Ômicron: como lidar com a positividade que ninguém quer?

Na seção Palavra de Especialista, a doutora em Psicanálise Andrea Ladislau fala dos sentimentos de quem é (re)infectado mesmo após a vacina

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

Por Andrea Ladislau*

Após um período de calmaria e de queda considerável, em todo o país, do número de pessoas infectadas pelo vírus da Covid-19, voltamos, após as festas de fim de ano, a nos deparar com uma explosão de casos de testagens positivas para a doença. Assustadoramente, os casos estão se multiplicando, além do aparecimento de contaminações pela gripe infecciosa Influenza. Então, como lidar com a positividade que ninguém quer?

Diante de um resultado positivo para a Covid-19, seja por infecção primária ou mesmo uma reinfecção, é natural que a pessoa entre em um processo de confusão mental e depressão, motivado pelo medo, pela insegurança e pela instabilidade ocasionados por dimensões incertas do vírus. Isso poderá provocar sentimentos e reações que configurem alterações psicológicas que, se não tratadas desde o início, certamente, levarão esse indivíduo a desenvolver neuroses e traumas irreversíveis, agravando seu estado físico e mental.

A grande expectativa para quem testa positivo é de que a manifestação da doença não venha abastada por situações mais graves ou críticas. Que desperte apenas a forma branda da doença e, principalmente, que seja descartada a necessidade de isolamento em um Centro de Tratamento Intensivo (CTI), com riscos de intubação traqueal, seguindo um tratamento de linha de frente aplicado nos hospitais.

Além disso, fortalece o desejo de que, expressões habituais mais observadas nos pacientes positivados, como o desespero, medo exagerado, transtornos de ansiedade generalizada e as sensações de pânico, sejam eliminados e não entrem em cena. Porém, a necessidade em seguir as orientações de isolamento total de parentes e das pessoas que se ama, provoca o desafio em tentar manter uma saúde mental equilibrada, já que a demanda por um esforço psicológico tende a ser maior que o esforço físico.

A experiência do isolamento após a positividade

A experiência de ondas de surtos de Covid-19, vivenciada há meses, nos mostra que permanecer isolado dentro de casa não é muito agradável e tem-se demonstrado como um grande contratempo para os já diagnosticados com distúrbios de ansiedade ou transtornos de pânico.

A situação pode se agravar ainda mais ao ser recomendado o isolamento em unidade hospitalar, pois o paciente, para inibir o lastro de contaminação, passa a ficar longe da família, privado de visitas e, em alguns casos, até fora de seu ambiente natural. Isso tende a elevar a tensão e o medo que, consequentemente, irão contribuir para um diagnóstico de desequilíbrio mental e depressivo. 

A testagem positiva (principalmente pela segunda ou até mesmo terceira vez), mesmo em pessoas já imunizadas pelas vacinas, também faz com que, por insegurança ou vergonha, alguns pacientes evitem comunicar o resultado do exame aos seus contatos. Com isso, acabam isolando-se de todos e esquivando-se das manifestações virtuais de vídeo-chamadas ou telefonemas que ajudam a aproximar os amigos e a diminuir a solidão e a sensação de abandono.

Tais sentimentos são muito devastadores, mesmo que por um período menor que anteriormente. Afinal, conforme especialistas médicos, não é mais necessário isolar-se por 14 dias. Os isolamentos, em função de uma menor gravidade dos casos, fruto da imunização, foram reduzidos para 7 dias. 

Dicas para manter o equilíbrio em tempos de ômicron

Diante desses novos sentimentos e percepções, é primordial manter a calma, controlar a ansiedade e cuidar da saúde mental, por mais assustador que possa ser, descobrir-se infectado ou reinfectado pelo coronavírus. Tentar ficar tranquilo será de fundamental importância para enfrentar a doença e se recuperar, sem adquirir outros distúrbios ou neuroses psicológicas. 

Não se colocar no papel de vítima ou alimentar pensamentos negativos que farão com que a angústia cresça e contribua para fomentar uma tristeza interior devastadora e fulminante também será de suma importância para atravessar esse período. Lembre-se:  a maior barreira que podemos enfrentar é a de não acreditarmos que a cura é possível.

Manter os pensamentos positivos e ter a certeza de que momentos ruins passam, não se permitindo dominar-se por sentimentos prejudiciais ao equilíbrio físico e mental, sem sombra de dúvidas, é a maior prova de autocontrole do indivíduo. Sendo assim, aproveite a tecnologia para conectar-se com amigos e entes queridos. Transborde emoções e não tenha receio de externar o que sente. De maneira consciente, esvazie-se das angústias e das incertezas naturais que o isolamento provoca.

Se faz imprescindível neste momento refletir positivamente sobre os momentos já vivenciados, em que a superação o ajudou a vencer dificuldades, traumas e processos difíceis ao longo de sua jornada. Ao perceber o quanto amadureceu e cresceu em meio a situações conflituosas e desafiadoras, ficará mais fácil entender que, fortalecendo sua mente e alimentando a energia do enfrentamento, poderá sair vitorioso do processo traumático em que se encontra.

Por fim, no período da confirmação da testagem positiva para o Covid-19 e ao longo do tratamento, cultive a confiança e desenvolva rotinas que elevem seu bem-estar e sua autoestima. Hidrate-se e alimente-se corretamente, seguindo todas as recomendações médicas e não se deixe abater por paranoias e sentimentos depressivos. Cuide de seus pensamentos e valorize suas emoções. Criando uma rotina própria que propicie sensações de prazer e tranquilidade.

Além disso, ao perceber a necessidade, busque ajuda de um profissional de saúde mental. Muitos estão realizando atendimentos virtuais que facilitam a condução dos casos. Assim, você poderá descobrir, mesmo em meio ao caos, que o autocuidado e o controle emocional são extremamente eficazes na eliminação de possíveis terrores e traumas mentais, gerados por um inimigo invisível.

Além de tudo isso, não deixe de completar sua imunização. As vacinas auxiliam na diminuição de casos de infecções mais graves e com sintomas severos. Cuide-se!

*Andrea Ladislau é pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É também graduada em Letras e Administração de Empresas, palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.

Contatos: Instagram: @dra.andrealadislau / Telefone: (21) 96804-9353 (Whatsapp)

Andrea Ladislau colabora para a seção Palavra de Especialista uma vez por mês. Dúvidas e sugestões para palavradeespecialista@vidaeacao.com.br.

Leia mais artigos de Andrea Ladislau

O ano termina, nasce outra vez… e o que você fez ou vai fazer?
O legado emocional e afetivo deixado pela pandemia
Felipe Neto e a Síndrome de Burnout associada à depressão
Borderline: a linha tênue entre a euforia e a depressão
Como o câncer de mama impacta a saúde emocional
Entenda a importância da terapia na prevenção do suicídio
Nomofobia: quando a conexão virtual vira síndrome
Síndrome do Pensamento Acelerado: uma nova epidemia
Cancelamento: que cultura é essa que nos dá autoridade para julgar alguém?

 

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

You may like

In the news
Leia Mais
× Fale com o ViDA!