Como conversar sobre a guerra na Ucrânia com as crianças

“Ignorar ou esconder nunca é a melhor saída”, diz psicóloga ao analisar impacto mental da guerra na Ucrânia sobre crianças

Diálogo pode ser feito com crianças de todas as faixas etárias sobre o conflito no Leste Europeu (Foto: Timothy Fadek/CNN)
Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Em menos de um mês, mais de um milhão de crianças ucranianas já abandonaram a escola, deixaram suas casas e fugiram para outros países, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O conflito na Ucrânia – e o risco iminente de uma terceira guerra mundial – tem atormentado muitas pessoas, de todas as idades, em um mundo cada vez mais globalizado.
Entretanto, sobre as crianças, as imagens e notícias sobre ataques praticados pela Rússia em território ucraniano, inclusive sobre escolas e maternidades, o impacto pode ser ainda mais negativo se não for bem trabalhado na família ou, até mesmo, com ajuda de um bom profissional, quando necessário.
Neste Dia Mundial da Infância (21 de março), ViDA & Ação traz o artigo da psicóloga Bruna Richter, sobre a importância de se dialogar om as crianças, mesmo sobre temas polêmicos, como a guerra.  Saiba quando – e como – abordar o tema ‘guerra’ com os menores!

Crianças, guerra e o tão necessário diálogo

Por Bruna Richter*

As crianças são muito mais inteligentes do que costumamos culturalmente supor. Em épocas não tão distantes, elas não eram sequer consideradas. Sua opinião não era levada em consideração nem tampouco seus sentimentos. Os assuntos eram discutidos pelos adultos e às crianças cabia a função – e a diretriz – de seguir passivamente pela vida, atendo-se apenas às conversas a elas direcionadas.

Atualmente, temos mais acesso ao conhecimento. Compreendemos com bastante clareza a importância da infância na estruturação do psiquismo e nos seus desdobramentos. Centenas de milhares de estudos são produzidos, em relação a essa faixa etária e a sua capacidade de absorção de informações. Elas chegam a ser comparadas com esponjas tamanha sua absorção e captam elementos inclusive que nem precisam ser verbalizados.

Isso significa que ainda que as tentemos privar ou poupar de algum modo da realidade, algo de irregular se deixa mostrar. E essa estranheza percebida por elas, quando não confirmada, pode ser, inclusive, bastante prejudicial. De algum modo, os sinais que lhes são passados resultam na ideia de que aquilo que sentem ou entendem não é verdadeiro ou legítimo. E inegavelmente, desse modo, invalidamos suas percepções.

Ignorar ou esconder nunca é a melhor saída. Diante do cenário atual, uma conversa franca, permeada de esperança futura e transmitida com segurança pode fazer a diferença na compreensão do tema. Em um momento onde o acesso às notícias é tão veloz e abrangente, faz-se imperativo que sejamos verdadeiros com os pequenos. Isso é um sinal não apenas de
empatia, mas também, de respeito.

Portanto, é urgente que falemos com as crianças. E isso inclui até mesmo assuntos áridos como a guerra. Claramente, precisamos fazê-lo com uma linguagem adequada e de acordo com as próprias demandas que delas emerjam. E é necessário, principalmente, ao fazer isso que sejamos acolhedores. Quaisquer afetos ou dúvidas que surjam devem ser validados. Dessa forma, o cuidado com sua saúde mental continua preservado.

*Bruna Richter é psicóloga graduada pelo IBMR e Bióloga graduada pela UFRJ. Possui pós-graduação em Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela PUC-Rio. Também é formada em Artes Cênicas pelo SATED do Rio Janeiro, atuando como voluntária do Grupo Grão, voltado a pessoas socialmente vulneráveis. É autora da trilogia de livros infantis “A noite de Nina – Sobre a solidão”, “A música de dentro – Sobre a tristeza” e “A dúvida de Luca – Sobre o medo”.

Sobre o Dia Mundial da Infância

A psicóloga Bruna Richter autora de livros infantis, fala sobre impactos da guerra da Ucrânia entre crianças (Foto: Divulgação)

O Dia Mundial da Infância (21 de março) foi criado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e tem como objetivo promover uma reflexão a respeito das condições de vida das crianças no mundo todo e lutar pelos direitos fundamentais das crianças para que elas se tornem grandes cidadãs e pessoas no futuro.

Além disso, a data nos lembra de que todas as crianças devem ter direito de liberdade, direito de viver com dignidade em um ambiente saudável, em uma família e pertencer a uma sociedade. A infância é a primeira fase da vida e ela tem um impacto enorme no desenvolvimento da criança. O primeiro ano de vida é crucial para um desenvolvimento saudável do ser humano.

Leia mais sobre o tema também na CNN Brasil

Leia também

Como combater os vilões da saúde mental entre crianças e adolescentes?
Como observar e cuidar da saúde mental das crianças nas férias
Pandemia põe à prova fragilidade da saúde mental dos jovens
Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

You may like

In the news
Leia Mais
× Fale com o ViDA!