Inverno e poluição aumentam o risco de infarto e AVC em 15%

Outros fatores como falta de chuva e baixa umidade no ar durante a estação favorecem agravamento de doenças cardiovasculares e respiratórias

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Com objetivo de alertar sobre os riscos ao meio ambiente e fomentar ações para conter a degradação do nosso planeta, comemora-se neste domingo (14) o Dia do Combate à Poluição. A poluição atmosférica é a quarta causa de mortes no mundo, concorrendo com tabagismo (a principal), a hipertensão e os fatores de risco dietético-nutricionais, sendo responsável por mais de 3,7 milhões de óbitos entre homens e 3 milhões entre as mulheres.

No inverno, a baixa precipitação das chuvas e o fenômeno da inversão térmica (retenção de uma camada de ar frio próxima à superfície, que dificulta a dispersão de poluentes) estão historicamente relacionados ao aumento da concentração de material particulado e gases tóxicos no ar e, consequentemente ao aumento das admissões hospitalares por doenças cardiovasculares (angina, infarto, arritmias e descompensação de insuficiência cardíaca), cerebrovasculares (acidentes vasculares cerebrais) e respiratórias (exacerbações de bronquite crônica, enfisema e asma).

Este aumento nas internações relacionado à poluição não é um evento exclusivo das grandes metrópoles; ele também já foi constatado em regiões rurais, onde incêndios florestais e queimadas aumentam substancialmente a concentração de poluentes no ar, superando a origem veicular, que predomina nos centros urbanos. Nas áreas onde a prática de queimadas ainda ocorre, muitas vezes desrespeitando leis federais, estaduais e protocolos ambientais, as internações hospitalares acompanham muito nitidamente a curva de elevação da poluição no ar.

“Os riscos de infarto são maiores no inverno porque chove menos e elevando os níveis de poluição. Isso significa que existem mais partículas em suspensão e mais monóxido de carbono circulante. Todo esse material é nocivo ao nosso organismo e aumenta o risco de desenvolver doenças cardiovasculares e pulmonares”, explica Hélio Castello, cardiologista e coordenador do serviço de hemodinâmica e cardiologia Intervencionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

O especialista chama atenção também para o clima frio, que faz com que os vasos sanguíneos se contraiam, diminuindo os calibres em todo o corpo. “Esse tipo de estreitamento é especialmente preocupante para pessoas que já têm algum grau de obstrução ou entupimento nas artérias do coração, porque acaba deixando os vasos ainda menores, o que aumenta a chance de um infarto”, ressalta.
A alimentação é outro fator que requer uma atenção especial nesta época do ano, porque tende a ser mais calórica. “No inverno, é comum abusarmos de comidas mais gordurosas e isso também afeta o coração, que precisa trabalhar mais para fazer a digestão. Além disso, esse tipo de dieta oferece mais colesterol, mais triglicérides e mais açúcar, substâncias que acabam afetando negativamente a pressão arterial e o coração”.
A manutenção do uso de máscara também é recomendada: “Usar máscara, uma prática que se tornou comum durante a pandemia, pode ajudar a filtrar o material particulado do ar que fazem mal tanto para o coração quanto para o pulmão, mas não impede a inalação de gás carbônico”, diz. O especialista recomenda também a ingestão de líquidos, especialmente água.
Para minimizar as consequências que o inverno e a poluição trazem para o nosso organismo, o especialista aconselha alguns cuidados que podem ser adotados por pessoas de todas as idades e, em especial, pelos idosos.

“Devemos tomar todas as vacinas, não só as da Covid-19. A vacinação contra a gripe, que previne contra vários tipos de Influenza, como o H1N1, previne também contra a pneumonia. Essas doenças aumentam as chances de infarto ou AVC porque levam o corpo a um estado inflamatório, que aumenta a chance de coagular o sangue e de contrair os vasos que podem levar ao entupimento das artérias e ao infarto”, esclarece.

cardiologista alerta, inclusive, para a manutenção do tratamento farmacêutico: “É importante não interromper a medicação recomendada pelo seu médico, fazer controle dos níveis de pressão e não descuidar da dieta. Temos que tomar cuidado para não comer alimentos gordurosos com frequência e ficarmos atentos aos sinais do corpo. Se notar alguma alteração importante, procure um médico”, aconselha.

Poluição e frio afetam também o sistema respiratório

Além do material particulado e de gases como os óxidos de enxofre emitidos pelos escapamentos dos carros, temos também o ozônio, um gás considerado poluente secundário, isto é, uma substância nociva que se forma a partir de reações químicas entre outros poluentes, como os óxidos do nitrogênio e os compostos orgânicos voláteis, com o oxigênio do ar.

Essas reações, facilitadas pela radiação ultravioleta da luz solar, são particularmente mais intensas em locais de alta concentração de veículos automotores e em dias e horários mais ensolarados, como frequentemente presenciamos no inverno. O ozônio, tão importante em camadas mais altas (a partir de 20 mil metros) da atmosfera por bloquear radiação ultravioleta, aqui no nosso meio é considerado um poluente, causando inflamação nas vias aéreas e contribuindo para o adoecimento e mortalidade por doenças respiratórias.
As variações bruscas de temperatura podem trazer ainda mais preocupação por reduzir os mecanismos de defesa do sistema respiratório. Segundo Gustavo Prado, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, essa amplitude térmica que temos enfrentado nos últimos dias prejudica o batimento dos “cílios” das células que revestem o aparelho respiratório.

“Os cílios fazem um batimento, como se fossem remos de uma embarcação, empurrando qualquer impureza, como material particulado e secreção, em direção às vias de saída, que são boca e nariz. Quedas bruscas de temperatura paralisam temporariamente essa atividade ciliar e isso favorece acúmulo de material particulado, impurezas e secreção, podendo causar inflamações e infecções no trato respiratório”, esclarece.

Cuidados com o tempo seco

O especialista destaca ainda a importância de tomar algumas precauções em épocas de tempo seco. “Quando o tempo está seco e temos que lidar com uma maior concentração de poluentes no ar, como gases e material particulado, temos mais chance de favorecer uma desidratação das vias áreas levando a alterações nas características da secreção respiratória, que fica mais espessa e com maior tendência a acúmulo”, elucida e complementa: “Nesses casos é importante lavar as narinas com soro fisiológico, que além de limpar, hidrata a mucosa nasal, o que traz mais conforto”.
Para minimizar os efeitos da poluição nessa época do ano alguns cuidados podem ajudar, como, como evitar ambientes fechados sem ventilação e com maior concentração de pessoas, que favorecem a transmissão de infecções respiratórias, como gripes e resfriados, além da própria Covid-19.

Outras dicas do pneumologista são maior ventilação dos ambientes, manutenção preventiva de aparelhos de ar-condicionado, manter-se bem hidratado, fazer uma alimentação saudável e praticar esportes regularmente. “Para as pessoas com doenças respiratórias, aconselho manter um cuidado redobrado em relação à aderência do tratamento proposto pelo médico. Não relaxem no uso dos medicamentos, nem nos cuidados gerais”, orienta.
O pneumologista traz ainda dicas importantes para os praticantes de exercício à céu aberto. Segundo ele, do mesmo jeito que o surfista olha a tábua de marés antes de ir à praia, quem faz exercícios na rua precisa também acompanhar a qualidade do ar e procurar fazer essa atividade, minimizando a inalação de poluentes de origem automotiva.

“Para quem pode escolher quando se exercitar, evite os horários do rush, entre 7h e 8h da manhã e entre 5h e 6h da tarde, além do horário do almoço, que, por causa da maior incidência de radiação solar, é o horário de maior concentração de Ozônio, um poluente que provoca inflamação nas vias aéreas e exacerbação de doenças respiratórias. Sempre também é importante dar preferência a ruas secundárias, evitando grandes vias de tráfego de veículos”, recomenda.

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