Baleias chegam mais cedo ao litoral brasileiro: bom ou mau sinal

Chegada precoce das baleias pode ser efeito de mudanças climáticas ou ‘boom’ de filhotes. Apesar de mais avistagens, risco de encalhe é maior

Baleia jubarte amamenta filhote (Reprodução de internet)
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A temporada das baleias no litoral do país começou mais cedo este ano e os pesquisadores ainda não sabem o porquê. As espécies migram para as águas quentes da costa brasileira para reprodução de julho a novembro, mas em abril já se registravam as primeiras aparições de baleias Jubarte e, no final de junho, também de baleias Franca. Entre as hipóteses, estão desde o negativo efeito das mudanças climáticas até uma festejada superpopulação de filhotes das espécies em extinção. Para quem estuda ou aprecia os mamíferos gigantes, pode ser a chance de assistir a um espetáculo nos mares, com um recorde de avistagens, como se observou no inverno de 2018, ao mesmo tempo em que a atenção deve ser maior para evitar os encalhes desses animais nas praias.

“Nos últimos anos observamos essa mudança de comportamento, mas 2021 surpreendeu: em abril já avistamos as primeiras baleias jubarte. Isso pode ser reflexo do crescimento da população ou efeito de mudanças climáticas, mas ainda é cedo para saber”, comenta o médico veterinário Milton Marcondes, do Projeto Baleia Jubarte. “Estamos acompanhando a chegada delas e, hoje, já temos a presença de jubartes desde o Rio Grande do Sul até a Bahia; e verificamos um aumento de encalhe para esta época do ano”, diz ele.

A equipe do Projeto ProFranca também percebeu a alteração e registrou, por exemplo, no final de junho, os dois primeiros filhotes de baleia-franca desta temporada, avistados em Imbituba, Santa Catarina. Por análise de imagens captadas por um drone, foi possível observar o tamanho e o comportamento dos filhotes, que estavam acompanhados de suas mães, com indicativos de poucos dias de vida.

“A presença de filhotes normalmente é observada só na segunda quinzena de julho. Nossa hipótese é de que essa antecipação pode estar relacionada a maior disponibilidade de alimento no verão, refletindo em boa condição de nutrição das fêmeas para engravidar. Foi isso que ocorreu em 2018, quando tivemos um ‘boom’ de filhotes e um recorde de avistagens”, comenta Karina Groch, diretora do projeto. Ela explica que, ”, completa.

Diante desse cenário, os projetos Baleia Jubarte e ProFranca, patrocinados pelo Programa Petrobras Socioambiental, intensificarão as pesquisas e os cruzeiros de observação nesta temporada para monitorar e identificar estes animais. Um deles é o Projeto de Monitoramento de Cetáceos da Bacia de Santos (PMC-BS), que atua de Cabo Frio (RJ) até Florianópolis (SC), cobrindo desde águas costeiras até oceânicas, a uma distância de 350 km da costa, incluindo locais com lâmina d’água com mais de 2 mil metros de profundidade.


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Novos destinos para as baleias 

Não são apenas as conhecidas jubarte e franca que gostam das águas brasileiras. Outras espécies de baleias também estão presentes na região costeira do Brasil. O Projeto de Monitoramento de Cetáceos da Bacia de Santos (PMC-BS) tem produzido dados inéditos sobre migrações de baleia-azul, baleia-fin, baleia-sei e baleia-minke-antártica, algumas espécies ameaçadas de extinção.

Entre 2015 e 2021, o projeto marcou com transmissores satelitais 2 baleias-azuis, 1 baleia-fin e 15 baleias-sei. O coordenador técnico do PMC-BS, Leonardo Wedekin, explica que os cetáceos têm vida longa, mas taxa de reprodução bem lenta. “Então, quanto mais informações tivermos no longo prazo, teremos um retrato mais apurado do ecossistema”, afirma o biólogo.

Uma novidade é o estudo colaborativo do PMC-BS junto a outras 23 instituições nacionais e internacionais que detectou novos destinos migratórios da baleia jubarte, inclusive a Antártica – até então, o destino favorito da espécie era a região das Ilhas Sandwich do Sul e Georgia do Sul. Com a utilização de uma plataforma colaborativa de comparação automatizada, utilizando inteligência artificial, de fotografias da nadadeira caudal, foi possível observar que vários indivíduos têm frequentado também a Península Antártica, o que era até então desconhecido.

Gravador registrará o ‘canto das baleias’

Além do monitoramento com drone, o projeto ProFranca realiza saídas embarcadas para coletar amostras de pele das baleias-franca com o objetivo de obter informações sobre as áreas de alimentação da espécie. A partir de agosto será intensificado o monitoramento terrestre em 15 praias no sul de Santa Catarina, desde o Cabo de Santa Marta, em Laguna, até a praia da Pinheira, em Palhoça. A equipe espera receber a visita de baleias-franca que estiveram no Brasil em 2018, uma vez que elas retornam para a área reprodutiva a cada três anos. 

O Baleia Jubarte já iniciou o trabalho de pesquisa e, para este ano, instalou um gravador acústico subaquático autônomo que ficará por semanas gravando o som das baleias, assim, será possível registar o canto das baleias ao chegarem em Abrolhos, área com maior concentração de jubartes. Em 2020, o projeto percorreu por lá cerca de 798,8 milhas náuticas durante 23 dias. Neste período, foram registrados 171 grupos. Ao todo, 433 baleias, dos quais 76 eram filhotes. 

Além disso, para esta temporada, o Baleia Jubarte conta a parceria com a universidade australiana Griffith University para uma avaliação detalhada da nutrição das baleias – pequenos pedaços da gordura dos animais serão coletados e enviados para análise dos ácidos graxos que compõe a cama de gordura das baleias. Assim, podendo identificar se estão bem nutridas ou não e usar as baleias jubarte como sentinelas para avaliar o impacto da mudança do clima sobre a Antártica.

Iniciativa da Petrobras

Além de atender a uma exigência do licenciamento ambiental federal para suas atividades de extração de óleo e gás, o financiamento de projetos como o Baleia Jubarte e o ProFranca pela Petrobras permite “ampliar as ações para gerar conhecimento, conservação e recuperação da biodiversidade”. Dacordo com a companhia, o Projeto de Monitoramento de Cetáceos da Bacia de Santos (PMC-BS) “reflete o compromisso com o ecossistema marinho e costeiro nas regiões onde a Petrobras concentra suas atividades”.

“O respeito ao meio ambiente é um valor para a Petrobras, que por meio de projetos socioambientais, busca impactar de forma positiva os biomas protegidos. Os projetos socioambientais da Petrobras têm impacto transformador. A Petrobras é reconhecida por suas ações socioambientais e, com os impactos positivos desses projetos ao longo de décadas vem reforçando sua marca e consolidando sua reputação”, informa a empresa.

 

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