Pais ausentes: vale a pena compensar os filhos com presentes?

Especialista dá dicas para pais terem tempo de qualidade com os filhos. Uma alternativa é o trabalho freelance, que cresce mais a cada dia

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Dia desses minha filha – que a partir deste ano se autoexcluiu da categoria de ‘criança’, mas não esqueceu de pedir seu presente para o dia 12 – chegou em casa falando da história dos pais que saíam todos os dias cedo de casa e voltavam muito tarde, mas sempre deixavam algum presentinho para o filho. Com ar de reprovação daquela atitude, ela me mostrava o quanto, mais importante que o presente, era a presença daqueles pais para aquela criança. Fiquei feliz com sua avaliação e entendi na hora o quanto eu acertei na sua educação, mesmo muitas vezes precisando estar longe por conta de trabalho.

Na semana do Dia das Crianças, com a avalanche de propagandas para mais e mais presentes, trazemos à pauta um assunto não muito discutido no ambiente familiar: a ausência dos pais. Muitos pais, até mesmo por questão de necessidade e para oferecer um futuro melhor para seus filhos, precisam estar ausentes de casa e acabam compensando esse tempo com presentes, ainda que algumas vezes sem perceber – ou sem nenhuma maldade, como acreditamos.

Para a especialista em Desenvolvimento Humano, Rebeca Toyama, esse comportamento tem um efeito muito negativo na vida dos pequenos. “É certo que diante de uma vida extremamente corrida, nem sempre os pais conseguem estar presentes na vida dos filhos como desejam e os motivos são inúmeros: o mais comum é o trabalho. Com isso, a melhor maneira é encarar a realidade sem culpa e transformar o tempo que se fica com os filhos em tempo de qualidade”, recomenda.

Segundo ela, o ponto central é ter clareza do real papel dos pais e entender que resolver questões emocionais com presente não é saudável, principalmente, a longo prazo. Essa estratégia pode inclusive gerar um comportamento compulsivo no futuro, além de poder transformar a forma como estas crianças irão enxergar o mundo e as pessoas ao seu redor.

Rebeca diz que é importante mostrar para as crianças o motivo que o deixa longe em alguns períodos do dia, contando com cautela para não falar apenas das obrigações e necessidade financeira.

Isso pode criar aversão nas crianças pelo assunto. Tenho observado muito isso quando estou conduzindo planejamento de carreira com jovens. Falar sobre legado e propósito, inclusive, pode ser educativo, compartilhar o impacto de seu trabalho na sociedade pode ajudar muito seu filho na hora dele escolher a vocação”, destaca.

Utilizar o tempo que se tem livre para dar afeto e atenção também é essencial. A dica é criar momentos em que possa se desenvolver a intimidade com os filhos, pois isso permite exercitar afeto ao invés de trocas materiais.

Veja também:

Dia das Crianças: O melhor presente é ser presente

Planejamento financeiro para as crianças

Ela também lembra a importância de apresentar o planejamento financeiro para as crianças, pois, quanto mais cedo, maior será a consciência em relação ao dinheiro. É preciso ser um bom exemplo para os filhos, pois eles vêem os pais como referência e estão sempre observando os atos. Na vida financeira, a tranquilidade é desejável mas se isso não for possível, que os filhos vejam o controle de orçamento dos pais em detalhes do dia a dia.

Costumo sugerir que o quanto antes iniciarmos a educação financeira melhor. Claro que respeitando a faixa etária, uma criança de 6 anos aprende de uma forma diferente que uma criança de 10 anos, mas ambas são capazes de ampliar seu repertório a partir de experiências vividas”, explica Rebeca.

Segundo ela, o Dia das Crianças pode ser uma excelente oportunidade de ensinar a escolher o presente ou lidar com o dinheiro recebido da família. Na experiência dentro da loja, com o processo de compra temos a oportunidade fazer várias reflexões sobre arquitetura de escolha.

Em casa temos como hábito guardar uma parte do dinheiro e destinar outra parte para comprar o que eles quiserem. Costumamos comprar brinquedos ou presentes apenas nas datas comemorativas: dia das crianças, natal, páscoa e aniversário. Apenas 4 por ano, pois isso nos permite exercitar afeto ao invés de trocas materiais no restante do ano e preencher nosso tempo com arte, natureza e cultura ao invés de ocupá-lo com comprinhas”, finaliza.

O importante é saber dosar sua atenção para não se dedicar 100% em só uma área. Ela dá 8 dicas para os pais entenderem como ter um tempo de qualidade com as crianças e como administrar a vida profissional com a vida paterna/materna:

Tempo de qualidade com as crianças
  1. Primeiramente, lembrar em qual dos seus papeis você figura é insubstituível e dar o devido valor a esse papel;
  2. Não esquecer do autocuidado, alguém doente, cansado ou irritado não consegue ter qualidade em nenhum tipo de relação;
  3. Converse com os filhos sobre o que eles gostariam de fazer com você, evite tentar adivinhar, a margem de erro é enorme;
  4. Procure realizar atividades junto com seus filhos, assim você otimiza o tempo e ainda aproveita para ensinar e educar, além de aproveitar momentos incríveis. Lembre-se que precisa ser leve, sem cara de obrigação, fazer a lição de casa, lavar louça, arrumar a cama, cozinhar, por exemplo, são gestos possíveis.
Como equilibrar vida profissional e vida materna/paterna
  1. Saiba negociar prazos com seu gestor, seja realista e coerente com cronogramas, isso também ajuda a evitar estresse;
  2. No trabalho seja objetivo, seus resultados não deveriam estar pautados em quantidade de tempo e sim em qualidade de entrega;
  3. Saber colocar limites claros e negociar com os envolvidos de quem é sua prioridade nos diferentes momentos da semana e do dia, saiba respeitar o horário comercial e diferenciar os dias da semana, do final de semana;
  4. Estar presente no aqui e agora, tanto nos momentos em família, quanto nos momentos profissionais. Isso quer dizer distância de aparelhos eletrônicos, enquanto está com os filhos, assim como é desejável que os pequenos que se desliguem quando estão com os pais. E assim, quando estiver no trabalho estará livre de culpa.

Trabalho freelance permite mais tempo com os filhos

Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 39% dos brasileiros passam mais de uma hora no trânsito, nas cidades com mais de 100 mil habitantes, para se deslocarem cotidianamente. Além da jornada de trabalho de dependência tradicional, muitos brasileiros ainda possuem filhos para cuidar quando retornam para casa. Essa rotina, caracterizada muitas vezes pelo estresse e relacionada com a qualidade de vida das pessoas, abriu caminhos e possibilidades para driblar a falta de tempo com as crianças.

Muitos pais vêm mudando sua rotina de trabalho para passarem mais tempo com seus filhos e poderem acompanhar mais de perto o seu crescimento. É o caso da jornalista Fernanda Alvarenga, que trabalha como freelancer há 9 anos, produzindo conteúdos para agências de publicidade e comunicação.

Quando minha filha fez 6 anos e começou a cursar o Ensino Fundamental I, eu optei em deixar o ambiente corporativo, em um cenário em que eu saía de casa às 6h e voltava às 21h, para acompanhar seu crescimento de perto. Eu já era mãe solo e morávamos sozinhas, não me parecia correto deixar uma criança com babá durante muito tempo ou contar com o suporte de familiares. Da mesma forma, a ideia em deixá-la em um colégio integral me incomodava”, conta a profissional.

O ‘Relatório do trabalho independente e empreendimentos’, realizado pela Workana, plataforma que conecta freelancers a empresas, mostra que 44,6% dos freelancers têm filhos. Em média, aproximadamente 334 mil dos freelancers brasileiros que são pais, trabalham em casa. Um dos fatores para a escolha da modalidade freelance é que 86% dos profissionais querem ser responsáveis por manejarem seus próprios horários e poderem trabalhar em suas casas. Considerando que os 334 mil freelancers brasileiros gastariam pelo menos 1 hora por dia no trânsito, equivale a um total de 11 dias economizados ao longo do ano, e para quem tem filho em casa, trabalhar como freelancer é mais um grande benefício da modalidade.

Miguel de Almeida, de 38 anos, pai de 2 crianças, e designer que atua como freelancer há aproximadamente um ano. Ele conta que, utilizando a plataforma para complementar sua renda, conseguiu uma estrutura para ter mais qualidade de vida e ficar mais tempo com a família. “Ao me tornar freelancer, tive a possibilidade de enxergar um horizonte, pois potencializei meus ganhos com os trabalhos extras e consegui uma folga nas finanças para curtir mais a família”, aponta Miguel.

Guillermo Bracciaforte, cofundador da Workana, aponta que a atividade freelance, que cresceu 80% em 2018, vem trazendo uma nova oportunidade para os profissionais, proporcionando mais flexibilidade e possibilidade de adaptação à rotina. “A atividade freelance permite que os profissionais continuem exercendo suas profissões, mas com mais conforto e autonomia”. A plataforma reúne mais de 2,5 milhões de profissionais de toda a América Latina, permitindo a contratação de serviços nas áreas de TI e programação, design e multimídia, tradução e conteúdos, marketing e vendas, suporte administrativo, jurídico, finanças e administração e engenharia e manufatura.

Com Assessorias

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