Oscar da vergonha: a comédia acaba onde começa a dor do outro

Além de violência verbal, física e psicológica, Oscar é marcado por falta de empatia e sensibilidade com a dor do outro, diz psicanalista

Entrega do Oscar 2022 foi marcado por por tapa de Will Smith na cara de Chris Rock (Reprodução de internet)
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Por Andréa Ladislau*

Não se fala em outra coisa nos últimos dias. O tapa na cara recebido pelo comediante Chris Rock entrou para a história da Academia de premiação do Oscar do cinema. O ator Will Smith não gostou nada, nada da piada feita por Chris referindo-se à alopecia, doença que provoca falhas e perdas dos pelos corporais, sofrida por Jana Smith, esposa de Will, no palco da apresentação.

No episódio em questão, os destaques que deram “pinta” no tapete vermelho, foram a violência verbal, física e psicológica. Sem contar, a falta de empatia, de cuidado e de sensibilidade, além da inconveniência ao se brincar com a dor de alguém.

Ultimamente fala-se tanto em empatia (palavrinha vedete da moda), mas acredito que o ser humano ainda precisa praticar muito, muito para ser PHD e autoridade nesta matéria. Afinal, quando a “brincadeirinha” constrange o outro, deixa de ser brincadeira e passa a ser, no mínimo, desrespeito.

Quem perde com esse enredo lamentável? Perde o tradicional espetáculo de premiação do Oscar cinematográfico, que já proporcionou momentos memoráveis para a arte mundial. Perde quem bate e se coloca no lugar de agressor descontrolado ao deixar fluir pelos dedos, ou melhor por um tapa, toda sua razão e seu inconformismo.

Perde a vítima que foi alvo da “chacota” sem graça, por ter sua dor e angústia expostas para o mundo inteiro. Perde quem apanhou e também se expôs, visto que perdeu uma ótima oportunidade de se calar, ser empático e menos agressivo em suas palavras desnecessárias.

Um festival de agressividades

Sem sombra de dúvidas, foi um festival de agressividade. Sem fazer juízo de valores para definir quem está certo ou errado, o episódio escancara a fragilidade do controle emocional, a necessidade de aparecer e se destacar através de piadas sem graça, além do uso indiscriminado e desregulado de mecanismos de impulsividade e reatividade, o famoso “agir com o fígado”.

Ingredientes suficientes para engrossar a lista dos comportamentos inaceitáveis que ferem e personificam a condição de vulnerabilidade e desconforto do outro, dificultando suas relações pessoais.

Enfim, sem julgamentos ou apontamentos (afinal, disso o mundo já está cheio), mas trazendo à tona a importância do autocontrole emocional e da utilização coerente de nosso senso de responsabilidade com atos e palavras, principalmente quando estes podem se tornar armas a ferir o outro, neste momento temos a certeza de que, assim como quem presenciou a cena chocante, a estatueta de 2022 se envergonha do lamentável e desnecessário momento protagonizado naquele palco.

Não vale tudo pela piada. Palavras ofensivas doem e deixam marcas permanentes, assim como os tapas proferidos em momentos de fúria.

*Andrea Ladislau é pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É também graduada em Letras e Administração de Empresas, palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.

Contatos: Instagram: @dra.andrealadislau / Telefone: (21) 96804-9353 (Whatsapp)

Andrea Ladislau colabora para a seção Palavra de Especialista uma vez por mês. Dúvidas e sugestões para palavradeespecialista@vidaeacao.com.br.

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