Pessoas com Síndrome de Asperger têm inteligência bem acima da média

Especialista tira as principais dúvidas sobre esse tipo de autismo moderado que não afeta a fala e o sistema cognitivo

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Cerca de 1% da população mundial tem algum tipo de Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo dados do Center of Diseases Control and Prevention (CDC), um dos maiores Departamentos de Saúde dos Estados Unidos. No Brasil, não tem estudos de prevalência de autismo, portanto, não há números oficiais.

Uma a cada 59 crianças em todo o mundo tem a Síndrome de Asperger, transtorno neurobiológico considerado um subtipo do TEA, apontam dados de 2018, divulgados pelo órgão americano. Essa condição é reconhecida como um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) e nível 1 do TEA, ou seja, um quadro mais brando do autismo, sem comprometimento de linguagem ou de inteligência. Os portadores apresentam dificuldades de socialização e de relação com os demais, além de mostrarem apego às rotinas.

O que poucas pessoas sabem é que pessoas com a Síndrome de Asperger podem ter uma inteligência acima da média. Isso mesmo. Pessoas com essa condição têm a capacidade de dominar as áreas de conhecimento em que se especializam, têm interesses intensos e são altamente focados. E esse é um dos motivos que as levam ao sucesso profissional. É o caso do Lionel Messi, jogador de futebol; Michael Phelps, nadador profissional; Van Gogh, pintor; Greta Thunberg, ativista líder no movimento contra as mudanças climáticas, entre outros.

Geralmente, as pessoas acometidas pelo transtorno possuem inteligência na média ou acima da média”, destaca Josianne Martins, médica psiquiatra e tesoureira da Associação Psiquiátrica de Brasília, a APBr.

Segundo o neurologista infantil Clay Brites, médico convidado da Prati-Donaduzzi, a Síndrome de Asperger é considerada mais leve e discreta, apresenta fala comunicativa, diferente do quadro de intensidade do autismo, que possui dificuldades ao conversar.

A linguagem, em geral, está bem preservada, os pacientes possuem o nível intelectual acima da média e com habilidades, muitas vezes, mais altas quando comparado à população geral. São “pequenos cientistas” com perfis de verdadeiros “professores””, afirma o especialista.

Edmundo Clairefont Dias Maia, psiquiatra do Hospital HSANP, afirma que obter o diagnóstico o quanto antes e ter o acompanhamento médico é fundamental para que a criança consiga levar a vida da melhor forma possível. “O acompanhamento médico e dos outros profissionais da saúde auxilia no desenvolvimento da criança, dando mais autonomia a ela. Os resultados são perceptíveis na socialização, compreensão e interação social”.

De acordo com Tathyana Salgado Morais Dias, psicóloga do Centro Médico Trasmontano, “os indivíduos considerados leves ou autistas de auto funcionamento podem ser muito bons em guardar lugares e direções, memorizar fatos e cores, porém, têm um prejuízo enorme em seus relacionamentos sociais. E é justamente este prejuízo que leva ao isolamento da criança ou portador”.

Por isso, um ponto muito importante é que, aos primeiros sinais de isolamento e dificuldade de relacionamento social, a criança ou portador seja encaminhado para uma consulta com um profissional adequado, geralmente, psicólogos ou neuropsicólogos. Dessa forma, será possível identificar um tratamento adequado.

Nesta quinta-feira, 18 de fevereiro, é lembrado o Dia Internacional da Síndrome de Asperger. A data foi escolhida em homenagem ao aniversário de Hans Asperger, pediatra austríaco que descreveu a síndrome pela primeira vez em 1944. O objetivo é conscientizar a sociedade a respeito dessa condição, que provoca os mesmos sintomas do autismo clássico, mas em uma escala menor. 

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Volta às aulas: como adaptar a nova rotina

Depois de quase um ano do início da pandemia de Covid-19, os estados brasileiros têm autorizado gradativamente o retorno às aulas escolares para crianças e adolescentes do ensino municipal, estadual e particular. Isso é um ponto que requer atenção, principalmente, para os portadores deste transtorno do neurodesenvolvimento.

Desta maneira, algumas recomendações podem ajudar: 

Descobrir um método ideal de comunicação com o indivíduo que tem TEA – isso poderá facilitar o entendimento de seus sentimentos, dificuldades e questões em torno da vivência social. 

Manter uma agenda de atividades constante e organizada, pois alguns indivíduos com TEA têm dificuldades de lidar com mudanças pequenas ou grandes, constantes ou repentinas. Uma rotina organizada pode proporcionar uma qualidade de vida melhor. 

Procurar sempre um tratamento médico individualizado e adequado – isso poderá ajudar no desenvolvimento psicossocial do portador, melhorando – no que for possível – suas condições de vivência social e autonomia, possibilitando qualidade de vida para si próprio e para a comunidade.

Saiba mais sobre a síndrome

A Síndrome de Asperger (SA) foi denominada de “psicopatia autística” e marcada pelo isolamento social. Apesar de apresentarem comunicação verbal preservada e não ser identificado déficit cognitivo, as crianças atendidas pelo pediatra Hans Asperger apresentavam empobrecimento nítido na comunicação não-verbal, empatia e uma linguagem extremamente formal.

A SA foi reconhecida apenas em 1989, com sua classificação inclusa na CID 10 e DSM-IV. Após a reformulação do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM-5), a diferenciação entre Autismo e Síndrome de Asperger caiu em desuso. Com isso, o TEA ficou conhecido como um transtorno do neuro-desenvolvimento que abrange diferentes condições marcadas por três principais características: 

  1. dificuldade de socialização
  2. padrão de comportamento restritivo e repetitivo (alterações comportamentais como manias, ações repetitivas, apego excessivo a rotinas, interesse intenso em coisas específicas)
  3. dificuldade na comunicação verbal e não-verbal por deficiência no domínio da linguagem e no uso da imaginação para lidar com jogos simbólicos. 

Os TEA reúnem desordens do desenvolvimento neurológico presentes desde o nascimento ou começo da infância, são definidos por um conjunto de comportamentos que variam em grau e gravidade. As diferenças estão no grau de apoio que o indivíduo necessita do meio, variando entre leve, moderado e grave.

Portadores da síndrome ouvem, enxergam e percebem o mundo de forma diferente de outras pessoas, pois costumam processar detalhes adicionais ao seu redor, principalmente, com os sentidos, fazendo com que sons, cheiros, cores e sentimentos pareçam mais brilhantes, fortes e intensos.

No caso dos adultos com o transtorno, eles têm preferência por um assunto específico e possuem dificuldades em perceber e entender o que o outro está sentindo no mesmo ambiente, por exemplo.

Josianne Martins, médica psiquiatra da Associação Psiquiátrica de Brasília – APBr (Foto: Divulgação)

Tire suas dúvidas

Isolamento social favorece surgimento da síndrome?


De acordo com a Dra Josiane, assim como qualquer outro diagnóstico dentro do TEA, é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, a pessoa já nasce com ele, porém os sintomas se manifestam na medida em que a criança se desenvolve e se expõe às exigências sociais. Portanto, por não depender de fatores externos, a pandemia não aumentou o número de pessoas com o diagnóstico.

O fato de ficar isolado em casa, com pouco ou nenhum contato social e uso exagerado de eletrônicos pode levar algumas crianças com Síndrome de Asperger a uma regressão nas suas habilidades sociais já adquiridas”, comenta. Ela conclui: “por outro lado, por não estarem expostas às interações sociais, o isolamento pode ser uma situação mais cômoda e conveniente para elas, reduzindo o estresse e a ansiedade que as exigências sociais porventura causam”.

Qual a diferença em relação ao autismo?

A causa exata da Síndrome de Asperger – ou autismo de alto funcionamento – é desconhecida. Contudo, estudos apontam que é possível existir a combinação de fatores genéticos e ambientais, que criam um cenário para que a condição se desenvolva.  O TEA engloba, além da Síndrome de Asperger, outros transtornos.

Segundo Dr Clay, o autismo e a Síndrome de Asperger são parecidas. A diferença está na sua capacidade funcional. Quem é portador da síndrome dispõe de maiores possibilidades de adaptação funcional. Além disso, é possível diferenciar no modo como eles se expressam ou se comunicam e pelo grau de dependência.

Eles são caracterizados por déficits na comunicação e interação social, padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses e atividades, que variam de intensidade, gerando prejuízos leves ou graves para a pessoa acometida”, pontua a Dra Josiane. Segundo ela, o que difere a Síndrome de Asperger dos outros tipos de autismo é a ausência de atrasos, tanto na aquisição da fala, quanto no desenvolvimento cognitivo.

É possível definir uma causa?

Conforme Dra Josianne não há ainda uma causa definida, porém se sabe que fatores genéticos são fundamentais associados a condições da gestação e do parto, como idade avançada dos pais, uso de algumas medicações ou substâncias e baixo peso ao nascer.

“A criança que apresenta algum comportamento ou sintoma divergente da sua fase de desenvolvimento deve ser avaliada o mais precocemente possível por um médico psiquiatra e/ou neurologista”, afirma. Ela continua: “quanto mais cedo os estímulos forem direcionados para as áreas deficitárias da criança maior a possibilidade dela se desenvolver e ter uma vida normal na fase adulta”.

Quais são os principais sintomas?

As características e sintomas variam de acordo com cada paciente. No entanto, é importante observar, como já dito acima, alguns sinais como dificuldades em socialização, comunicação social e padrões restritos e repetitivos de comportamentos, atividades ou interesses desde a primeira infância.

Os sintomas podem surgir já na primeira infância e persistem durante a vida adulta. Cada caso do quadro possui as suas individualidades, podendo variar a intensidade dos sintomas de uma criança para outra.

O neurologista destaca os sintomas mais comuns de espectro autistas, que podem ser fáceis de identificação, entre eles: sem emoções na fala, jeito robótico de se expressar, pouco contato visual, preferem ficar isolados no quarto com seus afazeres preferidos.

Além disso, costumam ter uma sinceridade sem filtro social e imaturidade, que está ligada a pouca habilidade para perceber intencionalidades ou sentimentos dos que estão a sua volta.

Para ajudá-los é essencial estabelecer uma rotina fixa, pois as mudanças podem não ser tão bem-vindas por eles – deixando tudo mais confuso. Nesse sentido, quem vive com alguém que nasce com a condição deve entender e respeitar o seu modo de pensar, agir, sentir e se manifestar socialmente.

Mas como ele se manifesta? De acordo com a médica, há basicamente dois pilares de sintomas: Déficits persistentes na comunicação e interação social, que pode se apresentar por prejuízo na empatia (dificuldade de se colocar no lugar do outro), falta de interesse pelas interações, dificuldade de estabelecer uma conversa normal, de compartilhar interesses, emoções ou afeto, manter o contato visual e de interpretar ironias ou metáforas.

Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, que pode se manifestar por estereotipia motora (movimentos repetitivos e sem um objetivo claro, como balançar as mãos e o tronco, alinhar brinquedos ou girar objetos), ecolalia (repetição de palavras ou frases sem contexto e sem a intenção de se comunicar), apego a rotinas, inflexibilidade com regras, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir sempre mesmos alimentos, interesses fixos e restritos por determinados assuntos ou objetos, hipersensibilidade ao som, vivência incomum para odores e texturas”, explica Josiane.

Dá para fazer o diagnóstico precoce?

Geralmente, o diagnóstico é realizado por uma equipe disciplinar composta por médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogo e neuropsicólogos. O diagnóstico é feito por meio das características clínicas e comportamentais, aspectos do desenvolvimento infantil, uso de escalas específicas de investigação e screening, além de avaliação com instrumentos de avaliação diagnósticos. 

O médico destaca a importância em entender o significado do resultado positivo para a condição. “A pessoa passa a entender melhor o porquê de ser diferente dos demais e aprende a lidar com suas limitações e desafios no cotidiano”, explica. 

Para que a criança na vida adulta se desenvolva e consiga entrar no mercado de trabalho e começar a sua família, é fundamental a identificação precoce por um especialista, assim, suas habilidades, principalmente as sociais, podem ser desenvolvidas. O diagnóstico cedo pode trazer benefícios, principalmente na questão da qualidade de vida.

“Com esse resultado é possível reconhecer meios e estratégias de como se manifestar no ambiente social. Tratar as comorbidades que mais frequentemente se inserem a ele como a depressão, transtornos de ansiedade e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)”, explica. 

Não tem cura, mas tem tratamento

A Síndrome de Asperger é uma condição e não uma doença, portanto, não há cura específica, assim como outras condições do autismo. Mashá diversos tratamentos e intervenção terapêutica que proporcionam oportunidades para os pacientes de se desenvolverem e terem melhor qualidade de vida. Segundo os especialistas, é possível seguir com tratamentos multidisciplinares, que envolvam tanto estratégias comportamentais, quanto psicoeducacionais e medicamentosas. 

Cada paciente demanda um tipo de tratamento, por isso, quanto mais cedo possível, é muito importante a procura por uma ajuda psicológica adequada. Os dados científicos indicam que a intervenção precoce e intensiva baseada em evidências quando iniciada antes dos três anos de idade diminuem em 70% o diagnóstico de TEA”, afirma Dra Josiane.

Segundo a psiquiatra, o tratamento para a Síndrome de Asperger deve ser individualizado, pois deve focar no estímulo para o desenvolvimento das habilidades que estão mais prejudicadas na pessoa em questão.

Dessa forma, a depender de cada indivíduo, alguns profissionais podem estar envolvidos no tratamento: médico psiquiatra, médico neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo e outros”, pontua a médica.

Ela acrescenta que não há medicação específica para o transtorno, porém, algumas vezes é necessário tratar sintomas ou outros diagnósticos associados, como alterações de comportamento, depressão e ansiedade.

Dra Josianne aponta que geralmente, com o amadurecimento cerebral, os estímulos terapêuticos e a medicação (quando necessária) a tendência é a redução dos sintomas na fase adulta ou já no final da adolescência. Apesar de algumas pessoas apresentarem melhora significativa, algumas características permanecerão e a pessoa sempre será portadora do TEA

Cada autista recebe o tratamento individualizado, de acordo com seu caso e suas necessidades, que muitas vezes inclui o uso de remédio para controlar alguns sintomas, como a agitação ou ansiedade excessiva”, reforça Maia.

O acompanhamento de um psicólogo é essencial e um importante aliado nessa jornada, pois possibilita que a pessoa consiga compreender suas experiências, expor suas angústias e medos, além de ajudar a lidar com as próprias emoções. “o acompanhamento de perto por um psicólogo é fundamental para que ajude a pessoa a aprender habilidades sociais e superar os mais diversos desafios diários sem o medo do julgamento”, finaliza o especialista.

Com Assessorias

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