Síndrome do Pensamento Acelerado: uma nova epidemia

Excesso de informações, de compromissos, de trabalho e de preocupação podem potencializar a síndrome do pensamento acelerado. Entenda

Estudos do campo da saúde mental revelam que cerca de 70% da população mundial tenham a síndrome do pensamento acelerado (Imagem: Pixabay)
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Por Andrea Ladislau*

Quando se fala em Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA), em uma primeira análise, imaginamos um indivíduo super agitado, elétrico e com raciocínio extremamente rápido. Mas não é bem assim. Essa síndrome é produzida por uma megaconstrução de pensamentos, numa velocidade tão alta que acaba por estressar e desgastar o cérebro. Na verdade, tem a ver com a intensidade e volumetria de pensamentos e ideias. É, portanto, a aceleração do pensamento aumentando a ansiedade e o desgaste da saúde física e mental.

A SPA atinge crianças, adolescentes e adultos do mundo todo de forma “epidêmica”, visto que as informações têm girado muito rapidamente, sem permitir que se possa ter um gerenciamento adequado do que conseguimos e podemos consumir, para saber o que fazer com tudo o que nos é ofertado quase que minuto a minuto. Inevitavelmente, esse ansiedade toma conta dos sentimentos, tornando cada vez mais difícil ter um autocontrole.

Estudos do campo da saúde mental revelam que cerca de 70% da população mundial sejam portadores dessa síndrome. As causas para isso acontecer são o excesso de informações, de atividades, de trabalho intelectual, de cobranças, de uso de celulares e tecnologia e outros. Atualmente, a síndrome é muito decorrente do momento que vivemos, onde temos uma elevação absurda do consumo de informações frente ao ciclo pandêmico que provocou uma enxurrada de atualizações e notícias, potencializadas por medo, estresse e angústia.

Sem dúvidas, podemos concluir que esse índice possa ter sofrido uma alteração ainda maior, visto que todos esses fatores juntos favorecerem a atuação mental do desconforto, por provocarem um terreno fértil e propício para o desenvolvimento da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA).Porém, o Pensamento Acelerado sofre com classificações errôneas voltadas para o nível de inteligência que se acredita que um indivíduo possa vir a ter. Mas esse apontamento não reflete a realidade. Biologicamente falando, um paciente afetado pela SPA tende a sofrer com a saturação do córtex cerebral que, em resposta, irá produzir uma mente mais agitada e hiperativa do que o normal.

Além disso, se buscarmos um aspecto positivo da síndrome, encontramos evidências que demonstram que a ativação de decisões mais espontâneas, baseadas em intuições que favoreçam o chamado “pensamento lento”, auxiliam o processo de desaceleração e promovem a capacidade do indivíduo de viver motivado por um melhor gerenciamento de suas emoções e sentimentos. Ou seja, ações rápidas, instintivas e emocionais também são válidas e muito bem-vindas.

A Síndrome do Pensamento Acelerado

A Síndrome do Pensamento Acelerado é abrangente, contínua e “contagiante”, pois caracteriza-se por vários sintomas. Entre eles, destacamos o pensamento acelerado, a fadiga excessiva, dificuldades em contemplar detalhes e pequenos estímulos da vida rotineira, flutuação do humor, dificuldades para se concentrar, aparecimento de pequenos lapsos de memória de forma frequente, insônias, irritabilidade e elevação da ansiedade.

Por não conseguir desligar a mente e apresentar dificuldade em desacelerar o pensamento, a pessoa frequentemente sofre por antecipação. Outra caraterística básica da SPA é o cansaço físico exagerado e inexplicável. Isso porque os portadores dessa síndrome, ao pensarem demais, tendem a roubar energia do córtex cerebral, que é a camada mais evoluída do cérebro, uma energia que deveria ser utilizada nos órgãos do corpo. Mas como isso não acontece, o organismo responde com a fadiga em excesso.

É comum relatos de cefaleias intensas e dores musculares constantes associadas à Síndrome do Pensamento Acelerado. Além disso, os portadores desse problema demonstram um tipo de comportamento em que perdem o prazer com muita facilidade. Podem lutar muito para conquistarem algo, mas ao conseguir demonstram desânimo e falta de motivação. Ou seja, para alimentar sua satisfação estão sempre em busca de novos estímulos e são verdadeiros inimigos da rotina.

Resumindo: uma pessoa que convive com essa síndrome se sente “sufocada” de informações, perdida, confusa, com grande necessidade de resolver todos os problemas de imediato, atolada em tarefas, compromissos e assim por diante. Portanto, desacelerar o pensamento é extremamente benéfico para promover a melhoria da saúde mental e favorecer o controle emocional. Em muitos casos, essa desaceleração facilita a diminuição de psicoses e reduzem os níveis de paranoias em pacientes que desenvolvem tais sintomas.

Excesso de informações, de compromissos, de trabalho e de preocupação podem potencializar a síndrome do pensamento acelerado (Banco de Imagens)

Como tratar a Síndrome do Pensamento Acelerado

O tratamento para a síndrome passa por sessões de terapias com profissional adequado, além da adaptação de novos hábitos no estilo de vida. Importante incluir pausas ao longo do dia, fazer exercícios físicos e realizar atividades que lhe tragam prazer e não exijam tanto do cérebro. Modifique seu comportamento e muito cuidado com a quantidade das informações que se acumulam em sua mente. Afinal, a mente não pode ser transformada em um simples depósito.

Por fim, é preciso estar atento para o estilo de vida que se leva. Apesar da aceleração da vida, não podemos acelerar a mente de forma nociva a ponto de comprometer a saúde mental. Sofrer por antecipação é o primeiro sinal de que algo está errado. Praticar um detox emocional e reduzir a exposição da mente às redes sociais é um ótimo exercício a se praticar para evitar o comprometimento do organismo.

Além disso, falar e expor sentimentos, valorizar os detalhes e desacelerar a vida também ajuda a reduzir o estresse e controlar a emissão de pensamentos tendenciosos. Pensar devagar e de forma mais cautelosa contribui no domínio da arte de tomada de decisões e no desenvolvimento de capacidades essenciais, como criatividade, inovação, reflexão e persistência.

Reservar um tempo para desacelerar o pensamento traz ganhos e benefícios importantes para a saúde do corpo e da mente. Portanto, através de novas atitudes e novos hábitos, o portador da síndrome pode, com maior facilidade, reconhecer suas emoções e promover uma melhor qualidade de vida.

Andrea Ladislau é doutora em Psicanálise (Foto: Divulgação)

*Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro. Colabora para a seção Palavra de Especialista toda última quarta-feira do mês. Dúvidas e sugestões para palavradeespecialista@vidaeacao.com.br.

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