Infarto no inverno: meia hora de atividade física pode evitar

Cardiologista alerta para erro comum no inverno: a falta de atividades físicas. Apenas 30 minutos por dia pode evitar infarto e outras doenças

30 minutos de caminhada no inverno podem prevenir infarto e outras doenças cardiovasculares (Foto: Agência Brasil)
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Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), durante a pandemia no ano passado, as mortes por doenças cardiovasculares cresceram 31% no Brasil. A estimativa é que, ao final deste ano, quase 400 mil cidadãos brasileiros morrerão por doenças do coração e da circulação.  Essa estatística dramática poderia ser evitada de forma muito simples e sem custo. Para piorar a situação, no período mais frio do ano, o número de infartos pode aumentar em 30%, segundo dados do Instituto Nacional de Cardiologia (INC).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 260 mil mortes por ano, causadas por câncer e doenças do coração, poderiam ser prevenidas se toda a população brasileira realizasse, ao menos, 30 minutos de exercícios físicos diariamente e mantivesse uma boa alimentação. A prática regular de atividade física proporciona muitos benefícios à saúde especialmente na prevenção e no tratamento das doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão, diabetes, colesterol alto e obesidade, que são importantes fatores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronária, um problema que consome a vida de tantas pessoas.
Para especialistas, o aumento no número de infartos no inverno tem relação direta com a redução das atividades físicas durante os dias frios. “O exercício físico promove exatamente o contrário ao resfriamento do corpo: o esforço desencadeia dilatação imediata e, posteriormente, duradoura dos vasos sanguíneos, favorecendo o bom fluxo por todos os órgãos, inclusive pelo coração”, explica Maurício Venâncio Sperandio, especialista em Medicina Interna e Cardiologia e médico do Hospital Cardiológico Costantini.

Se a pessoa já possui um processo de obstrução em desenvolvimento, restringindo a passagem de sangue pelo vaso coronariano, durante o inverno essa condição pode piorar. “A contração das artérias, devido ao frio, reduz o fluxo sanguíneo e provoca um desequilíbrio adicional entre a oferta e a demanda de oxigênio levado ao músculo do coração”, acrescenta.

O que é vasoconstrição e porque ela ocorre?

Silvio Gioppato, coordenador médico-científico nos serviços de Cardiologia Invasiva do Vera Cruz Hospital, em Campinas, afirma que, infelizmente, com a chegada do inverno, as pessoas tendem a reduzir ou interromper suas atividades físicas. Esse desânimo, provocado pelo frio e pela chuva, entretanto, deve ser deixado de lado para não atrapalhar o programa de condicionamento pessoal que, durante o inverno, merece uma atenção especial.
Silvio Gioppato, coordenador médico-científico nos serviços de Cardiologia Invasiva do Vera Cruz Hospital, em Campinas (Foto: Divulgação)
De acordo com o médico, é muito importante ficar atento ao coração durante o inverno. “O frio produz um fenômeno de vasoconstrição no sistema circulatório e isso expõe o coração a uma sobrecarga de trabalho que pode desencadear eventos cardíacos%”, alerta o especialista. A  vasoconstrição é a diminuição do calibre (diâmetro) dos vasos sanguíneos. Ela se dá ao longo de todo o sistema circulatório, mas é mais intensa nas extremidades (face, mãos e pés).
“Por isso, nos dias frios as mãos e os pés ficam mais gelados. Esse fenômeno é um mecanismo de defesa do corpo para manter a temperatura corporal estável”, explica. As extremidades, devido à grande rede de vasos, funcionam, segundo ele, como o radiador dos carros por onde se perde muito calor. Então, para diminuir a superfície de perda térmica, o sistema nervoso central, de acordo com a temperatura interna, envia mensagens aos vasos periféricos para dilatar ou contrair conforme a necessidade de perda ou conservação de calor.

Infarto no inverno: alimentação também pesa

Outra condição que pode estar diretamente relacionada a esse número é a alimentação. Na luta entre gastar energia para manter uma temperatura adequada, o organismo pede por mais comida e, instintivamente, o ser humano procura comer alimentos mais calóricos e ricos em gordura, por serem fontes mais robustas de energia. “A má alimentação tem íntima relação com o processo de formação e deterioração das placas de gordura que entopem nossas artérias e conduzem ao infarto”, esclarece Dr. Maurício.

Mas de que forma isso pode ser evitado? Além de permanecer realizando as atividades físicas que mais lhe agradam em dias frios, também é aconselhado a ida ao médico para uma avaliação de saúde periódica. “Cultivando a saúde e controlando doenças hoje, nós colhemos prevenção de complicações no amanhã”, destaca. Outras maneiras de prevenir o ataque cardíaco é manter uma alimentação balanceada, o controle emocional e também a supervisão de possíveis doenças subjacentes, como hipertensão arterial, diabetes e colesterol alto.

Ele lembra ainda que uma das preocupações de médicos de outras especialidades era que as pessoas deixassem de procurar o atendimento por medo do contágio da Covid-19. “Infelizmente, esse receio se concretizou. Perdemos muitas vidas para o medo”, enfatiza Dr. Maurício. O médico relata que alguns pacientes, com sintomas relativamente leves, mas que em situações normais buscariam atendimento, relutaram em se dirigir aos hospitais para avaliação.

Outros, por falta de renovação de orientações e até vencimento de receitas médicas, interromperam suas medicações. Além de casos em que foi ocasionado o infarto pela falta de avaliação preventiva. “Neste ano, por diversos motivos, de pouco em pouco os atendimentos estão se regularizando. Mas ainda é incerto quantos se encontram amedrontados em buscar seus médicos para atualizar suas avaliações”, conclui.

Infarto no inverno: cuidados para proteger o coração

• Nas atividades ao ar livre, é importante estar agasalhado e proteger as extremidades com luvas, meias e calçados fechados. Se for nadar, leve um bom agasalho (saída de banho) para se proteger e aquecer ao sair da água. Prolongue o período de aquecimento para dar tempo ao seu organismo de se preparar para a atividade. Lembre-se, o coração já está sob uma carga maior de trabalho, portanto, se aumentar subitamente e em muitas vezes essa sobrecarga, talvez ele não suporte;

• Na medida que o corpo for aquecendo, diminua gradativamente a quantidade de agasalhos, mas evitar ficar muito exposto ao frio e mantendo sempre as mãos protegidas;

• Do mesmo modo que no aquecimento, prolongue o tempo de recuperação reduzindo gradativamente a intensidade do exercício, informando ao sistema cardiovascular que a atividade está chegando ao fim. Finalize com um bom alongamento;

• Essa é para não engordar e vai especialmente para os praticantes de atividades aquáticas. No frio, o cérebro nos induz a comer mais, principalmente alimentos ricos em energia como os carboidratos e gorduras (pães, bolos, chocolate, etc.). Por que isso? A resposta é simples: para “manter calor”. Portanto, se a pessoa não se cuidar, irá comer mais do que o necessário, colocando em risco a manutenção do peso.

Bons hábitos podem prevenir isquemias

A cirurgiã vascular Fátima El Hajj ressalta que o risco de problemas vasculares, como as isquemias de membros inferiores em pacientes arteriopatas, podem ser potencializadas durante o inverno. Segundo ela, o frio contrai as artérias, ocasionando a má circulação do sangue. Pés e mãos frias, dedos azulados, dor forte nos pés, mesmo em repouso, úlceras e feridas nos membros são sintomas que devem ser observados e tratados.

Ela explica que a prevenção é baseada em bons hábitos de vida: alimentação saudável, exercícios físicos regulares e não fumar. “A dieta mediterrânea, rica em vegetais frescos, proteína magra, frutas antioxidantes e gorduras saudáveis pode ser uma grande aliada para a saúde cardiovascular”, explica a especialista. Além disso, é importante manter os exames preventivos em dia, como índice tornozelo-braquial (ITB), realizado no próprio consultório, e o Ultrassom Doppler, que é o “estetoscópio” do cirurgião vascular.

“Em nenhuma doença o paciente deve se automedicar, especialmente nas patologias vasculares que o tratamento envolve antiagregante plaquetários e anticoagulantes, que podem ocorrer sangramentos graves sem a orientação médica. Para quem apresenta dor sem isquemia crítica, o tratamento é medicamentoso aliado a mudança de hábitos de vida e atividade física orientada. Mas, quando se apresenta dor em repouso e lesão trófica, normalmente são abordados cirurgicamente”, explica.

Com Assessorias

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