SUS começa a receber novo antirretroviral para HIV produzido no Brasil

Farmanguinhos distribui um dos mais modernos antirretrovirais usados no tratamento de HIV no mundo. Anvisa aprova mais um antiretroviral contra o HIV multirresistente

O Dolutegravir 50mg é considerado um dos mais modernos antirretrovirais utilizados atualmente no tratamento de HIV no mundo (Foto: Farmanguinhos/Fiocruz)
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O Brasil se tornou referência mundial em sua política de acesso universal a antirretrovirais, e o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) já é o principal produtor público desta classe de medicamentos, atuando na ampliação da disponibilização do tratamento aos pacientes. Agora, a instituição começa a distribuição do Dolutegravir 50mg, considerado um dos mais modernos antirretrovirais utilizados atualmente no tratamento de HIV no mundo.

O medicamento foi introduzido no SUS em 2016 e distribuído a mais de 300 mil pacientes, beneficiando aqueles que ainda não iniciaram o tratamento com outros antirretrovirais ou apresentaram resistência às formulações anteriores. Em fevereiro, foi realizada a entrega da primeira remessa à instituição, um total de 16,5 milhões de comprimidos. Ao longo do ano, serão encaminhadas mais de 64,5 milhões de unidades farmacêuticas deste importante medicamento ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Parceria reduz dependência de remédios importados

O novo antirretroviral é fruto da Aliança Estratégica com a GSK e ViiV Healthcare, firmada em julho de 2020. A internalização da tecnologia do Dolutegravir se dará por meio de transferência reversa: começa pela etapa final (análise de controle de qualidade e embalagem) e, aos poucos, Farmanguinhos/Fiocruz vai absorvendo as demais etapas do processo.

Desta forma, o medicamento será totalmente fabricado no laboratório parceiro. Após esse período, o Instituto passa a produzir gradualmente a demanda. Ao final da transferência, toda a produção será executada no Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM) de Farmanguinhos/Fiocruz.

Além da absorção do Dolutegravir 50mg, o projeto prevê ainda a colaboração para fabricação local de uma combinação deste antirretroviral com a Lamivudina 300 mg em dose única diária. A tecnologia será transferida para Farmanguinhos em fases.

A parceria também vai gerar economia aos cofres públicos com redução dos custos de aquisição do medicamento, o que diminui a dependência do Programa de HIV/Aids por insumos importados, em médio e longo prazos.

De acordo com o diretor Jorge Mendonça, outro objetivo é trazer para o Brasil mais conhecimento na fabricação desses produtos estratégicos para o SUS, o que fortalece o Complexo Econômico e Industrial da Saúde (Ceis).

“Farmanguinhos sempre busca o que tem de melhor em termos de tecnologia e adesão ao tratamento. Com essa aliança estratégica, passamos a fornecer os dois principais medicamentos para o tratamento do HIV, o Dolutegravir, e mais a combinação de Tenofovir com Lamivudina”, apontou Mendonça.

A expectativa é que nos próximos dois anos, com a transferência de tecnologia, Farmanguinhos possa estar produzindo o Dolutegravir dentro da sua unidade e, no futuro próximo, fabricar a combinação dele com Lamivudina, ou outras combinações que o Ministério da Saúde, por meio do programa de DST/Aids, aprove.

Atualmente, o portfólio de Farmanguinhos conta com mais oito produtos: Atazanavir, Efavirenz, Lamivudina, Nevirapina, Zidovudina, Lamivudina+Zidovudina e Tenofovir+Lamivudina, e o Entricitabina+Tenofovir, usado na Profilaxia Pré-exposição ao HIV (PrEP).

Anvisa aprova mais um antirretroviral contra o HIV multirresistente

Outro avanço no tratamento da Aids no Brasil é a recente aprovação, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de um novo medicamento para o tratamento de HIV multirresistente, ou seja, para pessoas que  já utilizaram diversos outros tratamentos antirretrovirais mas adquiriram resistência. Ainda não se sabe quando o Rukobia (Fostemsavir), desenvolvido pela GSK/ViiV Healthcare,  estará disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), nem quando e por quanto chegará ao mercado brasileiro, para quem puder pagar pelo remédio.

De acordo com o fabricante, o novo medicamento tem indicação de uso em combinação com outros medicamentos antirretrovirais para pessoas que vivem com HIV associado a histórico de tratamentos prévios, resistência e dificuldade em compor seus esquemas antirretrovirais com os tratamentos atualmente disponíveis.

“Em ensaios clínicos, Rukobia em combinação com outras terapias antirretrovirais, demonstrou significativas taxas de supressão virológica”, afirma Jucival Fernandes, gerente médico da GSK/Viiv Healthcare. Ele também ressaltou os últimos avanços no tratamento da Aids que, apesar de ser uma doença descoberta há mais de 40 anos, até hoje não tem cura nem vacina que possa evitar ou reduzir a transmissão.

“Nas últimas décadas, conquistamos muitos avanços no tratamento das pessoas que vivem com HIV, no entanto alguns desafios ainda estão presentes. Um exemplo é a composição do esquema de tratamento para aquele paciente adulto que vive com HIV multirresistente, altamente experimentado a tratamentos antirretrovirais prévios e com dificuldade na composição do seu esquema de tratamento atual”, disse ele.

Maior resistência a antiretrovirais pode ser decorrente do coronavírus

De acordo com o Relatório de Monitoramento Clínico do HIV, atualizado em dezembro de 2021, observa-se uma tendência de declínio na resistência de todas as classes de antirretrovirais analisadas entre 2009 e 2020. Entretanto, até setembro de 2021, percebe-se um aumento da resistência, podendo ter sido ocasionado pela pandemia da COVID-19 em que muitos pacientes deixaram ou atrasaram o tratamento, comprometendo a supressão viral e favorecendo a seleção de linhagens resistentes.

Segundo o Dr. Jucival Fernandes, a definição racional dos antirretrovirais é essencial para maximizar a eficácia do tratamento. “A resistência do HIV aos antirretrovirais ocorre quando uma ou mais mutações afetam a habilidade de uma droga específica, ou a combinação delas, de inibir a replicação viral. E isso ocorre quando a pressão seletiva da droga permite que linhagens resistentes se manifestem e se estabeleçam, reduzindo a sensibilidade do vírus ao antirretroviral”, explica.

Com isso, ainda segundo o médico, a escolha do tratamento correto e eficaz se torna essencial pois pode minimizar efeitos colaterais, prevenir o desenvolvimento de resistência e, consequentemente, aumentar a duração da supressão viral, oferecendo assim a possibilidade de uma melhor qualidade de vida. “Com a aprovação de Rukobia, teremos a oportunidade de oferecer uma nova opção de tratamento a essas pessoas”, ressalta.

Com Agência Fiocruz e GSK (atualizado em 10/03/22)

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