Perda involuntária de xixi afeta a qualidade de vida até na ‘hora H’

Incontinência urinária atinge principalmente as mulheres, especialmente gestantes e puérperas. Dois especialistas explicam as razões e como tratar

A dançarina Thais Carla relatou que sofre com a perda involuntária de xixi (Foto: Divulgação)
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Perder urina involuntariamente não deve ser visto como algo normal e afeta a qualidade de vida das pessoas (até mesmo na hora do sexo). Por vergonha, muitas deixam de ir ao médico (urologista), para perguntar e começar um tratamento que resolva a questão. O problema é mais comum do que se imagina.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 5% da população mundial têm incontinência urinária, sendo que a prevalência maior é nas mulheres. Dados de uma pesquisa realizada pela OMS no Brasil, em 2018, mostram que cerca de 26% das mulheres enfrentam a questão, contra 11,5% dos homens.  Três entre cada dez pessoas terão Incontinência Urinária ao longo da vida, atingindo mais as mulheres.

No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, mais de 10 milhões de pessoas, entre homens e mulheres de diferentes faixas etárias, incluindo gestantes e puérperas, sofrem com a perda súbita de urina de forma involuntária pela uretra. A disfunção pode acometer pessoas jovens e de ambos os sexos. Porém, a partir dos 65 anos de idade, acomete 20% das mulheres e 10% dos homens.

Envelhecimento, estilo de vida, obesidade, tabagismo, alimentação inadequada. Estes são alguns dos fatores relacionados à incontinência urinária, ou seja, a perda de urina de forma involuntária, não controlada, pela uretra. A condição, rodeada de estigmas, muitas vezes por falta de informação ou a não procura por um especialista, pode afetar a vida social, emocional e sexual da pessoa.

“É uma condição que afeta além do bem-estar físico. Prejudica a qualidade de vida, tem reflexos emocionais, psicológicos e sociais em todos os pacientes”, explica o médico Marcelo Bendhack, urologista e uro-oncologista, professor da Universidade Positivo e membro do Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba (PR).

Escapes de xixi são comuns na gravidez

Atriz Camilla Camargo contou como os escapes estiveram presentes durante a sua primeira gravidez e também após o parto (Foto: Divulgação)

 

Em um vídeo-relato em seu Instagram, a atriz Camilla Camargo contou como os escapes estiveram presentes durante a sua primeira gravidez e também após o parto: “É preciso pedir ajuda, a melhor coisa pra mim foi a fisioterapia pélvica, não sofro mais com esse problema, e na minha segunda gestação não aconteceu o mesmo. O tratamento me auxiliou a entender o que era e como tratar, principalmente referente ao cuidado com a minha saúde íntima”, disse.

A dançaria Thais Carla (foto) também revelou que teve escapes durante sua última gestação. “Na minha última gravidez, sempre quando dava risada escapava um pouco de xixi, mas fui procurar ajuda médica. Precisamos falar sobre o tema, procurar especialistas, além de usar produtos adequados. Essa questão acontece com diversas mulheres em todas as idades ou fases da vida! Você nunca está sozinha”, comentou Thais.

Segundo a ginecologista e obstetra Rebeca Gerhardt, os escapes, que acometem bastante as gestantes e puérperas, acontecem quando há o enfraquecimento do assoalho pélvico e a musculatura perde força, elasticidade e a capacidade de funcionar.  “Ao se deparar com os escapes de urina, uma das primeiras reações da mulher é o choque, por não entender ao certo o que está acontecendo com seu corpo e o porquê daquela mudança”.

Os escapes são comuns principalmente durante a gravidez pela pressão intra-abdominal, com o crescimento do útero para o desenvolvimento do feto. Muitas mulheres podem também desenvolver a incontinência urinária após a gestação em função das alterações no assoalho pélvico, músculo que sustenta a bexiga e controla os esfíncteres, levando a perda involuntária de urina. “Mas a condição pode ser controlada com o acompanhamento de especialistas”, destaca Dr Rebeca.

Fatores que levam à incontinência urinária

Uma série de fatores podem levar à incontinência urinária, como também o fato de beber pouca água, obesidade, problemas metabólicos, sedentarismo ou até mesmo casos de atividade física de alto impacto em excesso. Para os homens, outros dois fatores podem ser acrescidos: o aumento da próstata (hiperplasia prostática benigna), que pode causar incômodos na bexiga, aumentando a vontade de urinar com mais frequência, e o câncer de próstata que, dependendo do tipo de tratamento, pode ter como efeito colateral a incontinência urinária.

De modo geral, a incontinência urinária pode ser temporária, causada por substâncias que aumentam a quantidade da urina na bexiga, ou por algum problema de saúde passageiro. Pode ser persistente, quando provocada por condições físicas e até neurológicas, como mal de Parkinson, tumor cerebral, acidente vascular cerebral, lesão na coluna vertebral, o que pode ocasionar a incontinência urinária duradoura.

“Quando o foco do tratamento é a própria incontinência, o médico pode indicar fisioterapia, medicamentos ou cirurgia. Mas alguma outra doença adjacente pode originar a incontinência urinária, como a obesidade. Neste caso, o tratamento implicará na perda de peso, por exemplo”, diz o urologista.

Efeitos colaterais

Diabetes, insuficiência cardíaca, distúrbios cognitivos, doença pulmonar obstrutiva crônica e distúrbios do sono (apneia do sono) podem desencadear a incontinência urinária. A disfunção também pode ser um efeito colateral de determinados tipos de tratamento do câncer de próstata.

“Por si só, o diagnóstico do câncer de próstata não pode ser menosprezado quanto aos seus reflexos emocionais, psicológicos e sociais. E tão prejudicial quanto são os efeitos colaterais causados por alguns tratamentos que agravam a qualidade de vida do paciente, o que pode incluir tanto incontinência urinária quanto disfunção erétil”, destaca o médico Marcelo Bendhack.

Segundo tumor não cutâneo mais comum e a terceira principal causa de morte em homens, o câncer de próstata é cada vez mais identificável precocemente, tratável e apresenta bons prognósticos, com elevados índices de sobrevida. O aumento da incidência da doença em todo mundo tem algumas variáveis, como o avanço nos programas de prevenção, informação, evolução dos métodos diagnósticos, novas tecnologias e o aumento na expectativa de vida – também por isso vem sendo considerado como o câncer da terceira idade, uma vez que acomete mais homens na faixa dos 65 anos.

A relação incontinência urinária e tratamento do câncer de próstata está bem estabelecida na literatura médica. É o caso da prostatectomia radical, método cirúrgico indicado quando a doença está localmente avançada e apresenta risco mais elevado. Embora não seja uma condição determinante, este tipo de tratamento pode causar efeitos colaterais significativos, como disfunção erétil e incontinência urinária.

Na radioterapia, por sua vez, a influência da energia radioativa sobre o DNA da célula evita o crescimento ou a divisão das células cancerosas. Porém, a radiação tem a capacidade de exercer seus efeitos por onde passa, prejudicando alguns tecidos que encontra em seu trajeto e, a longo prazo, pode causar disfunção erétil, problemas urinários e intestinais, maior frequência urinária, dificuldade para urinar, sangue na urina, sangue nas fezes ou incontinência.

O urologista explica que algumas técnicas minimamente invasivas, como o ultrassom focalizado de alta intensidade, conhecido como HIFU, podem reduzir os efeitos colaterais. Esta técnica, por exemplo, não requer introdução de instrumentos, agulhas ou sementes radioativas, e as complicações cardiovasculares são praticamente inexistentes. Com o HIFU, os índices de efeitos colaterais são de 0 a 2% para incontinência urinária e de 5 a 26% para disfunção erétil.

Prevenção, sintomas e tratamentos

Geralmente, a prevenção da incontinência urinária envolve atitudes e cuidados cotidianos simples, como beber bastante água, não segurar a urina por tempo prolongado, manter a higiene íntima correta, urinar logo depois da relação sexual para eliminar bactérias que possam ter entrado durante o ato, não fumar, ter alimentação adequada e reduzir o consumo de álcool.

Os sintomas iniciais da incontinência urinária podem ser percebidos precocemente, como pelo odor de urina nas roupas íntimas ou pela presença de umidade (líquidos) nas mesmas. Outras manifestações menos diretas podem incluir aumento excessivo da frequência urinária e alterações no fluxo urinário (jatos mais fracos ou dificuldade em manter um fluxo constante) e necessidade excessiva de urinar durante à noite.

A fisioterapia é uma das formas de tratamento da incontinência urinária. Conforme o diagnóstico, o médico pode receitar ainda um calmante para a bexiga. Alguns pacientes, os quais não respondem bem aos medicamentos, a uma adaptação do comportamento ou à fisioterapia, podem requerer a introdução de um esfíncter artificial para auxiliar na contenção da urina e no adequado esvaziamento da bexiga.

Quando os métodos conservadores de tratamento não melhoram os sintomas e/ou em casos mais graves, outras cirurgias podem ser indicadas, passando por procedimentos que recuperam a função e/ou anatomia, como a reconstrução da bexiga e da uretra, assim como a desobstrução da próstata.

Com Assessorias

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