérias e à formação de úlceras que podem cegar. A produção da lágrima é menor à noite.

Por isso, para manter a integridade da córnea, Queiroz Neto recomenda nunca dormir com lentes de contato mesmo as indicadas para uso noturno. Outras recomendações do médico são não exagerar na exposição ao ar condicionado e retirar as lentes de contato antes do embarque nas viagens aéreas com mais de três horas de voo, já que o ar é mais rarefeito nas cabines,  e instilar lágrima artificial durante a viagem.

Nada de lentes de contato na praia ou na piscina

Ione Alexim, coordenadora do Serviço de Oftalmologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, alerta para o uso de lentes de contato em dias de praia e piscinas, por exemplo. Por se tratar de um produto de base aquosa e muito sensível, as lentes de contato estão facilmente suscetíveis a contaminações por bactérias, como a pseudomonas aeruginosa.

“Esse tipo de bactéria é geralmente encontrada na água do mar e piscinas e pode causar úlceras de córnea”, diz a especialista. Cerca de 50% dos pacientes que apresentam algum tipo de infecção bactéria na córnea, pode acabar com algum tipo de sequela. “As bactérias e a areia impregnam as lentes e, mesmo descartando o material após o uso, o contato com os olhos e a exposição às bactérias já aconteceu”.

A médica também ressalta que um diagnóstico muito comum é a conjuntivite química causada pelo cloro da piscina, inclusive em pacientes que não têm nenhum tipo de problema oftalmológico, uma vez que a exposição pode ocorrer com qualquer pessoa. Alguns cuidados, como não compartilhar toalhas, travesseiros e óculos escuros e ter o hábito de sempre lavar as mãos pode ajudar na prevenção de doenças oculares.

Como evitar o desconforto do tempo seco

O tempo seco comum nos dias de altas temperaturas também é um problema, já que isso aumenta o ressecamento dos olhos. Uma forma de evitar o desconforto é o uso frequente de lubrificantes oculares, com preferência para os sem conservantes. “A tendência é que as lágrimas naturais evaporem ainda mais rápido durante o calor, causando a sensação do olho seco ou a piora da queixa”, comenta.

A especialista explica que isso acontece muito no dia a dia, principalmente, para quem trabalha ou passa muito tempo conectado aos eletrônicos, pois piscamos com menos frequência nesses períodos. “O ideal é fazer pausas ao longo do dia para lubrificar os olhos e evitar exposição direta a saídas de fluxo do ar nos aparelhos de ar condicionado”, ressalta. A oleosidade da pele também ajuda no ressecamento dos olhos. “Nesses casos, é recomendável lavar a região dos olhos com xampu neutro”.

Outro ponto que a especialista destaca, é a importância de checar a qualidade e a autenticidade das lentes dos óculos de sol. “Não podemos afirmar que os óculos vendidos nas ruas ou até mesmo por ambulantes na praia têm proteção ultravioleta,” diz a médica. A preferência deve ser sempre por produtos adquiridos em lojas que ofereçam certificados de garantia para o produto.

Uso indevido de colírios pode levar ao glaucoma

Coceira, irritação e vermelhidão nos olhos são comuns durante o verão, época em que a proliferação de bactérias e vírus é maior por conta do uso coletivo de piscinas e passeios ao ar livre. Quando esse tipo de problema surge, muitas pessoas recorrem à automedicação com colírios que um amigo ou familiar usa ou indica.

Segundo Aníbal Mutti, oftalmologista do Hospital 9 de Julho, o uso indevido desse medicamento pode elevar a pressão dos olhos e desencadear doenças graves como o glaucoma, doença ocular que mais causa cegueira irreversível no mundo. Portanto, o diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais.

Existem mais de 20 tipos de glaucoma. O fator comum a todos eles é a atrofia do nervo óptico secundária e o aumento na pressão de dentro dos olhos (pressão intraocular – PIO), que ultrapassam o limite de resistência das células deste nervo.

“A pressão intraocular elevada, seja em picos ou de maneira constante, provoca um “esmagamento” do nervo, visível ao exame de fundo de olho“, esclarece o especialista.

Automedicação é um gatilho

Dr. Mutti explica que, apesar da doença também ter fatores como diabetes, tendência genética e até catarata, a automedicação ainda é um gatilho relevante para desenvolver a doença. Para manter a saúde dos olhos e evitar infecções nas estruturas deste órgão tão sensível, o Dr. Mutti listou alguns cuidados importantes:

Higiene: Lavar os olhos com soro para retirar as impurezas pode reduzir drasticamente as chances de contágio das doenças oculares. Além de lavar as mãos antes de entrar em contato com os olhos. A higiene das pálpebras e da base dos cílios com xampu infantil ou produtos específicos para os olhos também são de grande ajuda na prevenção de infecções.

Descansar: Fazer pausas durante o dia para reduzir o tempo de contato com celulares, computadores e demais eletrônicos. Nestes momentos, procurar olhar para o horizonte ou focalizar algum objeto distante.

Atenção com os produtos: Olhar atentamente a data de validade dos cosméticos que entram em contato direto com os olhos e não se automedicar.

Alimentação saudável pode ajudar na proteção

Uma das principais dicas do oftalmologista Queiroz Neto para melhorar a proteção dos olhos nas férias de verão é caprichar no consumo de frutas cítricas e vermelhas. Isso porque, são ricas em vitamina C, potente antioxidante que desacelera os processos de envelhecimento como  acontece na catarata e degeneração macular quando o  assunto é saúde ocular. Queiroz Neto destaca que a vitamina C também estimula a produção de leucócitos e por isso melhora a imunidade tornando os olhos mais resistentes às bactérias e vírus que causam conjuntivite.

Para garantir a boa lubrificação dos olhos a principal recomendação dietética do especialista são as fontes de ômega 3, presente na semente de linhaça, nozes, sardinha, salmão e bacalhau. Os casos mais severos de olho seco, ressalta, têm respondido muito bem às aplicações de luz pulsada que evitam a evaporação da lágrima estimulando a produção da camada oleosa. Geralmente em três sessões a produção  lacrimal volta ao normal.

Para melhorar a hidratação do corpo e dos olhos a dica é comer melancia que tem 90% de água e é rica em fibras. Já a semente de linhaça e peixes como a sardinha são ricos em ômega 3 e por isso diminuem a evaporação da lágrima. As frutas e vegetais de cor laranja como cenoura e mamão contêm vitamina A, um nutriente essencial para garantir sua visão e férias com saúde, conclui.

Com Assessorias

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