8 brasileiros que marcaram as 4 décadas de epidemia da Aids

Cazuza, Renato Russo, Lauro Corona, Sandra Bréa, Cláudia Magno, Henfil, Betinho e Wagner Bello não resistiram às complicações do HIV

O cantor Cazuza foi um dos principais ícones da luta contra a Aids no Brasil (Foto: Reprodução - Internet)
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No início dos anos 1980, a imprensa brasileira começou a publicar uma série de reportagens sobre uma nova e desconhecida síndrome que, na época, era mortal: a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids, em inglês). Com abordagens marcadas por ignorância e preconceito, a doença a princípio era chamada de “câncer gay”. O vírus só foi descoberto oficialmente em 1983 pelo médico imunologista francês Luc Montagnier e se tornou uma das mais graves epidemias da História.

Hoje em dia, o portador do vírus HIV, transmissor da doença, pode ter uma vida praticamente normal, com ajuda dos avanços da medicina e uma rotina cuidadosa. Embora haja 37,6 milhões pessoas ainda vivendo com HIV no mundo, segundo os dados mais recentes da Uniaids. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a doença pode estar próxima de ser controlada. Para que esse objetivo seja alcançado, é preciso que o mundo continue investindo em prevenção, diagnóstico e tratamento.

Infelizmente, porém, nem sempre o mundo contou com uma estrutura de tratamento como existe hoje. Muitas pessoas morreram ao longo da História em decorrência de complicações causadas pelo vírus da Aids. Nos anos 1980 e 1990, só no mundo das artes, muitos talentos foram embora prematuramente.

No cenário internacional, a lista inclui nomes como Isaac Asimov (1920-1990), escritor russo radicado nos Estados Unidos; Freddie Mercury (1946-1991), músico inglês, nascido na Tanzânia; e Anthony Perkins (1932-1992), ator norte-americano. Conheça a vida e a obra de oito brasileiros famosos que lutaram contra a doença, mas não resistiram e faleceram entre os anos de 1988 e 2000, de complicações decorrentes da Aids.

1. Henfil

Henfil, humorista e cartunista, morreu aos 43 anos em 1988 (Foto: Itaci/Veja)

Mais conhecido como Henfil, o cartunista mineiro Henrique de Souza Filho foi um dos primeiros brasileiros famosos a ter a morte em decorrência da Aids divulgada amplamente. Ele faleceu no dia 4 de janeiro de 1988, aos 43 anos. Henfil herdou da mãe a hemofilia, que impede a coagulação do sangue e faz com que a pessoa fique mais suscetível a hemorragias.

O cartunista contraiu a Aids durante uma das transfusões de sangue que precisava fazer com frequência, assim como seus irmãos – o músico Chico Mário, que morreu no mesmo ano, e o sociólogo Betinho. Henfil destacou-se como um cronista de humor, tanto desenhando como escrevendo, sempre com críticas certeiras à política do país. Em plena ditadura militar, lançou a revista satírica Fradim, eternizando personagens como Graúna, o Bode Orelana e o nordestino Zeferino.

2. Lauro Corona

Lauro Corona, ator, morreu em 1989 (Foto: Adhemar Veneziano/Dedoc)

Conhecido como galã da televisão brasileira nos anos 1980, Lauro Corona fez sucesso nas novelas Dancin’ Days, Elas por Elas, Louco Amor, Corpo a Corpo e Direito de Amar. Também estrelou filmes como O Sonho Não Acabou e Bete Balanço. Em 1989, Lauro morreu de insuficiência respiratória e renal causadas por complicações decorrentes da doença. Uma das primeiras celebridades a morrer por complicações do vírus, atuava, na época, no folhetim Vida Nova. A despedida de seu personagem foi feita às pressas, utilizando um áudio do ator declamando um poema de Fernando Pessoa.

Quando Lauro passou a sentir sintomas e complicações decorrentes da infecção pelo vírus em 1988. Nesse ano, o ator perdeu muito peso, e começou a desenvolver sarcomas de Kaposi, manchas roxas decorrentes da Aids. Ele se recusava a assumir a doença, mantinha os problemas de saúde em segredo até para os amigos e tratava eventuais sintomas com homeopatia. Lauro tinha uma vida sexual discreta, por ser recordista de correspondência da Globo, evitava falar de sua orientação sexual. Chegou a namorar alguns homens, mas nunca assumiu, devido ao preconceito das pessoas contra os homossexuais.

3. Cazuza

Cazuza, que morreu em 1990, foi um dos primeiros a lutar contra a Aids no Brasil (foto: Reprodução – Internet)

Poeta do rock nacional, Agenor de Miranda Araújo Neto, conhecido como Cazuza, conquistou o Brasil com seu talento, compondo e interpretando canções marcantes. O cantor surgiu como líder da banda Barão Vermelho e aproximou-se da MPB em sua carreira solo, aclamado pela crítica. Em 1986, foi internado com pneumonia e os exames mostraram que estava infectado com o HIV.

Depois de dois meses nos Estados Unidos para se tratar com AZT, o primeiro antiretroviral conhecido no mercado, ele voltou ao Brasil para se dedicar ao disco mais importante de sua carreira: Ideologia. No início de 1989, no auge do sucesso, assumiu publicamente ser portador do HIV e passou a comparecer a premiações em uma cadeira de rodas, pois queria desmitificar a doença. Morreu um ano seguinte, aos 32 anos de idade, vítima de um choque séptico causado pela aids. Cerca de sete mil pessoas compareceram ao seu velório no dia 7 de julho de 1990.

4. Claudia Magno

Lançada no filme Menino do Rio em 1981, Claudia Magno atuou em diversas novelas da TV Globo, como Meu Bem Meu Mal, Final Feliz, Felicidade, Um Sonho a Mais, Roda de Fogo e Fera Radical. A atriz fez diversos trabalhos na televisão, como as novelas. Em 1988, venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília, por Presença de Marisa.

Em 1993, começou a enfrentar problemas de saúde e, depois de um quadro de pneumonia, descobriu ser soropositiva e teve seu tratamento custeado na época pela própria Globo. Claudia atuava na novela Sonho Meu quando foi internada por complicações do HIV. Ela faleceu por insuficiência respiratória aguda, em decorrência da aids, aos 35 anos de idade, no dia 6 de janeiro de 1994.

5. Wagner Bello

Quem não se lembra do lendário personagem Etevaldo, do “Castelo Rá-tim-bum”, seriado da TV Cultura que fez sucesso nos anos 1990 e 2000? O responsável pelo consagrado papel era Wagner Bello, que morreu aos 34 anos de idade, também em virtude de complicações da Aids, no dia 12 de agosto de 1994, inclusive durante as gravações do programa.

6. Renato Russo

Renato Russo, vocalista do “Legião Urbana”.

Um dos maiores nomes da música nacional, Renato Russo liderou com maestria a badalada banda Legião Urbana, com o qual lançou sete álbuns de estúdio e vendeu cerca de 20 milhões de discos. O músico brasiliense também lançou-se na carreira solo. Seu sucesso foi interrompido no dia 11 de outubro de 1996, também por consequência da doença. O artista tinha 36 anos de idade e, até hoje, assim como Cazuza, é idolatrado por fãs

 

 

7. Betinho

Betinho, sociólogo, idealizador da campanha nacional contra a fome e a miséria no Brasil (Reprodução de internet)

Como seus irmãos, todos hemofílicos, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, contraiu o vírus em transfusões de sangue em 1986. Tornou-se uma das figuras públicas mais atuantes na defesa dos direitos dos portadores, tendo fundado no mesmo ano a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS.

Betinho, no entanto, é mais lembrado pela Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Bastante atuante na vida política e social do país, dizia que a sua condição de soropositivo o forçava a “comemorar a vida todas as manhãs”. Morreu em 1997, em decorrência de complicações da doença, aos 65 anos.

 

8. Sandra Bréa

A atriz Sandra Bréa morreu aos 48 anos, em 2000 (Foto: Oscar Cabral/Veja)

Musa da televisão dos anos 1970 e 1980, ela atuou em novelas como O Bem Amado, Os Ossos do Barão, Elas por Elas e Ti Ti Ti. Em 1993, anunciou que era soropositiva, passando a lutar contra o preconceito e a desinformação sobre a doença.

Afastada para cuidar da saúde, declarou que não morreria de aids. “Morrerei como qualquer um, atropelada”. No final de 1999, foi diagnosticada com câncer de pulmão. Após recusar o tratamento com quimioterapia, morreu poucos meses depois, no início dos anos 2000, aos 48 anos.

 

Magic Johnson: ‘O HIV mudou minha vida’

Muitas celebridades vivem atualmente com a doença, como o ex-jogador de basquete americano Magic Johnson, que em 1991 afirmou ao público ser soropositivo. Desde então, tornou-se uma das principais vozes mundiais em defesa de mais conscientização sobre a doença.

 

“O HIV mudou minha vida. Em 1991, as pessoas consideravam a doença uma sentença de morte. A minha esposa e minha família foram o meu maior suporte, sem eles eu não estaria aqui hoje. Eu estava devastado. Mas depois de um tempo, fui ao médico e perguntei como poderia ter uma vida longa. Ele me disse três coisas: me conformar com a doença, tomar a medicação corretamente e cuidar do meu corpo. Eu fiz tudo isso e deu certo”, disse Magic no painel A magia de vencer da Expert 2020.

Websérie ‘HIV 40 anos: Aids e suas histórias!’

A partir deste domingo (5/12), a websérie  “HIV 40 anos: Aids e suas histórias!”, no canal do Youtube da Agência Aids. traz relatos comoventes de seis pessoas que vivem com HIV positivo, três delas há mais de 30 anos – Beto Volpe, Jenice Pizão e Américo Nunes Neto – e três com menos de 10 anos – Marina Vergueiro, Priscila Obaci e Diego Krausz. 

A jornalista Roseli Tardelli, que concebeu a websérie, fez as entrevistas e assina a direção junto com Aline Sasahara, que mostra nos depoimentos as mudanças no tratamento e situação do HIV no decorrer dos 40 anos de existência do vírus. “Quis promover um diálogo entre as gerações. Temos personagens que receberam o diagnóstico quando não existiam tratamentos e a geração atual que lida com mais leveza com a doença que se cronificou com o tempo”, diz ela.

Assista ao resumo, com 33 minutos e não perca os episódios completos

https://youtu.be/R1WDl_5RDjI

O lançamento da websérie ocorreu no Dia Mundial de Luta contra a Aids (1 de dezembro) durante um webinário que reuniu especialistas e ativistas para traçar a evolução em 40 anos da pandemia da Aids na ciência e no comportamento, dos medicamentos à luta pelos direitos das pessoas com HIV/Aids.  No evento, realizado, no CineSesc, o secretário de Estado da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, anunciou a assinatura da “Declaração de Paris”.

O objetivo é ampliar as políticas públicas do estado com o objetivo de zerar as novas infecções por HIV e as mortes devido às complicações da Aids até o ano de 2030. “Trabalho com HIV há 30 anos, estou empenhado em fazer ações de campanha para destituir o preconceito. Precisamos exigir dignidade e direitos às pessoas com HIV/Aids. Não podemos nos calar. Não admitimos desrespeito”, ressaltou.

Com Assessorias e Revista Veja

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