Suicídio de adolescente choca alunos e professores na Tijuca (RJ)

Arthur, de 17 anos, se atirou do oitavo andar. Psiquiatra analisa principais sintomas da depressão na infância e adolescência. Escolas podem ajudar a identificar sinais

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Arthur Dantas era um adolescente como outro qualquer. Bonito, alegre, brincalhão, dono de uma energia incrível. Bom aluno, gostava de estudar e tirava notas altas. Por suas redes sociais, percebe-se que também adorava viajar e tirar fotos. Uma delas, que estampa a capa de seu Facebook, traz um enigmático “Até breve” no cais de um porto.

Seria um sinal – indagam-se agora todos ainda perplexos diante da brutalidade da tragédia? Na manhã desta terça-feira (18), os 400 alunos do Colégio Elite, onde Arthur estudava, simplesmente calaram, em estado de choque. Todos querem entender por que o jovem havia tirado a própria vida, atirando-se do oitavo andar de um prédio na Tijuca. A resposta, talvez, jamais virá.

Arthur Dantas não era apenas um aluno querido, era um menino disfarçado em anjo. Sempre sorrindo, bonito, simpático, educado e estudioso. Tinha no olhar uma certa nostalgia, que lhe dava um charme natural, e o tornavam um ser iluminado”, escreveu o diretor do colégio, César Augusto Menezes, na rede social.

Arthur, infelizmente, entra para uma estatística cujo crescimento parece não ter fim: a cada ano, 12 mil adolescentes tiram a própria vida nas Américas. Entre 1980 e 2012, as taxas de suicídio cresceram 62,5% na população em geral. Na faixa etária dos 15 aos 29 anos, a média aumentou em ritmo mais rápido do que em outros segmentos. São 5,6 mortes a cada 100 mil jovens (20% acima da média nacional).

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Como descobrir características de depressão

Segundo relatos postados por professores e alunos nas redes sociais, o rapaz de 17 anos, estudante do terceiro ano do Ensino Médio, não apresentava sinais de depressão. Mas será mesmo que nada incomodava tanto o Arthur? Ou quem estava ao seu redor não percebia os sinais?

Alterações no humor, tristeza, desânimo, choro fácil, mudanças no apetite, perda ou excesso de sono, falta de prazer em atividades que antes eram consideradas divertidas. Tudo isso podem ser características do transtorno psiquiátrico chamado depressão.

Geralmente associada aos adultos, a doença também pode acometer as crianças. Segundo a psiquiatra infantil e pesquisadora Ana Kleinman, cerca de 2% das crianças em idade pré-escolar e escolar sofrem de depressão. Esse número sobe para 11,7% quando elas passam para a puberdade.

As crianças costumam ter mais dificuldades para perceber e nomear o que sentem. Contudo, tanto em crianças, como em adolescentes, os sinais são semelhantes aos dos adultos, com pequenas variações na forma com que se apresentam.

Normalmente, as crianças tendem a ter mais irritabilidade e podem, com frequência maior, apresentar conflitos no convívio familiar e social”, explica a psiquiatra da infância e adolescência, Maria Aparecida Nunes Fontana.

Pais devem contar com ajuda da escola

Saber se uma criança ou adolescente está com depressão ou somente triste não é tarefa fácil, visto que não há um exame que possa ser feito para diagnosticar a doença. Assim, observá-los para saber quando procurar ajuda é essencial e, neste momento, contar com a ajuda da escola pode fazer toda a diferença.

A escola é certamente a maior parceira da família neste processo. Dentro de sua rotina, ela oferece inúmeras possibilidades de vivências que acabam oportunizando esta percepção, nem sempre clara, para as famílias”, explica Maria Aparecida, que participou de recente bate papo com alunos do Colégio Positivo Joinville, em Santa Catarina.

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Histórico de depressão e bullying podem ser gatilhos

Se o diagnóstico da depressão nem sempre é fácil, os gatilhos, por sua vez, costumam se repetir. Segundo Maria Aparecida, ter histórico familiar de depressão, usar excessivamente a internet, sofrer bullying, usar drogas, bem como conflitos familiares e divórcio dos pais são fatores que aumentam o risco do desenvolvimento de uma depressão na infância ou adolescência.

Crianças e adolescentes diagnosticados com a doença podem ter graves complicações ao se tornarem adultos depressivos. “Eles correm mais risco de desenvolver problemas como alcoolismo, uso abusivo de outras drogas e ansiedade”, alerta a psiquiatra.

Dessa forma, cuidar para que vivam em ambientes saudáveis pode ajudar a depressão a passar bem longe das crianças e adolescentes. Contudo, se mesmo assim, a criança vir a sofrer deste mal, saiba que depressão tem tratamento e, com paciência e acompanhamento adequado, é possível recuperar a alegria e a qualidade de vida.

Na presença de depressão deve ser avaliado o grau (leve, moderado, grave) e os fatores (se houve) que funcionaram como gatilho. Num quadro mais leve, pode-se optar por atendimento psicológico ou, dependendo da gravidade, além da terapia, associar uso de antidepressivos”, diz a psiquiatra.

Como ficar atento aos sintomas

Especialistas alertam que o não tratamento da depressão pode agravar os sintomas e, em alguns casos, fazer com que crianças e adolescentes adquiram até ideias suicidas. Portanto, é importante ficar atento aos sintomas.

Se a criança ou adolescente apresentar pelo menos cinco dos sintomas citados abaixo em um período de pelo menos duas semanas, os responsáveis devem procurar um psiquiatra infantil, que poderá definir o diagnóstico com precisão após descartar outras condições clínicas capazes de provocar sinais semelhantes.

Mas é importante ressaltar que os sintomas nem sempre são aparentes, pois crianças e adolescentes tendem a ter mais dificuldade de falar sobre o que sentem, o que torna mais difícil o diagnóstico precoce. “Por isso, é sempre bom procurar a escola e ver o que os educadores têm a dizer”, ressalta Maria Aparecida.

  • humor deprimido;
  • irritabilidade;
  • medos;
  • queda no rendimento escolar;
  • perda do interesse na maioria das atividades ou incapacidade de sentir prazer nelas;
  • dificuldade de raciocínio ou de concentração;
  • falta ou excesso de apetite;
  • diminuição ou aumento das necessidades de sono;
  • ideias de culpa ou excessiva desvalorização de si mesmo;
  • diminuição da atividade psicomotora;
  • sensação de falta de energia;
  • aumento da sensibilidade;
  • ansiedade;
  • baixa autoestima;
  • sentimentos de culpa;
  • sentimento de rejeição;
  • isolamento;
  • abandono de atividades que lhe agradavam até então;
  • comportamentos de extrema obediência ou submissão;
  • descuido pessoal e corporal;
  • olhar muito tempo para o chão ou permanecer com postura arqueada;
  • fala monótona ou devagar, com ausência de expressão e respostas monossilábicas;
  • hipocondria;
  • ideias de morte ou suicídio ou tentativas de suicídio.

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12 mil adolescentes tiram a própria vida nas Américas

A Opas (Organização Panamericana de Saúde), que é vinculada à Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgou no início de março o documento Implementation of the Regional Strategy and Plan of Action on Adolescent and Youth Health 2010-2018, que analisa os dados mais recentes sobre a saúde dos jovens em 48 países e territórios das Américas, incluindo o Brasil.

A conclusão do documento é alarmante: as três principais causas de morte entre eles não têm vínculo com questões de saúde. São homicídios (24%), acidentes de trânsito (20%) e suicídio (7%). Mais de 45 mil jovens entre 15 e 24 anos são assassinados por ano nas Américas, 30 mil morrem no trânsito e 12 mil tiram a própria vida.

O desabafo do diretor

“Sou professor desde 1979, gestor escolar desde 1986 e hoje vivi o pior dia da minha vida profissional. Assisti uma cena que nunca pensei pudesse ver: cerca de 400 alunos em total e absoluto silêncio sem estarem fazendo qualquer atividade. Eram 400 almas irmanadas soluçando e chorando a perda do irmão amado.
Arthur Dantas não era apenas um aluno querido, era um menino disfarçado em anjo. Sempre sorrindo, bonito, simpático, educado e estudioso. Tinha no olhar uma certa nostalgia, que lhe dava um charme natural, e o tornavam um ser iluminado.

As ruas do céu hoje estão em festa. Os anjos e o querubins se uniram e o receberam em paz, a mesma que em alguns momentos lhe faltou em vida.
Perdi um filho (é assim que vejo todos meus alunos)…
Se estou triste? Não. Estou destroçado. Não pela nossa perda, mas pelo que ele deixou de viver.  Resta-nos a todos, da grande família Elite Tijuca, a certeza que pessoas como ele NÃO MORREM, apenas ficam ENCANTADOS.
Vá com Deus meu filho.

 —  sentindo-se triste em Sistema Elite De Ensino – Tijuca.

 

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