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O peso do suicídio: 5 passos para ajudar uma pessoa em risco

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Por Rosângela Sampaio*

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de pessoas que comete suicídio anualmente é maior do que as que morrem em todos os conflitos mundiais combinados. A assistência de profissionais na prevenção do suicídio, a uma escala mundial, é importantíssima e claramente necessária. Atualmente, 83% dos países-membros da OMS apresentam queda nos índices de suicídio ao longo dos últimos dez anos. O Brasil está entre os 17% em que os números aumentam.

Entre os que tinham elevadas taxas e conseguiram uma diminuição, é possível citar China, Japão, Coréia do Sul, Índia, Rússia e Inglaterra, e as razões são diversas: programas nacionais de amparo ao desemprego, de cuidados de saúde paliativos, taxação do álcool, a urbanização, desarmamento, melhores condições de vida para mulheres, aumento de acesso a serviços de saúde mental.

Estima-se que cerca de 90% dos indivíduos que puseram fim às suas vidas cometendo suicídio tinham alguma perturbação mental e que, na altura, 60% deles estavam deprimidos. Na verdade, todos os tipos de perturbações do humor têm sido claramente associados aos comportamentos suicidas.

A depressão e os seus sintomas (como, por exemplo, tristeza, ansiedade, irritabilidade, perturbações do sono e da alimentação) devem alertar para o potencial risco de suicídio. Existem inúmeras situações e fatores de risco que podem levar ao suicídio e vão desde baixos níveis educacionais, perda de emprego, estresse social, problemas com o funcionamento da família, relações sociais, e sistemas de apoio, trauma, tal como abuso físico e sexual e perdas pessoais.

Outras questões que podem levar um indivíduo a este ato extremo são perturbações mentais como depressão, transtornos da personalidade, esquizofrenia, abuso de álcool e de substâncias, sentimentos de baixa autoestima ou de desesperança, questões de orientação sexual e falta de controle da impulsividade. Comportamentos autodestrutivos, poucas competências para enfrentar problemas, doença física e dor crônica, exposição ao suicídio de outras pessoas, acontecimentos destrutivos e violentos (tais como guerra ou desastres catastróficos) são outros fatores.

O risco elevado de suicídio também tem sido associado com esquizofrenia, abuso de substâncias, perturbações da personalidade, perturbações da ansiedade, incluindo perturbação de estresse pós-traumático. Aproximadamente 10 a 15% dos indivíduos com esquizofrenia cometem suicídio, que assim é consistentemente a causa de morte mais comum entre os indivíduos que sofrem de psicose.

Alguns exemplos de objetivos almejados com a tentativa de tirar a própria vida são a cessação de dor existencial; desencanto melancólico;  vingança contra desafetos;  reencontro com um ente falecido; fuga maníaca rumo ao prazer ou a uma vida melhor;  escape de perseguidores; exposição e imortalidade midiáticas (suicídio on-line);  controle do momento e medo da morte; defesa da honra; martírio altruístico ou redentor.

Crianças e adolescentes são mais vulneráveis

Em 2013, a revista científica JAMA (de Journal of the American Medical Association) publicou um estudo sobre intencionalidade suicida (Nock e colaboradores, 2013) com seguimento durante cinco anos de 6.500 adolescentes, com idades entre 12 e 18 anos. A pesquisa buscava investigar o percentual de pessoas com pensamentos suicidas que chegam a uma tentativa de tirar a própria vida. Ao final do primeiro ano, um pouco mais da metade dos jovens que relataram planos de suicídio tinham tentado se matar.

Os comportamentos suicidas entre crianças e adolescentes muitas vezes envolvem motivações complexas, incluindo humor depressivo, problemas emocionais, comportamentais e sociais, e abuso de substâncias. Outros fatores de suicídio entre os jovens incluem a perda de relações românticas, a incapacidade de lidar com desafios acadêmicos e outras situações estressantes da vida, e questões associadas com poucas competências para resolver problemas, baixa autoestima, e conflitos em torno da identidade sexual. 

As crianças suicidas frequentemente experimentam uma vida em família disfuncional e conflituosa onde mudanças, tais como o divórcio, podem resultar em sentimentos de desamparo e de perda de controle. Entre os adolescentes, uma história familiar com doenças psiquiátricas, a par de níveis elevados de disfunção familiar, rejeição pela família, e negligência e abuso na infância aumentam o potencial para o suicídio.

Os suicídios consumados de jovens estão associados a taxas mais elevadas de perturbações psiquiátricas na família, menor apoio familiar, ideação ou comportamento suicida anterior, problemas disciplinares ou legais, e armas de fogo prontas a disparar em casa. A ideação suicida e a tentativa de suicídio aparecem mais frequentemente entre crianças e adolescentes que foram vítimas de abuso por parte de colegas ou por parte de adultos.

Atenção às ideações suicidas dos idosos

 A depressão é amplamente reconhecida como sendo o principal fator associado com o comportamento suicida na idade avançada. Entre os idosos, surge frequentemente a questão do uso indevido de medicamentos como um meio para o suicídio. No entanto, o benefício que se obtém com o tratamento da depressão contrabalança largamente qualquer impacto negativo da medicação antidepressiva.

O número de suicídios entre os idosos pode ser diminuído se estivermos atentos às mensagens suicidas. Cerca de 70% dos idosos que cometem suicídio são conhecidos por partilhar as suas ideações suicidas com um membro da família ou com outros indivíduos antes de cometerem o seu ato fatal. Portanto, fique de olho.

Falsas crenças sobre comportamentos suicidas

As pessoas que falam sobre o suicídio não farão mal a si próprias, pois querem apenas chamar a atenção.

FALSO. Todas as ameaças de se fazer mal devem ser levadas muito a sério. 

O suicídio é sempre impulsivo e acontece sem aviso.

FALSO. Indivíduos suicidas comunicam algum tipo de mensagem verbal ou comportamental sobre as suas ideações da intenção de se fazerem mal.

Quando um indivíduo mostra sinais de melhoria ou sobrevive a uma tentativa de suicídio, está fora de perigo.

FALSO. Na verdade, um dos períodos mais perigosos é imediatamente depois da crise, ou quando a pessoa está no hospital, na sequência de uma tentativa. 

O suicídio é sempre hereditário.

FALSO. Nem todos os suicídios podem ser associados à hereditariedade e estudos conclusivos são limitados. Uma história familiar de suicídio, no entanto, é um fator de risco importante para o comportamento suicida, particularmente em famílias onde a depressão é comum. 

Os indivíduos que tentam ou cometem suicídio têm sempre alguma perturbação mental.

FALSO. Os comportamentos suicidas têm sido associados à depressão, abuso de substâncias, esquizofrenia e outras perturbações mentais, além de aos comportamentos destrutivos e agressivos. A proporção relativa destas perturbações varia de lugar para lugar e há casos em que nenhuma perturbação mental foi detectada. 

O suicídio só acontece “aqueles outros tipos de pessoas,” não a nós.

FALSO. O suicídio acontece a todos os tipos de pessoas e encontra-se em todos os tipos de sistemas sociais e de famílias. 

5 PASSOS PARA AJUDAR UMA PESSOA SOB RISCO DE SUICÍDIO 

1 – Encontre um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio com essa pessoa. Deixe-a saber que você está lá para ouvir, ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio.

2 – Incentive a pessoa a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. Ofereça-se para acompanhá-la a um atendimento.

3 – Se você acha que essa pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa

4 – Se a pessoa com quem você está preocupado(a) vive com você, assegure-se de que ele(a) não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo, armas de fogo ou medicamentos) em casa.

5 – Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo.

ONDE BUSCAR AJUDA?

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.

A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.

Também é possível acessar www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre ligação gratuita.

*Rosangela Sampaio é psicóloga (CRP06/130574) e coach, pós-graduada em Psicologia e Saúde da Mulher, Fitoterapia e Prescrição de Fitoterápicos e Terapia Cognitivo Comportamental, Professional & Career Coaching. Escreve uma vez por mês, aos sábados, para a seção Palavra de Especialista, do Portal ViDA & Ação. Instagram: @rosangelasampaiooficial / E-mail: rosangelasampaio57@hotmail.com

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