Urticária não é emocional, mas impacto pode levar à depressão

Pacientes que não respondem ao tratamento convencional contam com imunobiológicos. No Dia Mundial da Urticária, especialistas tiram dúvidas

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Lesões avermelhadas e elevadas na pele que aparecem e desaparecem sem deixar marcas, normalmente com duração de até 24 horas e que, na maioria das vezes, são acompanhadas de uma coceira intensa e quase insuportável, com sensação de ardor ou queimação. Esses são os sintomas da urticária, que atinge mais de um milhão de pessoas no Brasil.

A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) esclarece que cerca de 20% da população apresenta um episódio de urticária em algum momento da vida. Essa condição pode acometer pessoas de ambos os sexos, em diferentes faixas etárias, do bebê ao idoso. A doença se manifesta com lesões (“empolações”) avermelhadas na pele, que coçam muito e incomodam bastante. Podem ter tamanhos diferentes e se juntar formando placas, que duram até 24 horas.

As mesmas lesões podem reaparecer em seguida, em outras partes do corpo. Em algumas pessoas, a urticária pode vir acompanhada de angioedema (“inchaço”), que aparecem em qualquer parte do corpo, sendo mais comum nas pálpebras e lábios. Na maior parte das vezes, não coça. Às vezes, pode ser acompanhado de dor ou queimação. Além disso, desaparece mais lentamente.

Tipos de urticária crônica

urticária pode ser dividida em dois subtipos – aguda e crônica -, sendo a única diferença o período de duração dos sintomas. “A aguda é a que dura menos tempo, no máximo seis semanas. É a mais frequente e ocorre, principalmente, nas crianças e adultos jovens”, explica Régis Campos, coordenador do Departamento Científico de Urticária da Asbai.

Já a urticária crônica persiste por quase todos os dias e tem duração igual ou superior a seis semanas, ocorrendo mais em mulheres entre 25 a 45 anos de idade.

Esse tipo pode ser induzido por fatores específicos como frio, calor, luz solar, aumento da temperatura corporal ou fricção na pele (urticárias induzidas), que são identificados pela história clínica e testes de provocação. Já a Urticária crônica espontânea (UCE) é a mais frequente e as lesões surgem sem que se encontre qualquer fator externo responsável.

Impactos emocionais e sociais da urticária

Em 1° de outubro, comemora-se o Dia Internacional da Conscientização da Urticária (1/10), data criada por uma organização espanhola, a Asociación de Afectados de Urticaria Crónica (AAUC), para promover mais conhecimento sobre a doença. E a troca de experiências faz sentido justamente pelo impacto da doença na vida social e emocional dos pacientes.

Interferência no trabalho, nos estudos, privação do sono, isolamento social, impacto nas relações conjugais e familiares são algumas das consequências da enfermidade. Por ter duração prolongada, a urticária crônica gera muito desconforto, ansiedade e pode até levar à depressão. Nesses casos, é necessário o acompanhamento do médico alergista juntamente outros profissionais da Saúde.

“Para ser ter uma ideia do quadro, às vezes a coceira é tão intensa que há privação do sono e a imprevisibilidade das crises gera um estado mental sobrecarregado, aumentando nos pacientes com UCE o risco de transtornos de ansiedade”, afirma Luis Felipe Ensina, especialista em Alergia e Imunologia Clínica e coordenador do Centro de Referência e Excelência em Urticária (Ucare).

Entretanto, é bom lembrar que a doença não é emocional, não é psicológica e nem ocorre por estresse. Mas quem tem urticária crônica, seja pelo prurido como pelo aspecto das lesões, acaba tendo a insegurança de não saber quando vai ter uma crise ou não.

“Isso causa impacto nos vários aspectos da vida social e afetiva. Tudo isso junto, em algumas pessoas, provavelmente naquelas mais predispostas, pode levar a quadros de depressão, por causa do impacto que tem na qualidade de vida como um todo”, conta Dr Ensina, ressaltando que não são todos os pacientes que terão depressão, pois muitos encaram muito bem a doença.

Urticária crônica espontânea

É uma coceira sem fim na barriga, nos braços, nas pernas, nas costas. Por vezes, a pele fica repleta de manchas vermelhas e, como se não bastasse, inchaço e dor podem complementar o quadro. Trata-se da Urticária Crônica Espontânea (UCE), forma mais impactante da urticária.

A UCE é muito confundida com alergia, pois ambas apresentam sintomas semelhantes. Porém, ao contrário da alergia, a UCE não é causada por agentes externos como comida, produtos de limpeza ou picada de inseto, mas sim pelo próprio organismo. As lesões (urticas) coçam intensamente e mudam de lugar, ficando no máximo 24 horas no mesmo local e somem sem deixar marcas.

Estas lesões duram mais de 6 semanas e podem estar ou não associadas a inchaço de partes do corpo, principalmente lábios, olhos e boca. Ela atinge cerca de 1,5 milhão de brasileiros, tem maior incidência nas mulheres e prejudica muito a qualidade de vida dos pacientes, sendo pior inclusive para aqueles com hanseníase ou psoríase.

Tratamento com anti-histamínicos

Apesar de ser uma doença desconhecida por mais de 90% da população e ter um enorme impacto na qualidade de vida dos pacientes, o diagnóstico da UCE não é difícil. Na maioria dos casos basta exames de sangue simples e uma história contada em detalhes para o médico dermatologista ou alergologista.

Em ambos os subtipos – agudos ou crônicos – os sintomas são causados pela histamina e, por isso, nos dois tipos de urticária, a primeira indicação de tratamento são os anti-histamínicos, preferencialmente os mais modernos, de segunda geração, que não provocam nenhum tipo de efeito colateral, como a sonolência.

“Nas urticárias agudas com sintomas moderados/graves, ou nas exacerbações das urticárias crônicas, podem ser indicados corticoides, sempre por períodos curtos de no máximo 10 dias, minimizando seus potenciais efeitos colaterais. No entanto, nunca devemos tratar uma urticária crônica com corticoides”, explica Dr Ensina.

3 dúvidas comuns sobre urticária

Rosana Câmara Agondi, membro do Departamento Científico de Urticária da Asbai e médica coordenadora do Centro de Urticária de Referência e Excelência (Ucare) do Hospital das Clínicas do HC-FMUSP, explica o diagnóstico e os avanços no tratamento da urticária.

1. Como diagnosticar um paciente com urticária?

O diagnóstico da urticária é clínico, portanto, a história clínica e o exame físico detalhados são essenciais. Os pacientes com urticária apresentam lesões na pele elevadas, na maioria das vezes, com poucos centímetros, avermelhadas e muito pruriginosas (com coceira). Porém, estas lesões desaparecem em poucas horas e não deixam nenhuma marca.

Cerca de metade dos pacientes apresenta inchaço nos lábios ou pálpebras, que podem levar até um ou dois dias para desaparecer, mas também não deixam nenhuma marca, como descamação ou feridas.

É importante investigar e afastar os principais diagnósticos diferenciais de urticária e angioedema como urticária vasculite, angioedema hereditário e doenças autoinflamatórias. O consenso mundial orienta poucos exames laboratoriais, como hemograma, após o diagnóstico clínico de urticária aguda (até 6 semanas) ou crônica (mais de 6 semanas). Entretanto, vários outros exames poderão ser solicitados conforme a história clínica do paciente.

2. Quais os avanços no tratamento da urticária?

O tratamento de primeira escolha para urticária aguda ou crônica é o anti-histamínico de segunda geração em doses licenciadas ou mesmo doses aumentadas, conforme a indicação do médico especialista.

O maior avanço até o momento é a utilização de um medicamento biológico denominado “anticorpo monoclonal” que atua se ligando a molécula (IgE) que ativa o mastócito (célula mais importante da urticária) impedindo sua função, ou seja, não há ativação das células da alergia e os sintomas não aparecem.

Dr Ensina explica que para o tratamento da UCE, em pacientes que não respondem aos anti-histamínicos, são indicados os tratamentos com imunobiológicos como o omalizumabe.  Uma pequena parte dos pacientes pode ser refratária ao omalizumabe e terão indicação da ciclosporina, um imunossupressor eficaz mas com risco de efeitos colaterais que devem ser monitorados a longo prazo.

3. Como deve ser feito o acompanhamento do paciente com urticária?

urticária crônica é considerada uma doença autolimitada, porém, a média de duração desta doença está entre cinco e 10 anos. Nos casos mais graves, eventualmente, observamos uma duração mais prolongada, acima de 20 ou mais anos.

urticária crônica mais grave ou não controlada, ou seja, quando há frequência e intensidade dos sintomas diariamente ou quase diariamente, associa-se comumente com uma qualidade de vida ruim, levando a dificuldades na vida social e emocional, interferindo no trabalho e no estudo.

Portanto, é importante que o paciente mantenha um acompanhamento médico regularmente, de preferência com um especialista, para manter o controle completo dos sintomas até que haja remissão da doença.

Dificuldades no acesso ao diagnóstico

Levantamento realizado no primeiro semestre de 2019 pela Novartis, tendo como base 352 pacientes do Programa Bem Estar com Urticária Crônica Espontânea, mostrou a dificuldade de se chegar ao diagnóstico correto: 66% dos consultados afirmaram que foram informados de que as manchas vermelhas apresentadas estavam associadas a quadro alérgico; quando indagados sobre quanto tempo levaram para obter o diagnóstico de UCE após o surgimento do primeiro sintoma, mais da metade (52%) levou mais de um ano.

Outros aspectos interessantes da pesquisa estão relacionados à questão emocional dos pacientes. Eles foram questionados sobre os impactos invisíveis da enfermidade e existe, de fato, uma associação entre a UCE e os transtornos como ansiedade e depressão; 63% tiveram ansiedade após o aparecimento dos sintomas e 37,7% tiveram depressão.

Os impactos não param por aí. A Urticária Crônica Espontânea também afeta o trabalho, 60% dos entrevistados já faltaram algumas vezes por conta da enfermidade e 29% não faltam, mas têm dificuldade de concentração ao desempenhar atividades rotineiras. E, por fim, para 74% os sintomas de UCE afetam e muito a qualidade de vida.

“É importante não desistir e procurar o diagnóstico correto é enorme: com o tratamento adequado, 92% dos pacientes podem obter o controle completo dos sintomas da UCE, vivendo com uma qualidade de vida equivalente à de uma pessoa sem a doença”, afirma o especialista.

Mitos relacionados à Urticária Crônica

– A pessoa que tem urticária crônica terá também choque anafilático?

MITO. O choque anafilático e edema na glote são mais comuns em pacientes que apresentam urticária aguda, sendo muito raros na urticária crônica.

– Urticária é contagiosa.

MITO.  A doença não é contagiosa e nem transmitida de uma pessoa para outra.

– Estou grávida e tenho urticária. Meu filho também terá?

MITO. O fato de a mãe ter urticária não significa que o filho também a terá.

– Pessoas com urticária crônica devem fazer dieta e evitar corantes, leite e glúten.

MITO. Nem toda pessoa que tem urticária terá obrigatoriamente alergia ao leite e ao glúten. Por isso, não há necessidade desta dieta, a não ser em casos específicos detectados pelo alergista.

Fonte: Asbai

 

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