Além das telas: 8 dicas para seu filho ‘desmamar’ do digital

Danielle Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência, chama a atenção para aumento na dependência digital na pandemia e como reduzir uso

Crianças iniciam dependência digital ainda quando bebês (Imagem de Mirko Sajkov por Pixabay)
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Um estudo realizado por uma companhia de tecnologia infantil SuperAwesome concluiu que crianças de 6 a 12 anos nos Estados Unidos estão passando ao menos 50% do seu tempo mexendo em telas diariamente durante a quarentena. A discussão sobre o tempo de utilização de celulares, tablets, computadores e TVs já existia. Na pandemia, a preocupação se intensificou, até porque muitos ficaram dependentes das telas para os estudos.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda limitar o uso de telas para crianças entre 2 a 5 anos em uma hora por dia; entre 6 e 10 anos, são recomendadas duas horas. E, para os mais velhos, a recomendação é de três horas diárias. Uma rotina que extrapole esses limites pode ser a porta de entrada para a dependência em eletrônicos, mal que atinge cerca de 65% das crianças do mundo todo.

Não à toa, este excesso, somado ao estresse do momento atual, tem causado diversos tipos de transtornos. Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), baseada em respostas de cerca de 7.000 pais de crianças e adolescentes dos 5 aos 17 anos, mostra que 27% das pessoas dessa faixa etária apresentam sintomas de ansiedade ou depressão em nível clínico na pandemia, ou seja, com necessidade de avaliação profissional.

De fato, identificamos muitos pacientes, especialmente crianças, que nunca tiveram nenhum tipo de transtorno e passaram a apresentar quadros ansiosos ou até depressivos. Quem já era acometido por algum transtorno, teve uma piora significativa.

Como estimular a capacidade imaginativa das crianças

Ainda que o uso excessivo do meio digital possa causar prejuízos à saúde mental, ele se tornou, durante a quarentena, uma forma de entretenimento e de saciar a necessidade de estímulos. O cérebro humano foi desenhado para buscar uma estimulação constante. No entanto, para a criança, isso tem um custo alto, pois quando essa superestimulação é tirada, o cérebro dela não descansa e segue pedindo a continuação da estimulação.

Assim que desliga a tela, a criança olha ao redor e não encontra nada compatível à torrente sensorial que os eletrônicos podem proporcionar. Para piorar, muitos pais incentivam o uso das telas para evitar que os filhos fiquem entediados e, consequentemente, agitados, como se os eletrônicos fossem os únicos meios de despertar a atenção.

Em meio ao caos que estamos vivendo, a correria e impaciência fizeram muitas famílias esquecerem que há várias outras maneiras de estimular a criança, e de forma mais saudável, tanto para a mente como para o corpo. É preciso fazer o “desmame das telas”. Para isso, dicas não faltam. Confira algumas delas:

– Deixe a criança entediada. Permita que ela mesma busque a estimulação que seu cérebro precisa. Se notar dificuldade, invente uma atividade com ela. Aos poucos, vá deixando que ela brinque sozinha, evitando criar uma dependência da sua presença.

– Motive seu filho a brincar com algo que não tenha pilhas ou baterias. Vale presentear a criança com um brinquedo novo. Se ela quiser escolher, incentive jogos de construção, massinha de modelar, pinturas, quebra-cabeça com o tema do seu personagem favorito ou até brinquedos artesanais.

– Proponha desafios, como reorganizar seus brinquedos. Peça para seu filho escolher algo que não lhe interesse mais e sugira doar para alguma criança na rua ou para uma instituição. Só vale se seu filho participar deste ato. Será uma excelente oportunidade de ensina-lo a exercer a solidariedade.

– Aposte nos livros. A leitura, que auxilia no desenvolvimento cognitivo, socioemocional e cultural, deve ser introduzida junto com os demais brinquedos como mais um objeto de prazer e de exploração do mundo.

– Caso seu filho não demonstre entusiasmo pelos livros, leia com ele. Além de ser uma oportunidade de estarem juntos, você pode ajudar a criança a desenvolver linguagem, compreensão, imaginação, criatividade, entre outras habilidades que a leitura pode proporcionar.

– Demonstre interesse pelas atividades de seu filho. Pergunte o que ele está fazendo, como está fazendo e se disponha a ajuda-lo no que for preciso. Além disso, elogie suas evoluções.

– Crie uma tabela que estipule o tempo dedicado aos eletrônicos. Coloque metas e seja firme. Não deve haver exceções.

– Não esqueça de dar o exemplo. Evite ao máximo usar o celular quando estiver com seu filho.

Vale lembrar que é possível que algumas crianças não respondam bem à retirada ou redução das horas de uso das telas. Daí a importância de ter paciência e firmeza, não deixando se levar por manhas ou chantagens.

Na realidade, será a intensidade e frequência de protesto por parte da criança que mostrará o quanto essa intervenção é necessária. O mais importante é que este processo seja natural e que a criança perceba que as mudanças propostas são positivas. Se for preciso, não hesite em buscar ajuda de um especialista.

Danielle Herszenhorn Admoni

Danielle Admoni, psiquiatra, especializada em Infância e Adolescência (Foto: Divulgação)

Graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com residência em Psiquiatria Geral e Psiquiatria da Infância e Adolescência pela Escola Paulista de Medicina da Unifesp e título de especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Atuou no CAPS Juventude e vários ambulatórios de Psiquiatria e Neurologia da Unifesp, sempre relacionados à infância e adolescência. É médica concursada desde 2004 na Unifesp, atualmente lotada no Ambulatório de Adolescentes e no Núcleo Trans Unifesp como preceptora de residência.

Danielle colabora para a seção ‘Palavra de Especialista’ uma vez por mês, sempre às quartas-feiras.

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